23 novembro 2012

A Dívida.




Sinopse:
    
Jennifer Santiago morava com o pai, Antonio no subúrbio do Rio de 
Janeiro. Aos 17 anos ela viu seu pai, um pobre professor universitário, 
ser assassinado por criminosos americanos em plena luz do dia. 
E 
para pagar a dívida que seu pai deixara pendente, ela terá que morar 
fora do país e casar-se com o chefe da máfia americana. 
   Anos se 
passam, mas até quando ela vai conseguir conviver com o homem que matou 
seu pai? 


Personagens:
Essa é Jennifer Santiago, 17 anos de idade, 
adolescente brasileira, simples e de bom coração!


Esse é Michael Donavan. 23 anos, milionário 
americano de caráter duvidoso.
Orfão de pai e mãe, logo assume o 
império da família!


                                           Prólogo:
 ... e com minhas próprias mãos, eu o empurrei na parede com toda minha força, gritando e dando socos no seu peito, liberando toda a raiva e o desprezo que eu sentia por aquele assassino, que agora era meu marido! Mas não demorou muito para ele reagir, e num ato ágil ele segurou meu cabelo com força com uma das mãos, e meu rosto com a outra, erguendo minha cabeça me fazendo olhá-lo fixamente: 



           Michael: Agora é minha vez de brincar !

                                                           Cap1. Boa noite, papai! 

   Depois de 6 horas intermináveis de viagem, eu ainda estava lá, enclausurada naquele carro, como se estivéssemos andando em círculos, sem nunca chegar a um destino. 
Eu gritei, reclamei, chorei, e protestei ferozmente, trouxe a tona todo o sofrimento e a angústia que eles estavam me fazendo, mas não era o suficiente para que me libertassem. 
   E então, depois de 2 horas, eu aceitei o meu destino, sem mesmo saber o que seria de mim dali pra frente. 
Eu me encolhia no canto direito do carro, debruçada no vidro fume, escutando somente o ruído da minha respiração, um tanto acelerada. Eu esticava meus olhos ao lado oposto do carro, a fim de olhar para o homem que tornou realidade o pior pesadelo do meu pai. 

   E ele parecia não se preocupar muito, nem com a situação, muito menos com a minha presença. Vestia um terno, e sua postura era ereta, um figurão da alta sociedade americana, pensei. 
              - Eu quero ir pra casa!      
-Exclamei, em alto e bom som.
              - Você está em casa agora, Miss Santiago.
  Eu retomei minha posição inicial, apática, apenas debruçada, encolhida sobre a janela do luxuoso carro, e na minha mente atordoada, rodavam por milhares de vezes a cena que eu acabara de vivenciar. 
Era uma manhã de sábado e eu ia sair para fazer comprar de Natal com o meu pai. Enquanto eu estava em meu quarto, me vestindo, eu escutei um estrondo de arrombo, e logo em seguida, meu pai exaltou a voz. 
Eu corri imediatamente para ver o que acontecia na sala, mas parei atrás da porta, olhando uns homens conversarem com ele. 
     Meu pai parecia confuso, levantava as mãos com freqüência, tremia e pedia calma. 
O sotaque dos homens, me impediam de entender o que eles falavam ,mas meu pai parecia estar acostumado e respondia imediatamente tudo o que lhe era perguntado. 
Passos atrás deles, tinha outro homem, de terno, que olhava as fotos de família que tínhamos na cômoda, observando-as atentamente. 
                - Por favor, me dêem mais um prazo. 
                - O prazo já lhe foi dado, senhor. Ou paga, ou morre!

       Meu coração sentiu um aperto e eu tentei dar um grito, mas levei as mãos à boca, para abafar qualquer tipo de som que pudesse sair. Meu pai estava tremulo, era visível seu medo diante dos dois homens.
               - 3 meses, senhores. Só lhes peço três meses. 

               - E quanto aos outros 6 meses que já lhe demos, sr. Santiago?

     Perguntou o homem que olhava nossas fotos, num forte sotaque americano. Ele caminhou lentamente até meu pai e pediu que os outros homens se afastassem: 

              - Eu vou pagar, eu juro que vou. Por favor, eu peço com a minha vida, me dê mais tempo, eu vou dar todo o dinheiro.
             - Eu acho que tive outra idéia. Um outro tipo de pagamento. 

             - Qual senhor? Pode pedir, qualquer coisa, pode pedir. 

O homem sorriu com o canto dos lábios e apontou para a foto em cima da cômoda. Foto cujo aparecia, eu e meu pai, juntos. 
  E antes que eu meu pai abrisse a boca eu sai correndo dali, voltando para o meu quarto. Peguei minha mochila sem pensar em nada, abri a janela e pulei para fora da casa. 
Eu comecei a correr em direção ao portão da frente, sem parar nem para respirar, sem ao menos saber o que estava acontecendo, ou para onde iria. 

       Mas os gritos do meu pai me fizeram parar e olhar pra trás. 
Ele estava na porta de casa com o tal homem, olhando seus capangas que já vinham correndo atrás de mim: 
                - Foge, Jennifer. Vai embora, minha filha. 

   As lágrimas foram inevitáveis, vendo o desespero do meu pai. E eu me virei novamente, para correr, mas já era tarde. Eles me pegaram, e eu tentei me soltar, os chutava, os mordia, mas foi em vão. 
Eles me levaram de volta para a porta da minha casa e me jogaram no chão. 
   Do lado do meu pai, estava o homem o mandante daquilo tudo, pensei,e eu o implorei:
                - Solta ele, moço. Por favor ,deixa o meu pai. 

  Ele me olhou, ali no chão, como se eu fosse um inseto. Um lixo, pronto pra ser jogado fora. Uma mendiga implorando por comida, ou nesse caso, por piedade. 
Ele se aproximou de mim, parando adiante de mim, e sem perder tempo, eu agarrei as pernas dele, chorando compulsivamente:
              - Solte ele.
  Ele me puxou pelo braço, me erguendo e olhando diretamente nos meus olhos. Os olhos azuis dele penetraram nos meus, e a pressão com que ele segurava meu braço, me fazia chorar mais ainda de dor. 
             - Por favor, senhor. Deixe ele. 
  Ele me olhava fixamente, alternando entre meus olhos e minha boca, tremula e apavorada, implorando por perdão. E enfim ele disse algo, em alto e bom som: 
              - Julian, faça as honras da casa.
   Eu não sabia o que isso queria dizer, mas continuei olhando para ele. Até o barulho que eu tanto temia, se fez valer.                

             - PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI. 
    Eu arranquei do peito, o mais alto e forte grito que eu jamais pensei que poderia ter. Eu puxei meu braço das mãos dele ,e corri até meu pai, caído no chão, sangrando. E enquanto eu corria até ele, gritava, implorava para Deus, ou anjos, ou espíritos, seja lá se existissem, mas para alguém que o ajudasse, que não tirasse a única família que eu tinha, e a pessoa que eu mais amava na vida. 
Eu me joguei ao lado dele, no chão, e peguei a mão dele, firme:

           - Pai, acorda. Vai dar tudo certo, eu to aqui. 
           - Jenn-Jennifer...

           - Não fala nada, pai. Vai ficar tudo bem, eu prometo. 
     Eu sentia o medo tomar conta da minha alma naquele momento, e as lágrimas não eram o suficiente para demonstrar tudo o que eu sentia. 
          - Me descul...desculpa. 
          - NÃO PAI, não vai, abre esse olho pai, fica aqui.
    Eu apertava a mão dele o mais forte que eu podia, e as minhas lágrimas molhavam todo sua roupa. 
          - N-não, se esqueça de fazer... o dever de casa! 
          - Pai, não pai. Pai?? Papai, não faz isso, pai. 
    Eu vi ele fechar os olhos e soltar gradativamente minha mão. Mas antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, um dos homens puxou meu cabelo com força, me levantando e me arrastando pelo chão, até o carro. E eu gritava, eu soltava do meu peito todo o fôlego e toda o ódio que eu tinha naquele momento: 
         - VOCÊ MATOU MEU PAI , ME SOLTA SEU DESGRAÇADO.

  Eu me debatia no chão, e agarrava as mãos deles com a unha, sentindo ele agarrar meu cabelo como se eu fosse uma garota de programa. E quando ele passou por mim, o provável patrão deles, eu não me contive:
         - SEU FILHO DA PUTA, ASSASSINO, VAI PRO INFERNO DESGRAÇADO. EU VOU MATAR VOCÊ, EU JURO, EU VOU MATAR VOCÊ. 

  Ele sorriu, abriu a porta do carro, e o homem me jogou lá dentro. 
Essa cena fervia na minha cabeça. Tudo o que eu tinha comigo era uma mochila com alguns cadernos e a roupa do corpo, isso era tudo o que era de fato, meu. Nada mais era real. Meu pai estava morto. MORTO! Minha mãe morta e meu pai, morto. 
    E agora? O que seria de mim? Eu não me imaginava mais, não sabia mais quem eu era, ou o que seria me mim. 
Tudo o que eu sabia, é que eles, aqueles três homens mataram meu pai, e estavam me levando pra algum lugar... uma floresta, ou praia deserta, ou sei lá... qualquer lugar onde pudessem me matar e jogar o corpo fora. 
            Jennifer:  Pra onde você vai me levar, seu desgraçado? E quem é você? É o chefe deles? Ou está trabalhando pra alguém? E porque matou meu pai? Ele não roubou nada de vocês...

            XxXx:   Você faz muitas perguntas.

 Ele respondeu, sem ao menos olhar pra mim. 
Desgraçado. Eu não conseguia me conter, não ia esquecer nunca o que aquele filho da mãe fez. 
Sem pensar duas vezes, eu me virei em direção a ele, e comecei a chuta-lo, com força:                   

            Jennifer: O QUE VOCÊ QUER SEU CRETINO? JÁ NÃO MATOU MEU PAI? VAI FAZER O QUÊ, ME MATAR TAMBÉM? 

    E eu chutava aquele filho da puta com toda a minha ira, sujava todo a roupa de marca que ele usava, gritava e o xingava, mas antes que os amiguinhos dele tomassem uma providencia, ele mesmo o fez. Sacou um revolver do bolso e apontou para mim: 
           XxXx: Eu acho melhor você cooperar agora!
   Eu fiquei estática. Tudo aquilo era surreal. Hoje de manhã eu ia pro shopping com o meu pai, e agora eu ia pra onde? Pra guilhotina?

        Jennifer: ATIRA, ATIRA AGORA SEU IMBECIL. ME MATA QUE NEM FEZ COM O MEU PAI. 
   Eu cheguei perto dele, o mais próximo possível e encostei o cano da arma no meu peito:

        Jennifer: ATIRA VAI, MATA UMA ADOLESCENTE DE 17 ANOS, À QUEIMA ROUPA. FAZ ISSO!

   Ele me olhou fixamente, pensou por alguns segundos e abaixou a arma. Pegou o celular e discou um numero rapidamente: 

        XxXx: Félix? Já estou a caminho. E a propósito: - ele me olhou fixamente – Eu já tenho a garota!

  Ele desligou após isso. E o carro parou. A porta do meu lado se abriu e um dos homens me puxou pelo braço, me arrancando do carro. 
Eu puxei minha mochila comigo, e a pus nas minhas costas. 
  Do lado de fora, eu pude reconhecer facilmente onde eu estava. Era um aeroporto particular. Onde um avião de alto porte estava pousado, a alguns metros de distancia de nós. 
Eu tentei olhar pra trás e os outros dois homens também se dirigiam a ele. 

        Jennifer: Pra onde você está me levando?

        XxXx: Pra casa! 
   As escadas do avião desceram e ele me empurrou pra dentro do monstruoso transporte. Por dentro, era quase tão impressionante quanto por fora. Era claro que esses homens eram ricos, ou melhor milionários. Era tudo impecavelmente limpo e luxuoso, um avião inteiro para aqueles três maníacos. 
Ele me direcionou para uma das poltronas, e logo se sentou do meu lado. Mais a frente os outros dois se sentaram, em outras poltronas e o avião ameaçava decolar. 

   Eu tirei minha mochila, e a apertei firme contra o meu peito. E eu chorei, novamente. 
Incrédula e perplexa com o que havia me acontecido. E me perguntava , o porquê de tudo aquilo ter acontecido comigo e com o meu pai. O que fizemos de errado? Será que era algum tipo de agiota? Eu não sei, eu não sabia de nada. 
   Mas o que você faz quando seu pai é assassinado na sua frente? O que você sente quando esta sentada ao lado do homem que deu um tiro no seu pai? O que você diz quando está num avião com os caras que tiraram de você a pessoa que você mais amava, que você mais admirava, a pessoa que cuidou de você a vida inteira, a única pessoa que te restou no mundo desde que sua mãe morreu ? Aquela pessoa que te ajudou a dar os primeiros passos, que ficou triste em saber que sua primeira palavra foi ‘mamãe’ , mas que continuou lá, firme, te segurando. Te dando apoio moral, quando você conseguiu abandonar as rodinhas da sua primeira bicicleta. Que te deu um abraço forte e sorriu para o fotografo, na sua formatura da quarta serie. A pessoa que trabalhou por dois pra te sustentar, e nunca, jamais em nenhum instante, reclamou disso. O que você faz nessa hora? O que você sente? O que você diz? 
Eu me fazia todas essas perguntas, e as lágrimas rolavam instantaneamente. 

  O brutamontes passou o braço na minha frente e abriu a janela: 

                 XxXx: Tem uma vista excelente daqui! Devia aproveitar Miss. Santiago.
  Eu fiquei naquele avião por cerca de nove horas. A cada 10 minutos eu olhava o meu relógio de pulso, e enquanto o homem do meu lado dormia eu não preguei o olho, matutando alguma coisa pra ir embora dali. 
Não seria fácil, mas eu ia conseguir. Mesmo se eles tivessem me levando pra outro país, como eu entraria lá? Eu sou brasileira, e menor de idade, não tenho permissão para morar em outro pais sem passaporte ou greencard. Eles iam se ferrar, com certeza. As autoridade me deportaria pro Brasil e eu ficaria num internato, ou juizado, sei lá. Mas com certeza não ia ficar com aqueles homens.
   Eu senti a turbulência, e pensei que o avião pousaria em breve. Eu olhei para a janela e senti frio. Já era noite e provavelmente era inverno, seja lá onde eu estava naquele momento. Olhei para baixo, avaliando as roupas que eu usava: Um tênis allstar preto, calça jeans, uma regata braça por baixo de um casaco de malha rosa claro, com um capús bem vagabundo nas costas. Pus o capús na cabeça e fiquei me alerta quando os homens que sentaram na frente se levantaram. 
Prontamente, eu fiz o mesmo, passando na frente do cara que ainda dormia do meu lado. Assustado, ele acordou e também desceu do avião.
   Do lado externo, tinha um luxuoso carro à espera, com um motorista, à posto. Ele abriu a porta para os homens, sem abrir a boca pra dizer nada, e eu reivindiquei: 

          Jennifer: Eu não vou entrar aí. – Eu dei uns passos pra trás, pronta pra correr.
          XxXx: Julian, segure-a .    –  disse o suposto patrão deles. 

 E ele rapidamente, segurou meu braço, me empurrando em direção ao automóvel:

         Jennifer: Vocês não podem fazer isso, é ilegal. Eu sou uma cidadã Brasileira. Não posso entrar em outro país assim, eu vou denunciar vocês, isso é seqüestro.    – eu gritava.   

         Julian: Fica quieta garota. 

 E novamente ele me jogou no carro. Eu já estava de saco cheio disso. Mas dessa vez ele ficou. Só o patrão, e o outro capanga seguiram viagem. E no banco traseiro, novamente, o homem sentou do meu lado. E eu precisava começar a entender o que acontecia ali:

        Jennifer: Você é o patrão? É o chefe?    - 
Perguntei, encolhida do canto, segurando minha mochila contra mim. 
        XxXx: Rótulos e mais Rótulos. Eu sou Michael.
       Jennifer: O que você vai fazer comigo?

       Michael: Te levar pra casa! 

Ele me olhou, sorriu, e voltou a olhar para frente. 
Seja lá o que viria, eu logo ia descobrir. 

    O trajeto de carro, durou cerca de 3 horas. Quando o motorista estacionou, eu logo me ajeitei, a fim de saber onde eu estava.
              Michael: Mudança de planos, Roger. Ela fica.    
- Disse para o capanga. 

              Roger: Mas senhor, como assim, ela fica? 

              Michael: É uma ordem.   – respondeu, enquanto mexia brevemente no celular.

             Roger: Mas senhor, ela não pode ficar aqui, ela é uma...

             Michael: Obrigada pelos seus serviços, Roger. Dispensado por hoje. 

 Ele saiu do carro e em seguida, bufando algumas coisas em outro idioma, o capacho logo saiu também. 
Eu não sabia o que estava acontecendo mas também desci do carro. E seja lá onde eu estava, era estranho porque era de dia. Muito confuso, porque só de viagem eu tinha calculado umas 6 horas. Talvez o fuso horário, tenha interferido. 
E ao olhar pra frente, eu vi umas das coisas mais inacreditáveis que eu já tinha visto na vida. Eu não ousaria chamar aquilo de casa, e nem de mansão. Talvez palácio, ou sei lá... 
  Era branca e na entrada tinha um jardim, que simplesmente era fantástico. 
Dessa vez, ninguém saiu me puxando pelo braço. O capacho, tal de Roger, tinha saído de perto, o motorista tinha tirado o carro e o tal de Michael, provável dono da casa, caminhava em direção à porta da mansão, sem me esperar , ou dizer nada. 

   Sem pensar duas vezes, eu saí correndo, pra fora dali, ao lado oposto da casa. Corri desesperadamente, em busca da única chance de fuga que eu poderia ter.
     Em vão. Mais adiante tinha um portão enorme de ferro, que mais pareciam grades de prisão. E no meu caso, eu acho que realmente eram grades de prisão. 
Eu segurei as barras do portão com força e as sacudi:  
                      Jennifer: SOCORROO!!!! SOCORROO! ALGUÉM ME TIRA DAQUI. 

     Eu fiquei lá, durante um bom tempo. Gritando por misericórdia. E ninguém me ouvia. Eu tinha a conclusão que a sensação de estar em um lugar vazio, gritando sem ninguém me ouvir, não era só internamente, era externo também. 
Parecia que quanto mais eu gritava, mais sozinha eu ficava. Eu tentei escalar, mas não dava, não tinha suporte para eu apoiar, e os muros eram altos demais. Além do mais, pra onde eu ia, aliás, onde eu estava? Quem eram aqueles homens? Porque mataram meu pai? Eu não sabia de nada disso. Estava de mãos atadas. 
                   Jennifer: SEU FILHO DA PUTAAAAA, DESGRAÇADO! EU VOU MATAR VOCÊ.
    Eu gritei mais uma vez, em direção a casa que estava a km de distancia de mim. Eu queria que ele ouvisse o amaldiçoando, que me deixasse ir embora ... que não me fizesse mal. 
E eu chorei novamente. Chorei até cair no chão. E fiquei lá por algum tempo. Praguejando o infeliz, tirando do meu peito toda a angustia daqueles sentimentos recém adquiridos. 
   Mas eu já estava cansada de fica lamentando, de não ser ouvida, de não estar entendendo o motivo pelo qual mataram meu pai do nada. 

Eu me levantei e sai correndo, em direção a mansão. Eu corria num velocidade inacreditável, gritando e chorando, sentindo a raiva tomar conta do meu ‘eu’. Eu ia matar aquele cretino, eu ia acabar com ele, como ele fez com o meu pai. 
Eu atravessei o jardim como uma bala, cheguei a tropeçar e cair no chão, mas me levantei e continuei a correr, desesperadamente em direção a porta frontal, que estava aberta. 

              Jennifer: MICHAEL? VEM AQUI SEU DESGRAÇADO, APARECE... 
    Eu parei na entrada, e chamei por ele, eu gritei por ele. E ele não veio, nem que fosse pra me matar ali mesmo, mas eu queria que ele aparecesse novamente. Meu rosto estava quente e encharcado de lágrimas, mas eu não me contive e continuei gritando, até que uma voz, desviou minha atenção: 
        XxXx: What are you doing?
   Uma mulher baixa, gorda de meia idade ,apareceu falando alguma coisa em outro idioma, e sua feição parecia brava com a gritaria que eu fazia.Eu corri até ela e segurei seus braços com as duas mãos, sacudindo-os desesperadamente:
            Jennifer: Cadê o Michael? Onde ele está? Me fala, onde ele ta! 
            XxXx: lemme go! 

            Jennifer: Cadê ele? 
   Eu estava tão revoltada, que não percebi direito que ela não falava minha língua. 
Eu a soltei, e levei minhas mãos até minha cabeça, apertando meus cabelos com força. Confusa com aquilo, querendo saber qualquer coisa...Eu dei um grito agudo tão forte que a mulher encostou no meu ombro, e eu a olhei: 
             XxXx: Are you Ok?
             Jennifer: Eu sei lá o que você ta falando!
   Eu comecei a chorar novamente. E gritava cada vez mais alto, enquanto gritava. Eu olhava em volta, e a casa era enorme, varias escadas, e provavelmente ele nem estava me escutando. 
A mulher continuava lá me olhando, agora com cara de pena. Ela não sabia o que fazer, e estendeu a mão para mim. 
Eu não podia lutar mais, eu estava sozinha.
 Enfim eu cedi e segurei a mão dela.

    Ela me levou para uma cozinha do tamanho da minha casa. Puxou uma cadeira para eu sentar, e eu o fiz. 
Ela pegou um guardanapo e me entregou. Esperou mais alguns minutos até eu me acalmar e voltou a perguntar algumas coisas: 
     XxXx: What’s you name, sweetie? 
    Jennifer: Eu não sei o que a senhora ta falando.
     XxXx: Name, your. My name is MARY, and you?
    Jennifer: Nome? Quer saber meu nome? 

    Mary: Name, yes, your name.      –  ela fez sinal de positivo.
     Jennifer: Eu sou Jennifer. 
      Mary: Jennifer, this is your name? 

      Jennifer: Eu não sei o que você ta falando moça. Mas é inglês não é? Eu não falo inglês, nunca aprendi nada na escola. Onde eu estou?
  Eu tentei fazer algumas mímicas pra ela, mas ela não entendeu , e eu não a entendia. 
Até que ela saiu do nada, por uma porta anexo da cozinha, e alguns segundos depois, voltou com um homem, num macacão preto, meio sujo, e com o cabelo desgrenhado, parecia ser o jardineiro. 
      Mary: She doens’t understand me. She is not american.
  Ela falava com o homem algumas coisas e ele me olhava fixamente, com as sobrancelhas franzidas, aparentemente confuso. 
        XxXx: I don’t know. Do you think she’s brazilian?
        Mary: Maybe. 

  Eu olhava para eles como um peixe fora d’agua. Mas o homem se sentou em uma das cadeiras e falou comigo:             XxXx: Você fala minha língua?
 Eu sorri, pela primeira vez.
       Jennifer: Falo, graças a Deus. Eu sou Jennifer. Como eu posso ir embora daqui.
Eu levantei e me ajoelhei diante dele, segurei suas mãos e olhei com impaciência, depositando naquele homem as ultimas esperanças que eu tinha pra ir embora dali.
        XxXx: Fica calma, mocinha. Eu sou o Pedro, por favor, acalme-se.
        Jennifer: Eu fui seqüestrada, eles mataram meu pai, senhor. Me tire daqui, eu te imploro, vocês também estão em perigo, todos estão. Eles vão nos matar. 

   Eu me levantei desesperada, peguei minha mochila e comecei a chorar novamente, já procurando a saída daquele lugar.
Os dois me olhavam assustados, como se não soubessem de nada do que acontecia naquele lugar: 

               Pedro: Fica calma. Primeiro me diz com quem você chegou aqui. 

   Eu engoli o choro e me aproximei um pouco novamente. 
              Jennifer: Com alguns homens, que mataram meu pai. Michael é o homem que entrou nessa casa. 

  Eles se entreolharam, e o homem, fez uma careta reprovativa.
              Pedro: Você entrou na casa com o senhor Michael Donavan? 

             Jennifer: Eu não entrei com ele necessariamente, você vai me ajudar ou não moço? Eles mataram o meu pai, senhor. Me ajude, a sair daqui , por favor.
   Ele olhou para mim com piedade, e olhou para a mulher, a Mary. Provavelmente já estava a par da minha situação e não achou que era coisa boa. Obviamente. 
            Pedro: She came with him! 
           Mary: Oh my god! She is the girl!
    Eles se olharam e eu deduzi que coisas horríveis iam acontecer comigo. 
         Pedro: Mary, can you leave us alone? 
               Mary: Sure. 

   A mulher, pegou uma bandeja de café que estava em cima da pia e saiu do nada. Talvez o senhor Pedro tenha pedido para ela sair. 
              Jennifer: Ele é o dono dessa casa? Esse tal de Michael?
              Pedro: Senhor Donavan. Os criados não se dirigem a ele como Michael. E sim, ele é o dono da casa e também é um dos homens mais ricos do mundo. Ele tem apenas 23 anos, mas apesar de novo, é o único herdeiro vivo da fortuna da família. E acredite o império Donavan é imenso. Eles estão em tudo, desde a cama que você deita até o papel higiênico que você usa. Eles têm dinheiro investido em tudo. 
             Jennifer: Império? Família? Não, esse homem é um criminoso. Ele matou o meu pai hoje de manhã, na minha frente... 
             Pedro: Assuntos do trabalho do patrão não são discutidos, muito menos pelos empregados. 
            Jennifer. 
Jennifer: Como assim?   – eu comecei a me exaltar.   – Ele matou o meu pai. Me trouxe pra cá... aliás, onde eu to? 
            Pedro: Califórnia, Estados Unidos. Você vai morar aqui, provavelmente. 
           Jennifer: Como assim? Eu não posso morar aqui. Eu vou morar com quem?
           Pedro: Como o senhor Donavan. 
           Jennifer: O quê?    – eu fiquei perplexa.   - Eu vou morar com o homem que matou meu pai? Quantas garotas moram aqui? Ele é algum cafetão americano?
          Pedro: Não.    – ele diminuiu o tom da voz. –   Normalmente ele não deixa nenhum rastro. Nenhum. Se é que você me entende.
   Eu pensei comigo, e se ele mata as pessoas e não deixa testemunhas pra trás, porque eu ainda estava viva?                    Jennifer: Então o que eu estou fazendo aqui, senhor Pedro? 
         Pedro: Eu tenho pra mim, que você é a escolhida.
         Jennifer: Escolhida? Mas pra quê?
         Pedro: Pra ser a esposa dele!
   Eu paralisei por um instante. Olhei para aquele homem de cabelos grisalhos e pelo enrugada enojada com o que ele acabara de dizer. Mas logo eu relaxei, e soltei uma grande e alta risada. Espontânea, como se ele tivesse me contado uma piada. Eu não podia controlar, quanto mais eu tentava parar, mais alto eu gargalhava. 
            Pedro: Acha engraçado, mocinha?
           Jennifer: Claro que sim.       – Eu respirava, para tomar fôlego.
           Pedro: Mas é a verdade. O que o patrão faz não nos diz respeito, ainda mais quando se trata de assuntos extra-curriculares...se é que você me entende. Ele nunca, jamais trouxe uma garota como...    – ele me olhou dos pé a cabeça. – Você.
 Eu o acompanhei e também olhei para as minhas roupas. Que estavam sujas. A calça estava imunda e rasgada. Minhas mãos ainda estavam sujas de terras, e minhas unhas desapareceram de tão pretas. Eu parecia uma menina de rua, toda suja e desgrenhada.
           Jennifer: Ele não trás trabalho pra casa, e quando trás significa que terá que se casar, é isso que está me dizendo? - perguntei seriamente. 
  Ele me olhava com piedade. Por mais que isso fosse uma hipótese, ele parecia já ter certeza do que viria a acontecer. Ele pediu que me juntasse a ele, e me sentasse numa cadeira. E eu não relutei, me sentei e ele puxou uma das minhas mãos, me olhando fixamente. 
         Pedro: Eu compreendo o que você está sentindo, querida. Mas não lute contra isso, é pior. Aceite o que tiver que aceitar. E faça tudo o que ele lhe pedir, sem questionar. 

   Eu puxei minha mão de volta, e o encarei com desprezo. Quem era ele? Quem ele era pra me mandar casar com um maníaco? Talvez também fizesse parte da gangue. 
           Jennifer: Meu senhor, eu tenho 17 anos. Quando eu acordei hoje, eu dei um beijo no meu pai, e o chamei para fazer compras de natal. Agora, eu estou nos Estados unidos, meu pai está morto e eu vou ser obrigada a me casar? Eu vou matar esse homem,      - eu me levantei, puxei minha mochila e o encarei. – eu vou caçar esse homem até o inferno. 
     Caminhei sem olhar para trás, de volta para a entrada da casa. Eu não ia achar o tal do Donavan facilmente, mas eu tinha que começar por algum lugar. Eu parei novamente diante da escadaria e comecei a gritar:
          Jennifer: DONAVAN SEU DESGRAÇADO, ME TIRA DAQUI. CADÊ VOCÊ SEU FRACASSADO? ASSASSINO, SEU PSICOPATÁ, EU VOU MANDAR VOCÊ PRA CADEIA.
    Eu gritava e olhava em volta, mas nada acontecia. Ninguém aparecia, nenhuma alma viva. Meu deus do céu, o que eu vou fazer da minha vida? – pensei comigo. Como eu posso acordar feliz da vida e ir dormir com meu pai assassinado? Como eu posso morar nos Estados Unidos com um monstro se eu nem sei falar inglês? Isso tudo era surreal. 

Eu me deixei levar pelas emoções do momento e desabei, literalmente. Deixei meu corpo desmoronar no chão e lá eu fiquei, como um corpo que acabará de desmaiar. 
   Eu não tinha a menor noção do que fazer ou pra onde ir. Eu não tinha dinheiro, nem documentos, só uma mochila e a roupa do corpo... Até que o sotaque, aquele maldito sotaque americano, ecoou por todo o hall.                            Michael: Levante-se, Miss Santiago! 
   Eu não me movi, absorvi cada momento daquele som que saia da boca dele. Eu queria me lembrar pelo o resto da minha vida dele. Safado, imbecil.
               Michael: Levante-se. 
    Ele ordenou e pelo o som ele não parecia estar muito distante de mim. 
Eu levantei lentamente minha cabeça pra frente, a procura da imagem daquele crápula. E lá ele estava, no meio da escada, parado, com as mãos do bolso do terno. Como eu bem me lembrava, desde a ultima vez que o vi, que não faz tanto tempo assim, talvez meia hora.
E como Pedro tinha falado, ele era jovem. 23 anos, órfão como eu. Devia saber melhor do que ninguém o que é ser sozinho no mundo, mas não. 
Eu o olhei, ainda no chão, com ódio e sede de vingança. Ele não pareceu ligar, e lançava seus olhos para mim, na espera que eu fizesse o que foi mandado e me levantasse:
               Jennifer: Seu desgraçado.   – sussurrei. 
               Michael: Miss. Santiago, desculpe-me pelo imprevisto de hoje. Não estava nos meus planos. Mas a vida é cheia de surpresas, não é?
    Ele dizia enquanto descia as escadas, num tom neutro, como se tivesse me falando sobre o cardápio do café da manhã. 
Ele caminhou até o centro do hall, a uns quatro passos de distancia de mim. E eu olhei para o chão:                            Jennifer: O que vai fazer comigo, Sr. Donavan? 
               Michael: Por hoje, nada! 
              Jennifer: E amanhã? E depois? Vai me matar como fez com o meu pai? 
             Michael: Imprevistos minha cara, apenas imprevistos. Mas respondendo sua pergunta: Eu já providenciei um pessoal para lhe atender. Garanto que não terá complicações, é claro, se fizer tudo devidamente correto. 
             Jennifer: Eu vou embora daqui. Eu não vou morar com você, seu desgraçado.
   Minha voz aumentava a cada palavra e com ela, o meu corpo. Eu me erguia lentamente, observando de baixo para cima todo o corpo do mau-caráter, até finalmente estar de pé e encara-lo, cara a cara.
 Michael: E vai para onde Miss. Santiago? Você mora aqui agora, e deveria me agradecer por isso. 
     Jennifer: Te agradecer por entrar na minha casa e matar meu pai? 
     Michael: Não, me agradecer por ainda estar viva! 
Com sua rigidez impecável, ele me encarava ainda com as mãos no bolso. E me afastei um passo e lhe dei as costas, caminhando até a porta frontal:
     Jennifer: Eu vou chamar a polícia. Vou denunciar você, seu maluco. 
     Michael: Eu sou a policia desse lugar. Minha casa, minhas regras.
 Falou em alto e bom som, me fazendo parar. O ódio me consumia, eu queria me matar, queria sumir do mundo, queria acabar com tudo. E então eu comecei a sussurrar:
     Jennifer: Desgraçado, seu filho da puta desgraçado. Eu vou mandar você pro quinto dos infernos... 
Eu dei meia volta e sem pensar demais, sai correndo em direção a ele, pronta pra encher a cara daquele viado de socos:
     Michael: Ele deu a palavra dele, Miss. Santiago.
 Eu parei subitamente, antes que eu pudesse ataca-lo. 
    Jennifer: O meu pai? Ele nem te conhecia, você é maluco, psicopata. 
     Michael: Tudo se trata de negócios, minha querida. Agora suba, e vá se trocar, - ele me olhou de cima a baixo e esboçou uma careta - você está deplorável.
   Ele se virou e subiu as escadas, lentamente. E o observei até que ele sumisse da minha visão. Eu tentei imaginar uma saída, uma fuga, sei lá. Eu poderia ir até a policia e explicar tudo, pedir que ligassem para a embaixada do Brasil e verificassem a autenticidade da minha situação. Era o plano perfeito, a não ser por um fato: Eu não falava inglês. Que ótimo!  
    Olhei em volta e eu estava sozinha, e por um momento tive a sensação de que seria assim por muito e muito tempo. 
Eu caminhei até a escadaria e a subi, vagarosamente. Apreciando um pouco da minha solidão, derrota, fracasso, pesadelo, seja lá o que fosse. 
Ele falou sobre subir e tomar um banho, mas ao chegar no andar superior, eu só via portas e mais portas. Não contei mais tinha mais de 10 portas, tudo impecavelmente branco e limpo.
    Eu caminhei fragilizada até a ultima porta do corredor, rezando para que eu não abrisse a porta em que o tal Sr. Donavan estava. 

O clarão e o cheiro suave, porém intenso invadiram meus sentidos. O interior do quarto conseguia ser mais belo do que a casa inteira e por sorte, estava vazio. Eu entrei e logo fechei a porta atrás de mim, olhando atentamente cada centímetro daquele lugar. As janelas eram imensas, iam do chão até o teto, cobertas por uma cortina longa e branca, impecavelmente limpa, como tudo ali, aparentemente. O tapete no chão, era branco e mais parecia um urso polar deitado, de tão macio. A cama, como já era de se esperar, também era branca, de casal, com muitas almofadas, como a cama de uma princesa. 
   E o quarto era decorado com grandes espelhos, uma televisão de plasma na parede, e perto dela, próxima a janela, tinha uma espécie de camarim, ou sei lá. Era uma cadeira giratória , bem confortável, frente a uma cômoda cheia de cosméticos e frente a um grande espelho. Talvez fosse o quarto de maquiagem de alguma mulher, pensei. Mas não tirava o fato de que o quarto era deslumbrante. 
Eu caminhei até o grande espelho e puxei a cadeira, me sentando nela. 
     No espelho, eu via uma pessoa, mas eu não fazia a mínima idéia de quem era, de onde veio e muito menos pra onde ia. Tudo o que eu via era uma alma, sozinha do mundo, sem rumo na vida e sem explicações para os últimos acontecimentos. Eu tentava explicar para mim mesmo tudo aquilo, para me convencer de que era real e não um sonho, mas eu não sabia nem por onde começar. Era tudo louco.
    Eu só sentia raiva, raiva daquele homem, raiva da vida, raiva de quem eu era e o que eu me tornara, uma nada. Era isso sim, eu era uma nada na vida. 
Bruscamente eu me levantei e joguei todos aqueles cosméticos pra fora da cômoda, e com eles eu soltei um grito libertador, que era o Papa escutaria. 
    De pé mesmo, eu comecei a chorar enquanto me olhava naquele espelho, e eu gritava também, o xingava, chamando-o de desgraçado, para que ele escutasse, seja lá em qual quarto estivesse. Viado, imundo, assassino, cretino, eu falava tudo, na verdade eu gritava, e nada era suficiente, nada tirava minha dor. 
    Eu me olhava no espelho, acabada, com o rosto inchado e vermelho. Os cabelos longos e loiros que eu tinha, estavam sujos e desgrenhados. Os olhos azuis eram imperceptíveis em meio ao ódio. A pele clara, era escondida pelo fogo quente que corria nas minhas veias naquele momento. 
   Eu sentia pena de mim mesma, por estar naquela situação, e quanto mais eu gritava, eu olhava mais fixamente para os meus olhos. Sentindo minhas cordas vocais queimarem, minhas veias estufarem no meu pescoço, sentindo tudo o que era, acabando, como um simples apagar de velas. 

E por impulso, com medo do que eu ia me tornar, uma possível Donavan, uma possível cobra da corja dele, eu enfiei o punho espelho adentro. 
    E o impacto foi tão intenso que eu senti alguns cacos entrarem na minha pele, mas eu não parei, eu gritava mais alto ainda, e com a palma da mão aberta eu continuava a quebrar o espelho, esfolando minha mão, sujando aquele quarto branco de vermelho, sujando aquela casa com o meu sangue. 
Eu gritava mais e mais e mais, sabia que ele podia me escutar. Eu chamava o nome dele, mas ele e ninguém aparecia. Eu resolvi começar a tomar minhas decisões e acabar com tudo aquilo. Peguei um pedaço grande de vidro e caminhei até a porta desesperadamente. 
Do lado de fora eu batia em todas as portas do corredor, as sujando de sangue e chamando por ele:
     Jennifer: CADÊ VOCÊ, SEU CRETINO? NÃO É SANGUE QUE VOCÊ GOSTA DE VER? ENTAO EU VOU TE DAR. EU VOU ME CORTAR ATÉ NÃO SOBRAR NADA. EU MESMA ME MATO, MAS EU NÃO VOU FICAR AQUI NESSA MALDITA, MALDITA, MALDITA CASA!
     Eu batia, na verdade esmurrava as portas, mas ele não ligava, não atendia. Até que do topo da escada, a alguns longos passos de mim, o Pedro apareceu: 
              Pedro: Jennifer, o que está fazendo? - ele parecia assustado. 
             Jennifer: Eu vou matar esse desgraçado, Pedro. Vou acabar com a vida dele. 

Ele se aproximava cuidadosamente e estendia sua mão para mim:
             Pedro: Me dê o vidro, querida. Vai ficar tudo bem com você!  
           Jennifer: Você acha que eu estou bem? Acha que eu devia soltar fogos, Pedro? 

            Pedro: O que eu quero dizer, é que você precisa se acalmar.
 Eu o olhava fixamente, e antes que ele pudesse pegar o vidro da minha mão, eu mesma o joguei longe, o fazendo quebrar mais ainda no chão. E berrei:  
          Jennifer: Então me mata, Pedro! Me leva pro meu pai. Me tira daqui! 
Ele me olhou com piedade e me abraçou forte. Apertava minha cabeça contra o peito dele, e repetia que eu devia me acalmar, mas o nervoso era maior que eu. Ele me levou lentamente de volta para o meu quarto, e me sentou na cama, se sentando do meu lado:
            Jennifer: Não quero ficar aqui, Pedro, eu não posso!!!
    Pedro: Acalme-se, Jenny, você vai ficar bem, eu lhe garanto. Eu entendo o que você sente, sei que tem raiva do Sr. Donavan, mas fazer o que está fazendo só vai piorar a sua situação, acredite em mim. 
    Jennifer: Piorar? É possível que minha situação piore? - perguntei incrédula.  
    Pedro: Acredite, é possível. Ele não vai tolerar esse tipo de comportamento, você precisa mudar. – ele me olhava fixamente, como se esse fosse o melhor conselho do mundo.
    Pedro: Eu vou pedir que a Mary arrume alguma roupa pra você. Nessa porta da frente, - ele apontou para a porta. – é um banheiro, e tem uma banheira, você pode tomar um bom banho e pensar melhor. Tenho certeza que vai se sentir muito melhor. 
       Jennifer: Promete que vai me ajudar a sair daqui? 
       Pedro: Tome o banho e vai se sentir muito melhor.
 Ele sorriu amigavelmente e deixou o quarto. Eu tirei minha mochila das costas e sequei o rosto com as mãos mesmo. Conseqüentemente sujando todo o meu rosto de sangue, eu realmente precisava tomar banho. 

Dei um tempo no quarto, respirando fundo, tentando não surtar outra vez e me levantei, indo até a porta da frente e a abrindo devagar. 
   E como o Pedro tinha falado, era mesmo o banheiro. Eu entrei e tranquei a porta. Caminhei lentamente até o centro do banheiro que mais parecia um quarto de tão grande. Cuidadosamente, comecei a tirar minha roupa, atenciosamente para não machucar mais a mão. A calça foi mais difícil, mas eu o fiz sem reclamar. Deixei a roupa toda no chão e entrei no chuveiro, logo fechei a porta, eu ri. Sim, não era uma cortina, era uma porta de correr que eles usavam no Box, ricos miseráveis. Com a mão boa, eu liguei o chuveiro e logo senti a água morna cair sobre o meu cabelo. 
   Eu abaixei a cabeça e olhei no chão, toda a sujeira indo embora pelo ralo. Todo o meu dia, indo embora pelo ralo. Eu levantei a mão machucada e deixei que a água o limpasse. Haviam muitos cortes, tantos que eu quase não enxergava mais nada na minha palma, em meio aos arranhões e alguns cortes profundos. 
E eu fiquei lá, dando um enorme prejuízo na conta de água dele. Acredito que por mais de 1 hora debaixo d’agua. E quando eu me cansei, quando meu corpo não suportava mais, eu saí de lá, me enrolei em uma toalha e dei o fora daquele banheiro. 
    Quando entrei no meu quarto, em cima da cama, tinha algumas pelas de roupas e no chão, abaixada, próximo à cômoda, a Mary limpava os cacos de vidro: 
       Jennifer: Mary, larga isso tudo, deixa que eu mesma me viro, por favor. 

Eu fui até ela e a puxava pelo braço, mas ela falava alguma coisa em inglês e sacudia o braço, como se pedisse pra eu soltá-la, eu não sei, mas eu o fiz. 
Eu sorri, meio sem graça e me sentei na cama, olhando as roupas que estavam lá. Quando ela terminou, pegou o saco de lixo e me olhou nos olhos, me hipnotizando com aqueles olhos azuis:
     Mary: That’s ok, don’t be mad, sweetie.
 Peguei uma escova de cabelo que eu tinha jogado no chão, e penteei meus cabelos loiros, longos, como os da minha mãe quando ela tinha minha idade. Senti a falta dela naquele momento. E agora eu tinha meu pai pra sentir falta também. Que ironia! 
Um bater na porta, me fez voltar a minha medíocre realidade.
  Eu me sentei na cama, e perguntei quem era:
       Pedro: Eu, senhorita! 
      Jennifer: Entre.
 Ele me olhou sorridente, e entrou, carregando uma pequena maleta com ele: 
       Jennifer: O que é isso? 
       Pedro: Primeiro socorros. Posso? -Ele perguntou, referindo-se à cama. 
      Jennifer: Claro que pode se sentar, Pedro. 
      Pedro: Deixe-me ver o estrago. – Eu lhe dei meu pulso, ele arregalou os olhos. – Isso aqui está horrível, você tem um soco certeiro, heim garota!-ele riu,mas logo parou.- Er, me desculpe, não quis ser indelicado. 
       Jennifer: Não se desculpe. – Em outra ocasião, eu teria rido da piada, mas hoje não era um bom dia.
 Ele enfaixou minha mão até o pulso em questão de minutos, e garantiu que em poucas semanas eu poderia tirar a atadura. 
Mas eu ainda queria saber algumas coisas, então antes que ele se retirasse, eu logo me aprontei: 
      Jennifer: Você é brasileiro, não é? 
      Pedro: Sim, criança. Eu mas eu moro aqui desde os 8 anos de idade. 
      Jennifer: Trabalha aqui a muito tempo? 
      Pedro: Bastante. 
      Jennifer: Então sabe tudo o que o Sr. Donavan faz, não é?
      Pedro: Jennifer, aprenda uma coisa: - ele me olhou nos olhos e baixou a voz – Assuntos do trabalho do patrão, não é discutido pelos funcionários. 
    Jennifer: Mas ele mata pessoas. Ele tem que ir pra cadeia.
     Pedro: Ele é a autoridade. A família dele é. 
     Jennifer: Mas você disse que ele é o único herdeiro, não é? 
     Pedro: Não precisa ter uma família pra mandar na cidade, um Donavan já faz isso muito bem.
     Jennifer: Me explique, Pedro. O que ele faz, exatamente? 
     Pedro: Ele é empresário de muitos ramos, uma infinidade. Mas é mais conhecido pelos jogadores de futebol, beisebol, basquete, que já agenciou. É sócio fundamental da NBA, já ouviu falar, não é? 
     Jennifer: A liga de basquete? 
 Ele deu um pequeno sorriso irônico.
       Pedro: Não é só ‘a liga’. É A LIGA, a mais importante, a milionária, a mais famosa, enfim. Mas não é só isso, os Donavan tem dinheiro investido em tudo, como eu já falei.
   Jennifer: Então porque diabos ele matou o meu pai? 
      Pedro: Obviamente, os motivos eu não sei, criança. Mas se você está aqui, já é alguma coisa grande. 
     Jennifer: Bom você falar nisso, que historia é essa de casamento? Se ele é tão milionário assim, porque não arruma umas prostitutas e curte a grana que os pais deixaram?
      Pedro: Não é assim que funciona as coisas nessa casa.  – ele mudou a feição do rosto e logo se levantou. – Eu vou embora, você deve estar cansada. 
      Jennifer: Não, - eu puxei sua mão. – me conta Pedro. Porque eu vou me casar com ele? 
      Pedro: Procure dormir bem, criança. Boa noite. 
Ele apertou o passo, e rapidamente saiu do quarto, deixando pra trás um milhão de perguntas sem respostas. 

Tudo o que eu queria saber era o motivo da minha insignificante presença naquela casa, e porque eu deveria me casar com ele. Afinal de contas, não fazia nenhum sentindo. Ele era jovem, não era feio, e rico. Mulheres gostam disso, porque ele queria se casar comigo? Eu não sabia, e pelo visto não ia descobrir nada do Pedro, pelo menos não por hoje.
   Eu olhei para a janela através das cortinas e vi que já era noite. Mas ainda deveria ser cedo, porem pelo fuso horário, eu já estava cansada. E amanhã seria um grande dia pra mim, um dia cheio de surpresas e eu ia torcer, pra sair daquela casa e voltar pro Brasil, para enterrar o meu pai. 
Eu joguei minha mochila pra fora da cama e deitei. 
    A cena de ser arrastada pelos cabelos, do chão até o carro, não saia da minha mente. Porquê? Porquê meu Deus? 
Eu precisava de respostas, e não ia descansar até descobrir todas.
Mas por hora, eu precisava descansar, e o sono não demorou muito para me atacar violentamente.
   Em poucos minutos, eu caí num sono profundo. E pela primeira vez, eu tive a certeza que o verdadeiro pesadelo acontecia quando eu estava acordada e não dormindo. 
 Cap2. Bem vida a América
    Os raios de sol matutinos atingiam minha pele como uma flor acariciando meu rosto. Eu apenas pedia silenciosamente por mais daquele toque. Eu mexia os dedos dos pés, os roçando na cama, sentindo o quentinho das cobertas, e sorri. Porque pensei por um instante que eu estava em casa, mas antes que eu pudesse curtir mais da falsa felicidade, eu me lembrei do que aconteceu na noite passada. E sem a menor força de vontade, eu abri lentamente os olhos. 
               XxXx: Bom dia, criança. 

 Eu tentei assimilar a voz de imediato, mas não consegui, era tudo muito novo pra mim. Então eu me sentei na cama e logo vi o Pedro abrindo as cortinas, permitindo o tal gracioso sol, adentrar o recinto: 
              Pedro: Perdoe-me acorda-la, mas foi necessário. Eu trouxe o seu café da manhã.
             Jennifer: Que cheiro é esse?   - Perguntei, ainda grogue. 
             Pedro: Jasmim, uma delicia, não acha? 
  Eu não respondi, ainda não estava acordada direito. 
            Jennifer: Você falou café da manhã?
            Pedro: Sim, senhorita. Lembra-se da ultima vez que comeu?
  Enquanto ele perguntava, trazia para o meu colo, uma bandeja repleta de alimentos, dos mais coloridos e saudáveis possíveis. 
            Jennifer: Faz bastante tempo. – Eu cocei os olhos, tentando imaginar se ainda estava dormindo. 
            Pedro: Sei que deve ser horrível acordar aqui, e sinto muito por isso. Mas peço que passo o dia bem, sem maiores complicações. 

  Ele sorria, sem graça, sentado na ponta da cama, vestindo seu macacão preto, e eu me perguntei se ele tinha o tirado para dormir. Ele parecia ser um homem honesto, pra lá de uns 50 anos, branco, de olhos negros, barrigudo, e com sobrancelhas enormes. 

  Eu não respondi nada sobre o que ele falou, e comecei a passar manteiga em um pedaço de pão: 
          Jennifer: O que você faz aqui, Pedro?
          Pedro: Jardineiro. E lhe garanto que vou fazer meu melhor para que sempre acorde com esse cheiro no seu quarto. E por falar nisso, porque veio dormir nesse quarto?
        Jennifer: Porque, não é permitido? – eu o encarei. 
         Pedro: Não, criança. – ele riu. – Mas eu imaginei que você escolher um dos quartos principais e não um quarto de hospedes.
     Eu o encarei, atentamente. 
           Jennifer: Isso aqui, é um quarto pra visita? Na minha casa, o quarto da visita inclui um colchão e uma almoçava do canto da sala.
          Pedro: Bom, bem vinda a Califórnia então. – ele riu. 

 Eu comia, e ele ainda estava lá, esperando a bomba de perguntas que eu estava prestes a soltar.
         Pedro: Ér, a Mary perguntou sobre as roupas...
Eu quase deixei o pão cair da boca... 
        Jennifer: Que indelicado da minha parte. Desculpe, diga que ficaram ótimas, onde era arrumou?
         Pedro: Eram da filha dela. Tinha o seu tamanho, quando costumava usa-las. Ela era muito parecida com você. Loira, bonitinha, assim como você. 
         Jennifer: Obrigada pelo elogio, Pedro. Suponho que ela era muito parecida com a mãe. 
Eu comentei me lembrando dos olhos azuis penetrantes e o cabelo loiro esbranquiçado da Mary. 
        Pedro: Um pouco. E por enquanto, o Sr. Donavan disse que poderá contar comigo para o que precisar. Isso normalmente é tarefa da Mary, mas como você não falo inglês, eu te ajudo, até seu professor chegar. 
        Jennifer: Hã?   - eu parei de comer. 
        Pedro: Bom, você não vai poder morar na Califórnia e não falar inglês, isso é obvio, criança. Agora, termine seu café da manhã. Tome um banho e vista-se. Faz um ótimo dia lá fora.
   Ele levantou-se e saiu, sempre se esquivando das perguntas. Professor? Eu ia estudar aqui também? Então o pacote era completo não é? Eu ia me casar, estudar e morar aqui. Mas que palhaçada toda é essa? Pensei comigo. Só podia ser pegadinha, sem chances. Eu não podia estar passando por isso. 
  Coloquei a bandeja de lado e me estiquei para pegar minha mochila que estava no chão, ao lado da cama. A abri, e peguei minha agenda, que dentro dela, tinha uma foto, a única foto que me restou, e que eu teria pelo resto da vida. 
Meu pai e minha mãe, juntos numa viajem para a Inglaterra quando eu tinha oito anos. Antes de tudo começar a virar de cabeça pra baixo. Antes do câncer da minha mãe, antes do meu pai ter que trabalhar com o que não gostava pra me sustentar, antes de...- Eu respirei fundo. – antes da minha mãe e meu pai morrerem.   Era doloroso. Acho que a palavra que mais se encaixava a minha situação era Dor. A dor do abandono, a dor da revolta, a dor do medo, a dor da infelicidade e por ultimo e talvez a pior, a dor da solidão.
    Eu passei as paginas da agenda, relembrando coisas que eu mesma tinha escrito, coisas que eu tinha até esquecido que um dia tinha escrito. Coisas como: Hoje, meu pai me tirou do sério. Como ele não deixou eu sair com a Bia? ‘’
   E nesse momento, uma onde de arrependimento me invadiu. Nos momentos em que eu deveria abraçar forte o meu pai, beija-lo e dizer que o amo, eu estava com raivinha porque não podia sair com a Bia. A ironia disse é que a Bia nem gostava de mim. E eu nem gostava dela também, só andávamos juntas porque ... eu sei lá. Coisas banais, que não deveria acontecer, sabe.  
  Eu tive tempo pra ficar com o meu pai e desperdicei. Deixei pra ‘amanhã’, eu ri comigo. O amanhã não existe, o amanhã é uma ilusão que criamos para fazer idiotices hoje. É uma desculpa barata para sermos negligentes. É estúpido. Eu sou estúpida. 
Eu agarrei a foto do meu pai contra o meu, e a apertei forte, sussurrando por desculpas, na esperança que ele pudesse ouvir e me perdoar.
   Aí eu pensei comigo: Porque nós, humanos imbecil, deixamos para falar coisas que queremos somente quando nossos entes se vão? Eu te pergunto, pra você mesmo, você que está sentado, relaxado, lendo isso aqui: Você disse para seu pai que o ama? Disse para sua mãe o quanto é grato por ela lavar suas roupas, ou por limpar o seu traseiro quando você era pequeno? Deu um abraço no seu irmão hoje? Eu suponho que não. Mas se você fez uma dessas coisas, qualquer uma, eu invejo você. Invejo sim. Porque eu não tenho pai, nem mãe, nem irmãos. Tudo o que eu tenho, é... – risos - nada. Um monte de nada. 
   E você ainda reclama da sua vida. Eu te pergunto: gostaria de trocar de lugar? , eu daria minha vida, pra dizer pro meu pai : Eu te amo. E estarei de volta para jantarmos juntos!’’
Eu deixei meus pensamentos retardatários de lado e antes que eu começasse a chorar miséria eu guardei minha agente na mochila e a deixei no chão novamente. 
  Me levantei, arrumei a cama impecavelmente, do jeito que a encontrei e caminhei até a janela, que também era de correr, então eu a abri e ali tinha uma varanda que dava para as gloriosas flores do Pedro. Como ele disse, o cheiro de Jasmim era impregnante, no bom sentido, é claro. 
   O jardim estava vazio, e eu me perguntei se essa casa era sempre assim, vazia. Bom, então para buscar tal resposta, eu me apressei e fui tomar um banho, rápido, sem lavar novamente os cabelos. 
Voltei ao quarto, enrolada na toalha e na pilha de roupa que Mary me emprestou, escolhi um vestido branco com flores azuis, lindo. 
   Era simples, mas de muito bom gosto, parecia até com o tipo de roupa que eu usava em casa. Era de alças finas, e de decote reto e tinha uma faixa logo abaixo do busto que marcava bem as curvas, ele era curto mas nem tanto, e colado ao corpo mas nem tanto, era perfeito. 
    Eu me vestia mas estava com dificuldades para terminar de fechar o zíper nas costas, até a porta do quarto se abriu, me fazendo tomar um susto:
 Jennifer: HEIM ! Eu estou trocando de r...
     Mary: Hey, it’s me. 
 Ela entrou devagar e sorridente, com uma caixa vermelha na mão, e mesmo sem entender o que eu falo, era tinha um ótimo astral e uma boa vontade inacreditável. 
Mas dessa vez ela não falou muito, entrou e logo percebeu minha dificuldade com a roupa. Ela a fechou e quando eu me virei, ela juntou as mãos perto da boca, parecia muito feliz por me ver com a roupa da filha. 
  Ela puxou a cadeira giratória e pediu que eu me sentasse, rapidamente se esquivou até a cama e pegou a caixa vermelha, me entregou e pediu que eu a abrisse.
    Mary: Open it! 

Eu a olhava atentamente, sentindo de perto a afobação da mulher. Sem esperar mais, eu abri a caixa e dentro, havia um lindo e singelo par de sapatilhas vermelhas com detalhes brilhosos na lateral. Sem salto, coberta por um lindo veludo, semi-nova, perfeita, como o vestido. 
Eu segurei os sapatas nas mãos, radiante. E Mary me acompanhava com seus olhos cheios d’água, provavelmente lembrando-se da filha.
       Jennifer: Eu não posso aceitar, Senhora Mary. Desculpe. – e eu os empurrava para ela, os recusando. 

Mas ela fazia o mesmo, os empurrando de volta para mim, e me olhou nos olhos, acenando a cabeça positivamente. Talvez ela quisesse que eu ficasse com eles: 
       Mary: Take it. They’re yours now. 
 Ela falou alguma coisa que eu não entendi e sorriu. Então eu os calcei,que serviram perfeitamente e eu me levantei. Andei em direção ao grande espelho e me vi dos pés a cabeça. E sim, eu estava bonita. Acho que nunca estive tão bonita antes. Atrás de mim, Mary batia palmas de felicidade, era como se ela estivesse vestindo uma boneca. E eu sorria para ela, tentando me juntar a sua felicidade, como se isso fosse possível.
 Eu levantei novamente o rosto e olhei ao espelho, que refletia minha mão enfaixada. Que refletia... uma órfã
   Eu engoli o choro por uns instantes, não queria causar mais frustrações à Mary e Pedro, que estavam sendo gentis comigo. Tratei de desenhar um falso sorriso nos lábios e agir como se eu estivesse amando aquilo tudo. Logo, Pedro apareceu na porta do quarto, e parou, me olhando espantosamente: 

               Pedro: OH,my God! Camillie? 

   E eu o olhei, sem saber o que responder. Logo, Mary começou a chorar, um choro baixo quase imperceptível, mas que a fez perder a base e sentar-se a cama em que eu havia dormido. Eu senti que tinha acontecido alguma coisa e prontamente me sentei ao lado dela, passando meu braço por suas costas, dando-lhe um abraço, na tentativa de acalma-la. 
  Com um ar confuso eu olhei para Pedro, que não havia movido um músculo sequer, me olhava espantosamente e calmamente ele tirava da cabeça, um chapéu e o juntava ao peito o apertando com força. E eu não entendi bulhufas. 

              Jennifer: O que aconteceu, seu Pedro? 
  Ele saiu do transe, sacudindo a cabeça algumas vezes e Mary chegava a soluçar de tão nervosa. Pedro se aproximou, lançando um olhar desconfiado para mim:

           Pedro: Desculpe, criança. É que você está espantosamente parecida com Camillie. 

Eu franzi a testa. 
             Jennifer: Mas, quem é Camillie? 
     Pedro: É a filha da Mary. Devia ter sua idade quando foi embora. 

  Eu arregalei os olhos e olhei para Mary, que ao ouvir o nome da filha, chorou mais alto. Bruscamente eu me levantei e já me preparava para arrancar a roupa do corpo: 

            Jennifer: Me desculpe, eu não queria fazer nada de errado, eu tiro a roupa.
  Desconfiando do que eu estava prestes a fazer, Mary limpou as lágrimas e com as mãos fez sinal para que eu parasse o que estava fazendo. 

           Mary: No, i’m sorry sweetie, it’s yours now. You have to use something.
  Eu olhei rapidamente para Pedro, e ele traduziu simultaneamente: 

          Pedro: Ela disse que você pode usar. Aliás, você precisa usar alguma coisa, não é? 

  Eu me recompus e concordei com a cabeça. Pedro também se refez e estendeu a mão para a senhora, que também se acalmava. 

        Pedro: Desculpe por isso. Você deve descer, e aproveitar o dia, conhecer a casa. Vai gostar dela. 
  Eu sorri, totalmente sem graça e ele a ajudou a sair do quarto, segurando em sua mão. 
Eu senti que não devia usar as roupas de Camillie, mas o que eu usaria? Infelizmente, seria uma tristeza para Mary me ver como sua filha, eu sabia disso. Mas porque ela teria ido embora? E essa era mais uma das milhares de perguntas a serem respondidas. E deu a ultima olhada do espelho, e sai do quarto, bati a porta atrás de mim, e atravessei novamente o enorme corredor branco, pronta para viver o primeiro dia naquele mausoléu. 
Eu desci as escadas lentamente, passo por passo, e enquanto descia, olhava para o chão, onde na noite anterior eu estava jogada, acabada olhando cara a cara para o homem que matara meu pai. E me lembrei de quando estive a menos de um passo diante dele, na minha casa, segundo antes dele mandar matar meu pai. Os olhos castanhos claros dele penetravam nos meus, como se estivesse decidindo meu futuro ali, e realmente estava. Minha boca, trêmula implorava perdão, e tudo o que ele fez foi apertar meu braço, e finalizar o trabalho. 
     Mas eu tratei de respirar fundo e continuar descendo as escadas, como se tudo estivesse bem, perfeitamente bem.
Eu olhava em volta, e já havia me esquecido da imensidão da casa, era realmente deslumbrante. Tudo ali parecia valiosíssimo, até as paredes. No teto, o lustre estava apagado obviamente, porque ainda era manhã, mas mesmo assim, o objeto era incrível, como pérolas penduradas. O chão possuía um desenho abstrato, mas não deixava de ser bonito, e possivelmente símbolo para a família Donavan. 
     As grossas pilastras escuras que suportavam as escadas, tinham desenhos minuciosamente decorados, dando um ar de sofisticação além do necessário. 
Eu caminhava pelo hall de entrada da casa, espantada com tanto luxo, e me perguntei por várias se eles realmente precisavam de paredes decoradas para sobreviver, ou um lustre luxuoso. Será que eles não conheciam as simples, lâmpadas?

            Pedro: O que gostaria de fazer, criança? Ver a casa? Eu posso te mostrar muitas coisas, mas levaria dias para conhece-la completamente...
 Eu o interrompi. 
           Jennifer: Eu quero ver o seu Jardim. 
  Eu sorri e ele pareceu ficar surpreso, mas logo acenou positivamente. Abriu caminhou para eu passar, como se eu fosse uma realeza e me dirigiu até o lado externo. 
Enquanto caminhávamos até o jardim, que ficava numa distancia significativa da casa, eu o perguntei: 
         Jennifer: Está tudo bem com Mary?
         Pedro: Oh, sim. Ela fica emotiva facilmente quando se trata da filha, mas não queira vê-la brava, ela é um bicho feroz. – ele riu. 

        Jennifer: O que aconteceu com a filha dela? Camillie, não é? 

  Ele tossiu, e eu supus que fosse um método de desconversar, mas eu não mudaria o assunto:
      Pedro: A filha dela foi embora quando tinha uns 14 ou 15 anos, eu já não me lembro bem. 

           Jennifer: E isso já faz muito tempo? 

           Pedro: Sim, por volta de 7 anos.
          Jennifer: Mas ela...está...viva? 

          Pedro: Sim, mas não vem visitar a mãe à anos. 
 Eu resolvi não perguntar mais, não queria abrir feridas de ninguém, já bastavam as minhas. 
         Pedro: Você é muito parecida com ela. A não ser pelos olhos, os olhos de Camillie são escuros, como a noite. 
Ele pareceu viajar por um instante enquanto falava na menina, como ele trabalha aqui a muito tempo, obviamente a conhecia. 

        Jennifer: Não quis causar problemas a Mary. 

        Pedro: Você não causou. Ela gostou muito de você, apesar de você não falar inglês. Disse que você é uma pessoa boa. 

Eu sorri, agradecida. 

         Jennifer: É uma pena que eu não a entenda. 

         Pedro: Não se preocupe, seu professor deve chegar em alguns dias, em poucos dias, na verdade. 

 Nós finalmente chegamos no imenso jardim do Pedro, que tinha o organizado em forma de labirintos, mas eram baixos, na altura de minha cintura, mais ou menos, então eu não tinha como ficar perdida lá. Era todo colorido, mas com flores devidamente separadas. Nos andávamos entre eles, conversando calmamente: 

       Jennifer: Porque veio trabalhar aqui, seu Pedro? 
       Pedro: Meu pai trabalhou para essa família, e eu segui os caminhos dele. 
       Jennifer: Então você conhece muito bem a família, não é?

       Pedro: O necessário para saber que não devo me meter no que não me diz respeito. 
  Ele falou diretamente olhando para mim e deu um sorriso. 
      Jennifer: Entendi. E quem mais mora aqui? Além de você, Mary e o Sr. Donavan?
       Pedro: Você!    - ele riu.
       Jennifer: Só? Mas... 

       Pedro: A família dele morreu, todos. Ele não tem primos ou tios. Então, ninguém mais mora aqui.
  Eu me espantei, isso beirava ao trágico. 
       Jennifer: Ele fica nessa casa enorme, sozinho a maior parte do tempo?
  Perguntei, olhando parando e olhando para a casa, que de longe parecia cada vez maior. Ele me acompanhou e também a admirava de longe.
       Pedro: É uma bela casa, não acha? Um dia, ela já esteve cheia, mas agora, só escutamos os ruídos de cigarras, isso quando elas vêem nos visitar, porque o Sr. Donavan odeia cigarras.   – Ele riu novamente, e eu fiz a tal pergunta que esperei tanto tempo para fazer: 

         Jennifer: Seu Pedro, seja sincero comigo – o olhei fixamente, apertando os olhos, me protegendo dos raios solares. – É possível que eu consiga ir embora dessa casa? 
Ele relaxou sua expressão e também me olhou fixamente. 

         Pedro: Deixe-me perguntar uma coisa, criança: Seu pai está morto, não é? 
  Eu engoli seco, mas isso era uma realidade: 

        Jennifer: Sim, está. 
        Pedro: E pra onde você iria? Com quem ia viver? Sua mãe está lá? 
       Jennifer: Não, senhor. – eu baixei a cabeça e voltei a caminhar, logo ele me acompanhou. 
        Pedro: Não estou pedindo para que sorria e seja feliz nessa casa, criança. Mas que saiba viver aqui. Se fizer as coisas como devem ser, tudo será diferente, eu garanto isso. 

       Jennifer: Fazer como deve ser, o quê? Me casar com ele? – eu perguntei num tom mais elevado. 

       Pedro: O seu destino, só pertence a Deus. Eu disse isso, mas foi uma idéia. Eu também não sei o porquê você está aqui. 

  Ele parou subitamente e segurou meu braço delicadamente, para que eu também parasse. Lentamente, ele pôs a ponta dos dedos no meu queijo e o erguei, me fazendo olhar diretamente nos olhos negros que ele tinha. 
       Pedro: Acredite em mim, criança, permita-se viver um pouco disso aqui. O que mais você teria a perder? 

Boa pergunta. Ótima pergunta na verdade! 
       Jennifer: Seu Pedro, o senhor tem filhos? – eu o perguntei.

 Logo ele soltou meu rosto, e olhou para frente, fazendo uma careta de reprovação. 
        Jennifer: Se tem, o senhor gostaria que sua filha morasse com esse monstro?
 Xeque-mate. 
Ele engoliu seco, olhou para o céu, pensando talvez, mas logo voltou a me olhar:
        Pedro: Se eu tivesse uma filha, não ia gostar que isso acontecesse com ela.

Ele ergueu sua voz, não gritando, mas respondendo a altura da minha pergunta, rapidamente segurou meu punho e o levantou, erguendo a mão enfaixada que eu tinha. Fazendo a atadura já manchada de sangue aparecer na minha frente. 

   Sem pensar duas vezes eu recolhi minha mão, e voltei a caminhar, sem falar mais nada. Sem ter que enfrentar a realidade, sem querer saber mais daquela vida que eu estava levando. 
Eu queria chorar mais, chorar até secar e morrer. Queria desistir de viver. Porque eu não merecia viver naquela casa, com aquele homem, sozinha com ele. Era castigo demais passar o resto da minha vida convivendo com o cara que matou meu pai, dormindo com ele, almoçando com ele, rindo das piadas dele. Isso é vida? Era isso que ia acontecer comigo?

  Eu continuei caminhando, pensando na minha miserável vida e Pedro não veio atrás de mim, continuou lá, acredito que ele sabia o que deu devia estar passando e deixou a poeira da minha vida abaixar, se é que um dia minha vida ia ser calma de novo. 
Eu olhava aquelas flores lindas e bem cuidadas do meu lado, sentia o perfume delas e aos poucos eu ia para cada vez mais longe, porém quanto mais eu anda eu ainda tinha a sensação que ainda estava no mesmo lugar. Talvez, por eu estar em um labirinto, pensei eu. Ou talvez, porque esse seria meu destino: Andar, andar, andar e nunca, jamais conseguir sair daquele lugar. 
    E quando eu me cansei, eu finalmente parei e virei meu corpo para frente, olhando para a fachada da mansão. Que tinha uma porta enorme e muitas, muitas janelas. Dei uma olhada rápida e logo achei o quarto onde eu dormi, o reconhecendo pelas cortinas brancas. Mas estava longe, parecia até um pontinho no espaço. Eu ri, ironicamente. 
Eu, Jennifer Sousa Santiago, pobre, moradora do RJ, 17 anos, que viveu a vida inteira nunca casinha pequena, sem luxo nenhum, agora estava vivendo numa mansão. 
   Eu ri novamente, tendo em mim, a certeza que eu trocaria até duas mansões para viver numa casa menor ainda que a minha, contando que meu pai estivesse dentro dela.
   Mas quando eu abri a boca para chamá-lo, eu percebi uma coisa que não devia passar despercebida. Formigas. Sim ,formigas. Elas carregavam pequenos pedaços de plantas das costas e eu as segui. 
    Eram muitas, milhares de formigas no chão, trilhando um caminho único que eu tinha a certeza que me tiraria dali, e estava certa, em poucos minutos, eu sai do labirinto e as continuei acompanhando até que chegassem a sua casinha, no gramado. 
Eu as agradeci silenciosamente e estava ciente que elas eram umas das poucas ‘pessoas’ que me ajudaram desde que eu cheguei. 
     E enquanto eu voltava para dentro da casa, eu parei subitamente e ri, na verdade eu gargalhei comigo mesma. 
É claro, sua idiota, pensei. Isso é um sinal. Eu tinha concluído que por mais que eu andasse, eu nunca ia achar uma forma de sair dessa casa, como no jardim. Mas eu estava errada, eu achei uma saída. Eu ri mais alto ainda, e olhei para o céu, sorridente, agradecendo a quem quer que tenha me dado essa luz. Era tão obvio. Tão obvio. Claro, eu achei a saída onde e quando eu menos esperava, então eu ainda tinha chances de sair daquela casa. 
     Era só procurar. Brevemente, eu estaria livre, livre pra viver a minha vida.
  Cap.3 Onde fica a saída, por favor? 


   Eu passei a manhã e toda a tarde conhecendo as dependências da casa, sozinha. A sala de estar ficava em um grande cômodo próximo ao hall de entrada e tinha belos sofá e poltronas. Uma televisão imensa, um exagero, que era sustentada por um sofisticado móvel, aliás tudo ali era altamente sofisticado. Tinha também sala de jogos, que parecia um parque caro, como ... sei lá, Walt Disney, com direito a carrinho bate-bate e maquinas de pinball. 
  Eu fiquei imaginando o porquê daquela sala, se ninguém, absolutamente ninguém jogava nada naquela casa, aliás o dono ficou fora o dia todo, devia ter ido trabalhar, supus. Possuía também uma sala de ginástica, com instrumentos de malhação dos mais diferenciados possíveis. Esteiras, bicicletas ergométricas, pesos, barras, espelhos enormes, enfim, tudo. Era quase uma academia dentro de casa. Tinha também uma sala, na verdade era um ginásio, sei lá, com uma piscina olímpica, que parecia extremamente funda, com chuveiros em volta, era sem duvidas uma senhora casa. 
  Mas o silêncio dela me perturbava um pouco, como uma casa dessas era tão vazia? Sei lá. 
E tinha muito mais, como sala de jantar, sala de reunião, biblioteca, quartos, muitos quartos, só os que eu contei foram 12, enfim, era um palácio. E claro, tinha uma sala em especial que eu adorei encontrar: O escritório do todo poderoso. Eu logo notei que era dele ,devido a alguns papeis da empresa NBA, que o Pedro havia comentado, então pensei que seria ali onde ele trabalhava. Hum, era bom saber.Mas para não ser pega fuxicando a vida do homem, eu logo saí. E quando eu finalmente voltei para o Hall, caminhando em direção a cozinha, encontrei Mary, que parecia bem melhor do que no episodio da manhã. Ela já tinha uma expressão sorridente, sem muitos esforços, ela era agradável. 
Ela se movimentava facilmente diante do fogão, com um avental na cintura e os cabelos louros segurados por uma touca branca. Ela cantava baixinho, uma musica que eu não sabia identificar, e eu não falei nada, apenas entrei na cozinha e me sentei a mesa, sem deixar que ela me visse. 
   Ela fazia vários pratos ao mesmo tempo e eu torcia para que não servisse aquelas comidas estranhas que geralmente vemos na televisão, que os ricos comem, e eu fiz um ‘eca’ de nojo, que chamou a atenção dela:
            Mary: Jenny, sweetie, you’re here! How are you today?   - ela sorria, mas não me olhava, continuava fazendo suas comidas. 

 E eu não sabia o que dizer. Apenas a olhava. 

           Mary: I know that you don’t understand me, and i’m sad about it. But, that’s ok, Pedro told me that you will learn english with a Teacher, that’s an amazing thing. 

   Eu a ouvia, mas não entendia nada, e ri assim mesmo. 

          Mary: But now, mister Donavan is coming for dinner. 

  Ela engrossou a voz e apontou para o relógio que estava pendurado na parede, em cima do fogão. Eu não entendi o que ela falou, mas pensei que fosse a hora do jantar porque marcava 20:00 na noite. 
Eu sorri positivamente, e internamente me envergonhei por não aprender nada na escola. Para ajuda-la eu pegava as tigelas de salada eu as carregava para a sala de Jantar que ficava próximo a cozinha, fazendo assim várias viagens com comidas para facilitar o trabalho da Mary. Ela tinha feito lasanha, varias saladas e arroz, feijão, como comida brasileira. Talvez porque eu estivesse ali, pensei. Quando eu terminei de organizar tudo na mesa, ela venho com os talheres numa bandeja, e quando se deparou com a mesa, riu alegremente, e pronunciou algo. 

   Eu fiquei confusa, mas ela não brigou, só aprontou-se para organizar tudo de novo, e logo eu percebi que tinha trocado todas as posições da comida. Que coisa mais besta, eu pensei, mas rico era assim! Depois de alguns minutos a mesa esta linda. Não era uma mesa gigantesca como nos filmes, era um pouco menor, mas muito bem arrumada pela Mary. 
Nós a olhávamos ela arrumada, e eu fui para perto de Mary e lhe dei um abraço forte, em forma de agradecimento, pelas roupas e por ser gentil comigo. Ela olhou nos meus olhos e sorriu, até que Pedro apareceu na porta da sala: 
                 Pedro: Can I take a picture ? – ele ria. – Será que eu posso tirar uma foto dessa imagem?

  Eu me assustei quando a voz dele ecoou pela sala, e em seguida ri, soltando a Mary, que também ria.
                Pedro: Bom, está na hora do jantar. 

Sua expressão se neutralizou, e eu o olhei mais seriamente.
               Pedro: E ele chegou para jantar!
    Eu retirei qualquer vestígio de sorriso que ainda estampava meu rosto, e olhei para cada detalhes da expressão de Pedro. Tentando captar explicações para o que ele acabara de dizer, mas uma coisa que já notara era que ele sempre desviava o olhar quando se sentia pressionado, e tanto nervoso só tinha um motivo: Ele estava lá.                       

    Rapidamente, toda a pontinha de alegria que eu senti naquele dia e nos últimos instantes de esvaíram com o vento, e eu já nem me lembrava mais o porque estava feliz, se meu pai estava morto. Talvez porque toda vez que eu olhasse na cara dele, eu lembraria da agonia que eu e meu pai sentimos, eu lembraria o quanto meu pai pediu desculpas e o olhar dele, de repulsa e lastima sobre nós.

    Eu olhei de volta para Mary, que ainda sorria sem entender nada, e ao olhar para Pedro, ele já se aprontava em dizer: 

              Pedro: Você deve comer aqui, com o ele. 
             Jennifer: Mas e quanto a vocês? 

             Pedro: Nós? Empregados na mesma mesa que o patrão? Onde você viu isso, criança? - 
Ele sorriu. 
Era impressionante a habilidade que o Pedro tinha de sempre fazer uma piada com a minha situação. Eu odiava isso as vezes. Ele fez um sinal para Mary, que logo passou por mim e se juntou a ele: 

            Pedro: Ele já deve estar terminando o banho. Logo estará aqui. 

            Jennifer: Eu não posso ficar com ele, seu Pedro. Não tem cabimento. 

   Ele me olhou e entortou a boca. 

            Pedro: Já não falamos sobre isso hoje, Jenny? Porque não faz dar certo?
   Ele piscou e quando eu dei por mim, já estava deixando a sala junto com Mary. 
E o que ele queria dizer com: Fazer dar certo? Fazer dar certo o quê? O meu casamento? Só podia ser palhaçada. Eu não ia fazer parte daquela baboseira, ela o cúmulo do absurdo eu ter que jantar com ele. 
     Eu me virei bruscamente, para ir embora daquela sala, mas antes que eu pudesse dar mais um passo, eu já estava parado à minha frente a menos de um passo de mim. O susto foi tão grande que eu cheguei a escorregar, mas logo me equilibrei, o olhando como um cão feroz, sentindo meu coração pular de medo dentro do peito:              

              Michael: Eu assustei você? 
 Ele disse baixo, quase sussurrou. Apertando aqueles olhos azuis em cima de mim, e direcionando o sotaque americano a minha pessoa. Eu me recompus, a altura. Ergui o corpo, ereta, o olhando de cima, como ele fazia comigo, e tentava não correr de medo: 

                      Jennifer: Se o senhor me permite, eu vou me recolher. 
  Eu ignorei a sua pergunta. E passei por ele, esbarrando propositalmente no seu ombro, me encaminhando até a saída, mas antes que eu pudesse dar o terceiro passo, ele protestou: 

                     Michael: Eu não permito. Como pôde ver, o jantar está servido. 

  Eu parei, e me virei rapidamente. E ele ainda estava do mesmo jeito com segundos atrás, parado, virado para o outro lado, sem mexer um músculo, com as mãos do bolso. Vestia uma calça social e uma camisa azul de botões, que não pareciam nada com roupa de casa: 

                   Jennifer: Então, bom apetite. 

                   Michael: Humor brasileiro. Tão entediante.
   Ele sussurrou e logo caminhou até a ponta da mesa, puxando uma cadeira e sentando-se. Sem olhar para mim, continuou falando: 

                        Michael: Sente-se Miss. Santiago. Suponho que temos alguns assuntos pendentes. 
  Hum, então nós íamos ‘conversar’. Bom, isso era alguma coisa, talvez eu conseguisse reverter aquilo tudo. 
Eu caminhei até o lado oposto da mesa, me sentando de frente e distante dele, que ajeitava uns guardanapos no seu colo, feito um velho babão. 

              Michael: Eu pedi que Mary fizesse comida brasileira, até que se acostumasse com a comida que eu como aqui. 

             Jennifer: Eu não tenho planos de ficar aqui por muito tempo, Sr. Donavan. 
             Michael: É mesmo? E quais são seus planos, Miss Santiago? 

  Ele começava a comer qualquer peixe cru, mas ainda não me olhava, parecia desinteressado, mas como ele me perguntava coisas, eu o respondia educadamente:

            Jennifer: Eu pretendo voltar para minha casa. 

            Michael: E com quem vai viver? 
  Eu não respondi, queria achar uma resposta inteligente o suficiente para deixa-lo sem saída, enquanto isso, terminava de pôr um pequeno prato de comida para mim, e comecei a comer, calma e educadamente: 

           Jennifer: Eu tenho parentes, senhor. Agradeço pela boa ação que teve em me dar abrigo, depois do trágico acontecimento com meu pai, mas eu já estou em condições de voltar para meu país. 

   Eu sentia meu sangue pulsar no corpo, mas eu não deveria explodir, e sim dançar conforme a musica. Eu mostraria pra ele uma Jennifer diferente: Sem gritos, sem choros, sem xingamentos. Eu mostraria uma saída fácil para os problemas dele. 
            Jennifer: Sei que deve estar preocupado com a minha entrada em seu pais, pois sou menor de idade, mas lhe seguro que uma vez no Brasil, eu nunca mais voltaria a perturbar o senhor, e peço desculpas pelo episódio deplorável de ontem, eu estava...fora de mim. 

  Eu estava calma, e as palavras saía livremente da minha boca, mas antes que eu pudesse falar algo mais, ele levantou o rosto, e os olhos dele procuraram os meus. E por um momento, eu não acreditei que um garoto de apenas 23 anos, seria capaz de tamanha brutalidade. Cheguei até a duvidar se a cena em que meu pai foi assassinado, realmente aconteceu. Sempre quando vemos em noticiários, noticias de rapazes que fazem isso, eles são drogados ou mentalmente deficientes, mas ele não. Parecia perfeitamente normal, e era até um rapaz bonito, de olhos marcantes e cabelos bem cortados, parecia que sabia muito bem o que fazia:
                Michael: Sem mentiras, Miss Santiago. Eu sei que a senhora não tem mais ninguém no Brasil. E você não está aqui por piedade minha, está aqui porque é o pagamento da divida que seu pai me deixou. Um grande prejuízo na realidade. 

               Jennifer: Mas senhor, o meu pai nunca lhe viu na vida. Como ele poderia estar te devendo algo?
                Michael: Eu não falo sobre meus negócios nessa casa.
 Ele desviou os olhos e continuou a comer a merda que estava comendo. 

               Jennifer: Ele era meu pai, Sr. Donavan. Ele lhe pergunto: O que sente toda vez que põe a cabeça no travesseiro? Acha que seus pais estão feliz com o que o senhor faz? 

  Ele me olhou grosseiramente, como se eu tivesse comedido uma tremenda gafe. 

                Michael: Cale a boca! Será que você não sabe comer em silencio?
  Ele ordenou, e eu não tive mais coragem nem fome para fazer nada. Empurrei o prato delicadamente para longe de mim, e afastei a cadeira, prestes a me retirar da sala:

            Michael: Não, até eu terminar.
           Jennifer: Como é?
           Michael: Fique na mesa, até eu acabar.
          Jennifer: E o que eu vou ficar fazendo aqui? Olhando pra cara do assassino do meu pai, e imaginando qual será o menu do amanhã? 

  Singelamente ele retirou o guardanapo do calo e limpou a boca, afastou a cadeira e deu a volta na mesa , caminhando lentamente até mim, que sentada, o observava atenciosamente chegar até mim e de pé, me olhar nos olhos: 

           Michael: Seu pai está morto. Eu o matei, e não tem mais nada que você possa fazer. Você vai viver aqui porque eu quero. Então não faça com que eu me arrependa disso, ok?

  Ele me encarou por mais uns instantes e logo se virou para deixar a sala, mas eu também me levantei e alterei um pouco a voz:
          Jennifer: Porque não me mata logo de uma vez, seu maluco? Anda, eu to bem aqui. Agora é muito bonito pra sua cara, seqüestrar uma menina de 17 anos...

  E antes que eu pudesse continuar,ele saiu de vista. E mais vez o ódio da frustração me atacava. Eu não sabia como lidar com aquilo, era demais. Acho que na escola ninguém te ensinar o que fazer nunca hora dessas não é? 
     Mas isso ia mudar, gradativamente. 
Eu subi, e lá eu fiquei, o resto da noite até cair no sono.
 Quando eu despertei, a sensação foi diferente do dia anterior. Naquele momento eu senti que tinha dormido por poucos minutos e mesmo com os olhos fechados eu sabia que o quarto ainda estava escuro. Mesmo assim eu me esforcei e abri lentamente os olhos, procurando me situar no espaço. 
  Eu estava errada sobre ser noite, mas a janela e a cortina branca bloqueavam a entrar dos raios de sol no quarto, e por isso dava a sensação de escuridão. Eu me espreguicei enquanto já me levantava da cama, e antes de poder pensar em qualquer coisa, eu reparei no espelho que havia quebrado dois dias atrás, que estava lá, completamente intacto, como se eu nunca estivesse quebrado-o. Talvez, Pedro o tivesse concertado, pensei. 
   E ao caminhar até a janela, abri a cortina e fiquei um tempo observando o jardim atrás vez do vidro. 
Eu tentaria acatar o conselho de Pedro. Porque não? Como dizem, os amigos você mantém perto, os inimigos mais perto ainda. Então eu estava fazendo errado, não era assim. Do lado de fora da casa, eu vi Pedro carregando uma cesta de plantas sob o fraco sol matutino, tão fraco que até fazia um pouco de frio.
    Eu caminhei até a pilha de roupas de Camillie e achei uma calça jeans e uma regata preta que caia perfeitamente no meu corpo magro. Eu separei a roupa e fui até o banheiro, e logo em cima da pia uma maleta transparente me chamou a atenção, dentro dela tinha tudo o que eu precisaria para manter-me como: escova de dentes, absorventes, sabonetes... e eu tive mais uma prova que eu realmente ficaria ali por um bom tempo. 
 Eu tomei um banho rápido sem molhar os cabelos, fiz minha higiene pessoal e me vesti. Mesmo antes de chegar ao pé da escadaria eu já podia escutar a cantoria de Mary ecoando pelo hall. Eu não sabia identificar a musica, mas ela era super afinada e parecia feliz enquanto cantava. 
    Eu caminhei até a cozinha e ela estava varrendo o chão, mas bastou me ver parada na porta que seus olhos pularam de felicidade. Rapidamente largou a vassoura e caminhou até mim com os braços abertos, e eu não recusei, é claro. A abracei forte e sorri. Instantaneamente ela me soltei e logo se virou, como se procurasse algo. E na mesa ela abriu um pacote e me entregou uma peça de roupa, sorrindo, ansiosa para que eu verificasse. Eu abri a roupa e vi um lindo casaco grande de malha, como um blazer cinza. Eu me vesti e ficou certinho no meu corpo, ela sorria e batia palmas de felicidade. O que me vez acreditar que devia ser horrível viver anos tão sozinha naquela casa, então com a minha chegada ali, ela se animara um pouco.
    E o meu dia se seguiu como o anterior. Eu andei a toa pela casa, fui até o jardim, conversei com Pedro, mas não lhe perguntei nada, nós apenas conversamos sobre flores e ele me contou como era a vida na Califórnia. Ele me contou que estávamos a uma semana do natal e que lá era inverno, o que era estranho porque no Brasil, comemorando o natal no verão. Eu prontamente quis saber sobre a neve, mas ele logo cortou meu barato dizendo que na Califórnia não neva, pois era um estado tropical, e eu fiquei triste, mas não estragaria mais a minha vida por isso. 
    No meio da tarde, nós nos sentamos no gramado em frente a casa e ele tratou de renovar a atadura, e ao ver como estava o meu ferimento se espantou, o que já era de se esperar pois os cortes ainda estavam profundos. Eu o agradeci por ter trocado o espelho do quarto e ele sorriu. E assim se seguiu meu dia, eu ficava a maior parte com o Pedro porque infelizmente não podia conversar com Mary, mas era bom ficar com ele também. A noite, eu fiquei um pouco apreensiva, com medo de mais um jantar dos horrores, mas ele não veio pra casa. Eram 22:00 da noite e a mesa estava posta, mas ele não tinha chegado, então concluímos que ele não viria mais, assim eu convidei Mary e Pedro para comerem na mesa comigo, que aceitaram mas com muita relutância. Foi divertido porque Pedro tinha que falar em duas línguas para que todos na mesa se entendessem.
     E assim, se passou uma semana. O Sr. Donavan não voltou e minha rotina não mudava: Eu acordava ,tomava banho, me vestia, descia, ficava com o Pedro, jantava e ia dormir. O tédio não podia ser maior que isso, e me perguntava constantemente toda vez que encostava minha cabeça no travesseiro: 
   Será que todos os dias na minha vida vão ser assim?
  Na manhã em que eu completava uma semana naquela casa, eu não podia acordar mais entediada com a minha rotina, e tudo se segui como eu já esperava, acordar, tomar banho... Mas no meio da tarde eu propus algo diferente para Pedro: 

               Jennifer: Porque não plantamos uma árvore?
Pedro: Uma árvore? – ele riu – Mas não podemos fazer isso, criança. 

               Jennifer: Porque não? 
Pedro: Porque o patrão...
 Antes que ele continuasse eu respondi. 
              Jennifer: Eu me responsabilizo ...

  Eu sorri de forma doce, entortando o rosto lateralmente e eu sabia que ele não ia conseguir resistir a minha forma doce de conseguir as coisas. De fato, ele concordou e logo trouxe uma muda de planta. Escolhi no canto do gramado, um lugar onde o Sr. Donavan não percebesse logo de cara, isso é se ele percebia alguma coisa a não ser o seu maldito trabalho. 
No momento em que cavávamos um buraco, o barulho de um veiculo tirou nossa atenção, prontamente Pedro correu até o portão, dando passagem para o tal misterioso carro que parou bem perto da casa.    

         Dentro dele, saiu uma mulher alta, com um sobretudo preto, e um coque no topo da cabeça, o que era ridiculamente estranho. Ela caminhou diretamente até a casa, como se já soubesse o caminho e eu voltei a olhar para Pedro que praticamente corria na minha direção, fazendo mímicas, mandando eu entrar logo na cara. 
Então eu corri tanto que cheguei a deslizar no piso limpo do hall, mas logo parei com a gracinha, quando vi a tal mulher olhando a decoração da casa.
                   Jennifer: Senhora? 

   Ela se virou, me olhando fixamente. E era uma mulher linda, jovem com bonitos olhos castanhos. O que será que ela queria ali? 

                  Jennifer: A senhora fala minha língua? 

                  XxXx: Sim, Miss Santiago, como vai?
  Eu me surpreendi por ela já saber meu nome.
                 Jennifer: Eu vou bem... Obrigada.
                 XxXx: Bom, eu sou Lauren, fui contratada pelo Sr. Donavan para ajudar-lhe. 

                Jennifer: Me ajudar? Mas com o quê?

                Lauren: Serei sua personal style. 

Ela sorriu, gentilmente, mas o coque que ela usava tirava toda a minha concentração. 

                Jennifer: Personal...o quê? 
         Lauren: Style, personal style.Eu serei sua assessora de moda. 

Eu ri. 
                Jennifer: Minha assessora? E pra quê eu precisaria de uma? 
                Lauren: Eu não sei os motivos Miss. Santiago, estou aqui para efetuar meu trabalho.
   Eu olhei fixamente para ela, analisando o que ela me dizia. Será que ela tava mentindo? 

               Jennifer: O que a senhora faz, necessariamente?
                Lauren: Eu vou trabalhar diretamente com a senhorita. Vou vesti-la.
 Eu ri mais alto. 
              Jennifer: Desculpe, moça. Mas eu não preciso de ninguém para me vestir, e muito menos alguém mandada por ele. Não estou desvalorizando seu trabalho, fique ciente. 
  Eu já dava as costas, e voltava ao jardim, mas ela continuou a falar: 

             Lauren: O Sr. Donavan me deu instruções, eu não posso ir embora. 

 Eu virei somente a cabeça para ela. Bom, ela não me parecia má pessoa, só queria trabalhar. Mas aceitar uma personal não sei o quê, uma profissional contratada para trabalhar para mim... Esse cara é louco.
               Jennifer: Você sabe onde ele está? O senhor Donavan? 

                Lauren: Não, Miss Santiago.

Eu pensei um pouco, sorria comigo mesma, me dando conta do quão louco era tudo aquilo, mas no final cedi. O que eu podia fazer? Nada.

              Jennifer: Tudo bem, e o que eu tenho que fazer agora? 

Ela sorriu e bateu palmas, contente. 
              Lauren: Agora nada, mas estou ansiosa para começar a trabalhar com a senhorita. Obrigada pela oportunidade, nos vemos amanhã. 

Ela apertou a minha mão, nervosamente e deixou a casa, montada no seu salto agulha. 
Foi ela sair para Pedro entrar, como seus negros olhos loucos por uma informação: 
              Pedro: O que ela queria ?
 Eu cruzei os braços, e respondi, pensativa:
              Jennifer: Falou que vai trabalhar aqui, e pra mim. Alguma coisa sobre roupas e moda.
 Logo, Pedro desenhou um sorriso meigo nos lábios, baixando a cabeça e sussurrando: 
                  Pedro: É agora que o show vai começar!

  Cap4. Comporte-se Miss. Santiago

     
Na manhã seguinte, eu acordei disposta. Já havia se passado muito tempo desde que meu pai faleceu e cada vez mais eu tinha a certeza que eu realmente permaneceria naquela casa, e que lutar contra esse fato só pioraria as coisas. 
Por ser inverno nessa época do ano, eu não dispensava o casaco que Mary havia me emprestado. 
   Quando eu desci as escadas, eu escutei vozes vindo da cozinha, e não pareciam somente de Pedro e Mary. Caminhei até lá, para ver o que acontecia: 

               Jennifer: Bom dia!
  Eu sorri, vendo muita gente em pé, e Pedro conversando com elas. Umas 5 pessoas eu acho e eu nunca tinha visto nenhuma. Eu continuei lá, parada na porta da cozinha, as observando e Pedro veio até mim, com seu sujo macacão de sempre:

                  Pedro: O Sr. Donavan contratou essas pessoas para trabalhar aqui. 

Eu abri os olhos: 

                Jennifer: Mais gente? Mas o que ele vai fazer, dar uma festa?
                Pedro: Eu não sei, criança. Mas estou a fazer a divisão de tarefas. Quer me ajudar?

Ele esbanjou um sorriso pidão.
               Jennifer: Não, seu Pedro, eu deixo pra você. Mas fico observando. 
 Eu continuei lá, parada porta e as vezes pegava uma das pessoas me olhando de canto de olho. Tinham 2 homens e 3 mulheres, todos bem apessoados, com boa postura. 
Pedro falava tudo em inglês e isso fez com que eu sentisse raiva de mim mesma por nunca ter prestado a atenção o bastante nas aulas de inglês que tinha na escola. Eu ri quando eu lembrei o que eu costumava a dizer: Pra quê aprender inglês se eu nunca vou morar lá?. Que ironia do destino! 
     Após conversarem bastante, Pedro lhes entregou pacotes e todos se dispersaram, passando por mim e falando alguma coisa que eu deduzi ser: Bom dia! Logo que saíram, Pedro caminhou sorridente até o meu lado: 

           Pedro: Pelo menos você vai ter mais companhia, criança!
    Eu sorri e o convidei para tomar café da manhã, que com muita relutância ele aceitou. Então, colocamos a mesa, com poucas comidas, como pão, manteiga, alguns biscoitos e suco. Nos sentamos e logo eu perguntei:     
                  Jennifer: Onde está Mary?
                  Pedro: Foi fazer compras. 

                 Jennifer: Hum...E, seu Pedro...O Sr. Donavan sempre faz viagens longas assim?

                 Pedro: Nem sempre, mas as vezes é necessário. Ele não diz muita coisa para nós.
                 Jennifer: Entendi.
  Eu queria perguntar muito mais coisas, mas me contive, eu sabia que Pedro não ia responder nem a metade delas. 
Antes de terminarmos o café, Mary apareceu com poucas sacolas, mas tremendo de frio. E logo a convidamos para juntar-se a nós e tomar uma xícara de café, e ela não recusou. 
No momento eu fiquei sei lá, feliz sabe. Olhava a minha volta e tinha uma mulher gentil, e um homem atencioso e senti saudade de quanto eu, meu pai e minha mãe sentávamos à mesa assim. Talvez Mary e Pedro fossem minha nova família, apesar de serem ótimas pessoas o buraco da perda de meus pais, ficaria aberto para sempre no meu peito.

  Antes que pudéssemos terminar o café da manhã, o interfone nos avisava que alguém nos chamava do lado de fora da mansão. Rapidamente, Pedro foi atender e eu e Mary nos entreolhamos. Eu não sei Mary mas eu pensava: Essa casa está movimentada hoje!
Poucos minutos depois, Pedro volta acompanhado de um senhor baixo com barbas ralas e cabelo penteado para trás: 

             XxXx: Bom dia!
   E eu pensei: Todo mundo deu pra falar português agora? 

           Jennifer: Bom dia, senhor...

           XxXx: Oliveira. – Ele estendeu a mão e eu prontamente me levantei da cadeira e o cumprimentei. – Sou Alberto Oliveira, seu professor de inglês.
   Pedro estava parado atrás dele, e eu olhei para Mary que continuava sentada na cadeira com expressão neutra, não entendendo nada o que ele falava. E eu tentava entender o quão surreal era aquilo tudo, mas cada tentativa, era uma enorme frustração:

             Jennifer: E o senhor vai me ensinar inglês, aqui? 

             Alberto: Sim, Miss. Santiago. 

  Eu cocei a cabeça e aproveitei a oportunidade para perguntar:
            Jennifer: Bom, então o senhor poderia me dizer porque todo mundo me chama de Miss? 
   Ele fez uma careta e rolou com os olhos, tendo certeza que de teria muito trabalho comigo. 
            Alberto: Porque ainda é jovem, suponho que não seja casada, então aqui Senhorita se diz Miss, e Santiago porque nos referimos a pessoas pelo seu sobrenome. Então aqui a senhorita é Miss. Santiago. 

           Jennifer: Hum, entendi. Então... – eu gaguejei. – Vamos começar.
   Ele me perguntou sobre o melhor lugar para começarmos e eu indiquei a biblioteca, achei que nada mais propício. E como eu já imaginava ele era bem rigoroso para um baixo. 
Não perguntou nada sobre mim, como o que eu fazia ali, onde eu vivia e porque não sabia falar inglês... simplesmente começou a me dar aulas, e toda vez que eu errava ( eu errava bastante ) ele batia com uma régua de madeira na mesa, fazendo um barulho estrondoso. O que me assustava. 
  Horas se passavam e ele não ia embora, e quando meu suor de desespero começava a descer eu me apavorava mais ainda. Eu simplesmente era uma negação com o inglês, e ele só falta me bater, dizendo que era loucura eu não saber nem falar ‘oi’. Mas por mais que eu o escutasse repetir uma palavra 10 vezes, eu sempre repetia errado. 
     E ele caminhava pela grande sala, gritando as palavras e pedia que eu as repetisse. 
Eu sei que ficamos horas lá dentro daquele matadouro, o nervoso que eu sentia toda vez que ele batia aquela régua era fora do comum e quando eu estava prestes a expulsa-lo de lá, ele mesmo deu a palavra final: 

                     Alberto: Eu vou embora. – E assim, recolheu seu maleta. – Mas amanhã eu volto Miss. Eu não sei nada! 


Ótimo, agora eu tinha um apelido! 

                   Alberto: Entrarei em contato com o Sr. Donavan, e falarei sobre esse nosso...lamentável encontro.
  Eu me enfureci, se ele quisesse me chamar de burra, era só falar! Eu logo me levantei, o acompanhando até a porta, e antes que ele deixasse a casa eu falei:
                 Jennifer: E quando o senhor falar com ele, diga que eu o mandei ir à merda! Obrigada! 

E bati com força a porta na cara dele. 
     Eu não podia descrever o ódio que eu senti do Donavan naquele momento. Eu seria forçada a aprender inglês? Eu nunca gostei de inglês! E ainda teria que escutar um nanico falar que eu sou imbecil, pode isso? 
Eu sai pisando fundo até a cozinha e Pedro me olhou curioso, observando minha expressão de raiva:
                 Pedro: Como foi?
                Jennifer: Horrível, Pedro. Eu não sei nada disso, nunca quis aprender. – Eu dizia alto, fazendo gestos com as mãos, raivosa! 

               Pedro: Tenha paciência, criança. 
              Jennifer: Não dá. Eu não sei... enrolar a língua e ... falar. – disse fazendo caretas.
Ela ria, para me acalmar.                 

              Pedro: Como não? Eu um velho, burro, e feio sei falar, porque uma moça bonita não aprenderia também?

  Eu acabei rindo dele. 

             Pedro: É só ter paciência, criança. Vai dar certo!
  Eu acenei positivamente, e ele encostou o dedo indicativo na minha testa a empurrando de leve e rindo. 

          Pedro: Agora vamos trocar essa atadura? Acho que será a ultima vez!
  Ele comentou e nos fomos para o jardim.
A tarde diferente da manhã, correu como de costume. Os meus ferimentos da mão estavam quase cicatrizados e em poucos dias eu já poderia tirar a atadura. 
No meio da tarde, eu sentei no gramado, sozinha, observando de longe, Pedro falar com os novos funcionários, que seriam 2 seguranças e 3 faxineiras. Eu não cheguei a falar com nenhum deles, porque não falava inglês, mas eles as vezes riam para mim. E como Pedro falou:  Pelo menos, seria mais gente pra cuidar de mim ! 
  À noite, eu ajudava Mary a por a mesa, com uma pequena e simples refeição, já que o todo poderoso estava fora. Mas como tínhamos mais funcionários a comida tinha mais que dobrado. Pedro me falou que alguns iam para casa cuidar da família e outros ficavam na casa para funcionários que tinha em anexo à mansão, lugar onde o Pedro e a Mary também dormiam. 
Quando estávamos prestes a sentar à mesa, o interfone toca e eu torci para que não fosse nenhum imprevisto. 
Mas antes mesmo de Pedro entrar na casa, acompanhado da visita, eu já imaginava quem era: 

              XxXx: Boa noite! 

Eu sorri, indo cumprimenta-la. 

             Jennifer: Boa noite, senhorita Lauren. Como vai?
             Lauren: Bem, obrigada. Preparada para a sua aula?
 Eu torci os olhos. 
            Jennifer: Agora? Mas...nós vamos jantar. 
 Eu gaguejei, apontando para o Pedro e Mary que estava atrás de mim, apostos. Ela riu e acenou positivamente. 


             Lauren: Eu espero. Onde fica seu quarto? Quero começar a arrumar o nosso material.
   Ela dizia, apontando para a grande bolsa de couro que carregava no ombro. 
Eu dei as coordenadas para ela, e pensei comigo:   Agora sim eu entendi porque Pedro falou: O show vai começar!
     O jantar se seguiu em silencio, por consideração a mim, eu supus. É claro que eu estava ciente, que se o que Pedro me falou sobre casamento, mas se fosse realmente verdade, seria um desastre. E tudo o que acontecera nos últimos dias só me dava mais certeza de que realmente era isso que ia acontecer, mas o todo poderoso da casa não voltava da tal viagem, dias se passavam e nada. Tudo aquilo só me enojava mais, fazia com que eu tivesse raiva de mim mesma por estar naquela situação.

     Eu comi pouco e sem vontade alguma, deixei comida no prato e me retirei, para atender minha visita que me esperava no quarto. Eu subi e bati na porta duas vezes:

                 Lauren: Pode entrar, Miss. Santiago. 

  Eu respirei fundo e abri a porta. E a minha cama estava tomada por objetos, e enquanto eu entrava lentamente do quarto eu olhava tudo o que ela fazia: 

               Lauren: Desculpe me apossar da sua cama assim, mas é necessário para começarmos.
   Tinha milhares de roupas, incontáveis sapatos altos, livros, revistas e eu pensei se ela tinha tirado tudo aquilo da pequena bolsa que carregava. 
Eu olhei para ela, assustada, mas ela ao contrario de mim, sorria, aparecia ansiosa com aquilo: 

              Lauren: Bom, basicamente, eu vou te ajudar em tudo o que você precisa ser para tornar-se uma verdadeira dama. 

             Jennifer: E eu vou ter que usar tudo isso?
             Lauren: Bom... estamos começando agora, devemos ir com calma.
 Bom, pelo menos ela não tinha régua de madeira. 
 Eu me sentia desolada, era como se eu tivesse que me encaixar naquele mundo sabe. Aprender inglês, usar salto alto, e vestidos caros... isso não fazia meu gênero. Eu sempre usei Jeans e o velho all star, não poderia virar uma dama da alta sociedade americana. Mas a boa vontade de Lauren me contagiava, e eu me esforçava um pouco para tentar fazer o que ela me pedia. 
  Inicialmente trabalhamos com os livros, que como em muitos filmes eu teria que caminhar com livros em cima da cabeça. 
Ela disse que era para corrigir a postura, para dar leveza ao corpo, que eu não deveria parecer um cavalo caminhando pela casa. E disse também que estudou muitos anos em são Paulo, por isso falava tão bem o português. 
Lauren, ao contrario do senhor Alberto, era muito gente boa, paciente e não parecia ter mais de 30 anos. Tinha olhos verdes, e cabelos castanhos claros, super carinhosa e me adiantou logo que iríamos ter meses de trabalho. 

   E foi o que realmente aconteceu. Eu tive meses de trabalho com ela e com o senhor Alberto. Um dia desses, no meio da terrível aula de português, Pedro comete o terrível erro de entrar na biblioteca, fazendo o senhor Alberto quase morde-lo de ódio, mas ele teve coragem:
       Pedro: Desculpe interromper a sua aula, senhor. Só queria desejar feliz natal para a Miss. Santiago. 

E ele se aproximou de mim, me tanto um beijo na testa e saindo rapidamente do lugar. 
Aquele gesto me fez perceber que minha vida tinha se tornado tão repetitiva que eu esquecera os dias. Era meia noite de natal e eu estava tendo aulas de inglês com um monstro não-religioso. E só de pensar que semanas atrás eu estava saindo com o meu pai para fazer compras de natal eu sentia raiva com o que a vida fez comigo, raiva por cair de pára-quedas nessa, raiva por passar 18 horas do meu dia estudando inglês e etiqueta.
   E assim eu passei dois meses. Em horas incansáveis, todos os dias eu estudava. Todos os dias eu era obrigada a falar perfeitamente cada palavra em inglês e toda noite eu sentia raiva de mim mesma por me deixar viver nessa situação. Mas um dia isso tudo ia mudar, nem que o todo poderoso tivesse que morrer, pra eu ser livre de novo. E eu faria jus a morte do meu pai e acataria do meu jeito a ultima frase que ele me falou antes de morrer: - Não se esqueça de fazer o dever de casa. E uma dessas noites eu sussurrei para mim mesma antes de dormir: 
           Jennifer: Eu vou fazer o dever de casa, pai. E ele vai se arrepender do dia em que pisou na nossa casa! 
  
Estávamos no final de janeiro, um dia antes do meu aniversário, e ninguém sabia dele. Eu fiz questão de não contar nada pra ninguém, porque com certeza eu já tive aniversários melhores, e mesmo se eu apagasse as velas pra fazer um pedido, não seria possível realiza-lo. Eu já tinha me conformado que meus pais haviam morrido e que eu definitivamente morava nos Estados Unidos. Claro que morar naquela casa sem ter que olhar para do todo poderoso era muito mais fácil, mas não dizia que ele nunca mais fosse voltar, afinal de contas ,ele era o dono daquilo tudo.

   E as aulas, aff, as terríveis aulas de inglês continuavam, cada dia piores e mais difíceis mas eu tinha me conformado em tentar fazer tudo certo, porque se eu entrasse na linha e mostrasse pro Donavan que eu sou mais do que aquela criança rebelde, ele veria do que eu sou capaz. Então com horas e horas diárias de aula, sem pausa, sem feriados ou finais de semanas livres eu aprendi o inglês. Bom, vivendo numa casa onde todos os funcionários falavam inglês, era mais fácil você se acostumar com o idioma, no começo até o Pedro começou a falar algumas palavras em inglês nas frases, mas agora ele já falava tudo em inglês comigo e eu o conseguia acompanhar. E era bom para que eu me adaptasse melhor. Mas mesmo assim, eu ainda tinha aulas com o Alberto, que apesar de rigoroso, era um professor bom. 
  ( Jennifer começa a falar inglês o tempo todo, a partir desse post )
         Pedro: O que você está fazendo, criança?

Eu rapidamente fechei a agenda e olhei para trás, ainda sentada: 

           Jennifer: Só, escrevendo algumas coisas....bobagens. – eu sorri de lado. 

            Pedro: Esta na hora da janta e Mary fez bolo de chocolate para a sobremesa.

 Eu sorri alegre, me lembrando da ultima vez que Mary tinha feito bolo, e o gosto de quero mais ainda ficava na minha cabeça. Mas antes que eu pudesse me levantar, Pedro se sentou do meu lado, na bancada perto da piscina da casa. 

             Pedro: Faz bastante tempo, não é? -
Ele olhava pra frente, pensativo. 

            Jennifer: Bastante tempo o quê, seu Pedro? – Eu o acompanhei, também olhando para frente. 

            Pedro: Desde que você chegou aqui, desde que o Sr. Donavan viajou, desde o Natal...

            Jennifer: Concordo. Quando será que ele volta?

            Pedro: Eu não sei, ele nunca ficou tanto tempo fora. 
             Jennifer: Viver aqui não ameniza minha tristeza, mas fica mais fácil quando ele não está. 

 Eu sorri de lado e Pedro abaixou a cabeça. Eu me levantei para tentar fugir desse assunto e puxei Pedro comigo, para jantarmos. 
Nos caminhamos até o outro lado da mansão lentamente, falando sobre coisas do dia a dia e sobre a vida do Brasil, como sempre conversamos , mas antes que pudéssemos chegar à cozinha eu senti o arrepio nos meus braços e o coração bater forte. Pedro, me olhou fixamente, como se já quisesse me avisar do que estava por vir. E sussurrou, antes de entrarmos no hall:
               Pedro: Ele chegou!
      Eu espirei fundo, mas não conseguia me acalmar. Dois meses de lembranças rodavam na minha mente, a agonia do meu pai, a raiva que eu senti, o barulho da régua do Alberto, o medo de ficar sozinha no mundo, a saudade de casa, tudo se misturava e invadia minha cabeça com tanta força que era como se fosse o dia do meu juízo final. 

      O Donavan ficou tanto tempo fora, que eu já tinha me acustumado a viver na sua ausência, e confesso que sem sombras de duvida era mais fácil viver sem ter que olhar para o cara que matou meu pai. Mas eu tinha que encarar a realidade, e enfrenta-lo, mas dessa vez era diferente porque eu não ia desistir. Eu ia fazer certo. 

     Eu respirei fundo novamente e acenei com a cabeça para Pedro, para que continuássemos andando. 
Logo, entramos no Hall e Pedro não parou, seguindo diretamente para a cozinha, sem olhar para os lados, e eu diferente dele, parei no canto do hall, perto das escadas e silenciosamente fiquei observando ele falar com um homem vestido como ele, de terno e aparência exuberante, só que bem mais velho. E mentalmente, eu agradeci ao Alberto pelas aulas de inglês:

              Michael: Obrigada, você fez um ótimo trabalho. Espero vê-lo em breve. 
             XxXx: Igualmente. Até mais. 

   Eles apertaram a mão e o homem se foi, acredito que não tenho percebido minha presença, mas só foi ele bater a porta que o todo poderoso da Califórnia se virasse para mim, me olhando de forma agradável, como se quisesse me contar uma super e interessante novidade, o que era estranho, porque ele sempre pareceu muito irritado:

               Michael: Olá Miss. Santiago. Como vai?
A vontade de voar em cima dele era grande, mas graças a Lauren, eu tinha aprendido a controlar minhas emoções, e ao invés de ataca-lo, eu o a tratei gentilmente:

                   Jennifer: Olá senhor. Eu vou bem, e o senhor, como foi de viagem?
   E meu cinismo era imperceptível. Eu agia como se nada tivesse acontecido, como se eu realmente tivesse preocupada com aquele crápula, e ele pareceu se assustar também, talvez pensasse que eu despejaria xingamentos para cima dele:

                   Michael: Eu fui bem, obrigada. Espero que tenha sido bem tratada em minha ausência. 

                  Jennifer: Melhor impossível, senhor. 

                  Michael: Ótimo. E seu inglês, está muito bom. Vejo que se esforçou bastante. – Ele dizia colocando a mão no bolso. 
                Jennifer: Sim, graças as aulas proporcionadas pelo senhor. Obrigada por isso!

                 Michael: Não há de quê, Miss. Santiago. Bom, será que eu cheguei a tempo do jantar?

                Jennifer: Na verdade, chegou bem na hora, senhor. 

                 Michael : Perfeito, peça que Mary coloque a mesa, que já descerei. 
  Ele disse passando por mim, e subindo as escadas, como se fosse um velho amigo meu, como se tivesse esquecido que matou meu pai. Talvez ele tivesse esquecido mesmo, cretino. Mas eu procurava manter a calma, e repetia varias vezes pra mim mesma, que eu teria que me juntar a ele, ou pelo menos faze-lo acreditar que eu estava do seu lado, pra saber como fugir daquele mundo de luxo e matança. 

     Prontamente eu fui avisar a Mary, da chegada do homem, mas ela já sabia e a mesa da sala de jantar já estava posta;

                 Jennifer: Eu ia ajudar você, Mary. 

                 Mary: Comporte-se hoje, Jenny. E olha – ele sorriu piedosamente. – Boa sorte. 

Eu supus que ela quisesse dizer: Deus tenha piedade da sua alma! 
  Não precisei esperar muito para que ele aparecesse na sala de jantar novamente, mas enquanto ele não descia eu fiquei na sala de jantar sozinha, olhando para um quadro abstrato na parte, pensado se ele ficaria ou se viajaria novamente, e porque ele me tratou normalmente, sei lá... e aquela velha pergunta ainda pairava do ar: Porque eu ainda estou aqui? 
   Acho que no fundo eu não acreditava nessa historia que ele, um jovem rico e americano, obrigaria uma brasileira que mal fala sua língua para se casar... era tudo confuso, e quando se tratava dele , era tudo nebuloso, obscuro, secreto. Eu tentei afastar essas difíceis perguntas por um momento e me acalmar. Respirei fundo e instantaneamente lancei um olhar para as roupas que eu usava, um vestido lilás de mangas curtas, que Lauren tinha me dado. Não era tão chique, mas tinha um pano fino e confortável, e eu esperava que ele não se incomodasse com isso também. 
       E entre um pensamento e outro, a grave voz dele, invade toda a sala e meus ouvidos: 

                        Michael: Demorei?

  Eu o olhei para trás, sem pressa, o observando caminhar até a mesa e puxar uma cadeira para que eu sentasse. De longe, ele me olhou e fez um gesto com a mão, pedindo que eu me aproximasse e sentasse. Eu o olhei bem, e tive vontade de perguntar : Você não tem vergonha na cara, não?, mas eu deixei as perguntas de lado, e sorri timidamente. Me aproximei dele, e quando cheguei bem perto, cara a cara, ele sussurrou em português, com aquele inconfundível sotaque americano: 
                         Michael: Você está linda hoje!
  Eu não deixei transparecer nada, nenhuma reação. Pois por mais difícil que fosse fazer de conta que eu gostava daquilo tudo, eu não podia fingir a todo momento. Estar com ele era pior que a morte ou solidão eterna, era cruel.
   Ele deu a volta na mesa e se sentou. Vestia uma camisa social preta e uma calça também preta, que contrastava bem com a pela branca. Eu não o esperei e comecei a comer, sem olhar para ele, sem enxergar o pavor do meu pai através dos olhos dele. Mas ele continuava a falar:

                  Michael: Como está sendo sua estadia aqui, Miss. Santiago?

                 Jennifer: Ótima, senhor. 
                 Michael: Ótima noticia. Aprovou o trabalho dos novos serviçais?

                Jennifer: Eu não tenho que aprovar nada, Sr. Donavan. 

                Michael: Sua opinião é importante, quero que esteja a vontade aqui. 
                Jennifer: Mais a vontade, impossível... – Eu o olhei fixamente, sentindo o gosto do ódio naquela comida. – Senhor.

Eu pensava: Como é que pode, um fedelho de 23 anos se sentir o dono do mundo? Decidir quem vive e quem morre? 
Ele não falou mais nada, apenas se servia de um vinho que tinha na mesa, e eu disfarçadamente, comia o mais rápido que podia, para me livrar daquela situação embaraçosa. Mas antes que ele soltasse um berro, eu continuei na mesa até ele terminar, como ele havia ordenado no nosso ultimo jantar. Imbecil, burguês safado!
    Silencioso. Foi assim que se seguiu o jantar. 
Ele parecia tranqüilo todo o momento, comendo vagarosamente apreciando cada garfada que colocava na boca. E eu ainda olhava para baixo, mesmo com o prato vazio, só aguardando o todo poderoso. Mas antes mesmo que ele terminasse, talvez porque percebeu a minha agonia por estar ali, ele mesmo falou:

             Michael: Pode se recolher, Miss Santiago. 

  Ele me pegou distraída nos meus pensamentos e eu não escutei: 

            Jennifer: Hã? Me desculpe, senhor...

            Michael: Pode subir, Miss. Santiago.
   Ele me olhava fixamente, degustando do vinho. Ele era tão bonito, tinha um rosto perfeito, porque matou meu pai, Michael? Eu quis perguntar isso a ele, mas não o fiz. 
Eu encarava aqueles olhos, e me lembrei de momentos antes de meu pai falecer, quando eu estava colada no corpo dele, implorando por piedade, e tudo o que ele falou foi: Faça as honras da casa! Eu senti nojo de mim por me deixar rebaixar e sentar-me à mesa com ele. 
As lágrimas apareceram nos meus olhos, e ele ainda me olhava fixamente, já haviam passados minutos, mas ainda estávamos lá.
    A luz fraca do ambiente, acentuava ainda mais as expressões dele, e o rosto quadrado que ele tinha ficava ainda mais destacado. Mas a vontade de subir naquela mesa, pular em cima dele e encher a cara dele de soco era quase incontrolável, me consumia a todo momento. E eu tinha quase certeza que ele sabia que eu me sentia assim, porque me olhava eu não sei se por sarcasmo ou porque estava tirando uma com a minha cara... sei lá. Mas ele me olhava:             

                  Michael: Vá deita-se. Amanhã temos o dia todo. 

Eu balancei a cabeça de leve, para sair do transe e acatei o pedido. Levantei-me sem dizer nada e deixei a sala. 
Depois de escovar os dentes e vestir minha roupa de dormir, eu deitei na cama. Finalmente, estava livre novamente daquele maníaco. 
   E me lembrei dos meses que ele estava fora, que não tinha que olhar pra ele, que não tinha que viver na sombra dele. Porque não adiantava eu tentar negar, ou simplesmente não reconhecer que agora eu vivia as custas dele. Eu morava na casa dele, comia a comida que ele fornecia, e dormir na cama dele. Eu dependia dele pra viver, mas será que eu suportaria viver naquelas circunstâncias? 
Eu não sei. 
    A única coisa que eu sabia era que o dia seguinte não ia ser fácil, pois ele estaria lá. Como todos os dias da minha vida dali pra frente. 
    Não demorou, e eu cai no sono. 
        Cap.5 O sacrifício
   
O ar frio da Califórnia no inverno era chato. Me fazia sentir saudade do calor do verão brasileiro, mas quando a gente acorda, aquele friozinho que corre do corpo é tão bom. Mas eu sabia o motivo daquele súbito friozinho, e sem abrir os olhos eu implorei:
                Jennifer: Mary, só mais 5 minutos....por favor!

                Mary: Não, já passou da hora de levantar. Assim, vai perder a manhã toda. 
  Ela abria as cortas, deixando o clarão invadir o quarto. 

                Jennifer: Porque eu tenho que acordar cedo, se eu não faço nada?

                Mary: Porque eu gosto de conversar com você. 

  Eu ri e ela também. Eu levantei e a olhei, se aproximar da minha cama, e me olhar carinhosamente:

               Mary: Como você se sente hoje, Jenny?

              Jennifer: Sozinha entre milhões. 

  Ela esboçou um sorriso. E eu ignorei COMPLETAMENTE a idéia de dizer para ele que era meu aniversario. 

               Mary: Vista-se, o Sr. Donavan a espera.
   Aff, obrigada por estragar meu dia Mary, pensei. 
Ela deixou o quarto e meu levantei, me espreguicei, enrolei.. tudo para atrasar mais ainda o meu dia de tortura. Tomei um banho demorado e deixei os cabelos molhados, vesti uma calça jeans, um moletom bem largo, mas que me acolhia no frio e o meu all star. Dispensei todas as dicas de moda da Lauren e coloquei a roupa mais a vontade possível.
   Eu nunca ia me arrumar para o Donavan, nunca. 
   E assim eu desci as escadas, já procurando com os olhos com ele estava, em vão. Na cozinha Pedro conversava com Mary, mas quando eu apareci eles pararam de falaram rapidamente: 

                   Jennifer: Tudo bem, gente?

                   Pedro: Ér, tudo sim. Porque não senta e toma café da manhã?

  Ele tentou disfarçar mas eu senti o climão. Eu sorri e de pé mesmo, peguei um pedaço de bolo, e perguntei com a boca cheia: 
                   Jennifer: Cadê o homem?

  Pedro me olhou triste, e fez um gesto com as mãos: 

                  Pedro: Acalme-se, criança. 

  Eu franzi a testa mas antes que eu abrisse a boca pra perguntar o que estava acontecendo, o chefão do mundo deu o ar da graça, chamando meu nome e eu logo me virei, engolindo o bolo todo de uma vez e limpando a boca:   

                 Jennifer: Sim, senhor?

 Ele me olhou de cima a baixo e rolou com os olhos. Obviamente irritado por eu estar de moletom e jeans, sendo que no dia anterior eu estava tão .... bonitinha. 
   Ele pareceu não gostar do que viu. Mas ao contrário de mim, ele estava de terno, como sempre, e eu perguntei se ele não tinha outra roupa.

             Michael: Você está pronta?

             Jennifer: Para o quê, necessariamente?

             Michael: Para a cerimônia!!! 
   Eu apertei os olhos em cima dele, tentando me manter equilibrada, mas já sabendo onde essa historia terminaria.       


             Jennifer: Que tipo de...cerimônia...Senhor?

             Michael: De casamento, é claro. Ou você não sabia que se casaria comigo?

   Eu não quis mais ouvir aquilo, era loucura. Eu não podia me casar no dia do meu aniversario de 18 anos, com um estranho, assassino, nos Estados unidos. Era surreal, fora de cogitação, e minhas pernas bambeavam, o medo que me invadiu foi tão grande que eu deixei minha voz ser afetada, e gaguejando eu pedi:

            Jennifer: Se-senhor Donavan... eu te imploro, senhor. Não me obrigue, por – por favor. Eu quero me casar, senhor.
 Ele me olhava neutro, sem denunciar qualquer tipo de emoção. 
            Michael: Já está decidido, Miss Santiago.
  E assim ele se virou, mas antes que desse um passe eu puxei o braço dele:
               Jennifer: Senhor, senhor... por favor, não faça isso comigo, eu não posso senhor. Sou menor de idade, não posso me casar. Eu posso trabalhar nessa casa de graça pelo resto da minha vida para pagar o que meu pai deve , mas por favor, não faça isso senhor. – eu já começava a chorar de desespero e o meu corpo cai ao chão, me deixando ajoelhava segurando a perna dele – Por favor senhor, eu te imploro, tenha piedade. 

                Michael: Levante-se, não me faça te arrastar até o salão. – ele disse, me olhando e desdenhando minha ação. 

  Ele puxou a sua perna brutalmente me fazendo cair de lado e saiu caminhando em direção ao salão de festas. Antes que eu começasse a gritar, Mary veio até mim, também chorando. Claramente tinha presenciado tudo: 

                 Mary: Levante-se Jenny, vá atrás dele. Vá, vá. 
                Jennifer: NÃO. EU NÃO VOU ME CASAR COM ELE.- eu comecei a gritar e chorar. 

                Mary: Jenny, jenny ,olhe para mim. Você não vai querer afrontar esse homem. Eu digo por conta própria: Ele é perigoso, e não vai te perdoar se não entrar naquela sala agora e assinar aquele papel. Vá, e case-se com ele. 
Ela me olhou fixamente, e eu senti o desespero no tom dela. E eu queria lutar, dar um jeito de acordar daquele pesadelo, mas não era possível, porque ali era a minha realidade, no chão, chorando por um pouco de compaixão.    
Ela me puxava, tentando me levantar, mas eu não fazia esforço para sair do chão, eu estava entregue. Eu desisti de tentar fazer parte daquele mundo. 
Até que Pedro apareceu, meio afobado e parou diante de mim: 

            Pedro: Levante-se. – ele ordenou.

           Jennifer: Ele vai me matar. Ele vai acabar comigo. – eu chorava, cada vez mais. 
            Pedro: Pense em seu pai, criança. Pense nele.

 Eu me recusava a pensar. Seja lá em que fosse, mas era impossível não pensar no que meu pai me disse sobre fazer o dever de casa!
Era isso, essa era a hora de eu começar a fazer. Era a hora de eu entrar naquele mundo definitivamente, e por mais que levasse uma vida inteira, um dia, eu ia vingar a morte dele. 

 Essa sim, era a única certeza que eu tinha na vida. 
 Eu demorei pra levantar, mas quando o fiz, foi de uma vez só. Me ergui e limpei as ultimas lágrimas que eu deixaria cair. Sai caminhando em direção ao salão de festas e sem olhar pra trás, eu entrei lá. 

  Tinha somente um homem de terno, o mesmo do dia anterior que falava com o cretino no hall, e outro homem que estava em pé atrás de um mesa. Talvez fosse o juiz que oficializaria o casamento, pensei. 

   Quando eu entrei na sala, eu caminhei direto para a frente da mesa, sem perguntar nada. O Donavan se aproximou, parando também do meu lado, e acenou positivamente para que começasse a cerimônia. 
E eu me lembrei que minha idéia de casamento não era essa. Eu estaria de vestido branco, véu e grinalda, entrando numa igreja com meu pai , caminhando até o homem que eu aceitaria passar todos os dias da minha vida. Não me casando numa sala, de moletom, cabelos molhados, com um assassino. Eu deixei uma lágrima cair, involuntariamente, mas minha postura era ereta, eu estava dura como uma pedra, olhando diretamente para o juiz, que logo começou a falar. 
Eu sentia meu corpo tremer de raiva, o ódio crescer mais , a sede de vingança tomar conta do meu eu. 
   E na pergunta que mudaria minha vida, eu fiz questão de não pensar em mais nada, prestar bem a atenção para não me esquecer daquele momento nunca mais nada vida: 

         Juiz: Michael Silas Donavan, você aceita essa jovem: Jennifer Sousa Santiago para ser sua esposa, na alegria, na tristeza, na riqueza e na pobreza...Até que a morte os separem?
   Eu não fiz questão de olhar para ele, mas ele prontamente, respondeu:

        Michael: Aceito! 
       Juiz: Jennifer Sousa Santiago, você aceita esse jovem: Michael Silas Donavan para ser seu marido, na alegria, na tristeza, na riqueza, na pobreza... Até que a morte os separem?
        Jennifer: Eu sou ilegal no país, não posso me casar. 
    Eu senti a respiração do Donavan acelerar, mas eu estava decidida a fazer de tudo para acabar com ele. O juiz me olhou estranhamente e logo se curvou na mesa para procurar alguns papeis que confirmasse o que eu disse, mas logo se virou para mim, ajeitando seus óculos e lendo um papel:
             Juiz: Não, Miss. Santiago. Aqui consta que você é uma recente oficializada cidadã americana. 

  Eu arregalei os olhos ,e quase gritei:

            Jennifer: Cidadã americana???? Não senhor, eu sou Brasileira, pode procurar senhor...

  Eu também me curvei, procurando alguns papeis que provessem o que estava falando. Donavan permanecia ereto, sem mover um músculo:

            Juiz: Não, esta tudo certo. Você é órfã, e atualmente mora aqui, não é? 

            Jennifer: Sim ,mas ....

            Juiz: Você foi oficializada como cidadã, sem mais, Miss. Santiago. 
  Ele pareceu se irritar, e eu não sabia o que estava acontecendo, mas é claro que tinha o dedo do cretino nisso. 
             Juiz: Então, você aceita se casar com o senhor Michael Silas Donavan?

 Eu não pude acreditar, era o fim.  Eu virei todo o meu corpo para o Donavan, que somente virou a cabeça para mim, me olhando fixo, mas visivelmente puto com o que eu fiz. Com os olhos cheios d’agua eu sussurrei a ultima vez:   


             Jennifer: Não, por favor...

Ele não disse nada, apenas olhava no fundo dos meus olhos.
             Juiz: Aceita, ou não?
 A lágrima caiu e eu pensei: Me desculpe, pai. 
E antes de dar a resposta, eu olhei para dentro dos olhos do Donavan e sussurrei em português:

             Jennifer: Seu desgraçado! 

Me virei para o Juiz e respondi:

             Jennifer: Eu aceito!
   Eu respondi, ainda encarando o cretino, que fazia o mesmo. 
               Juiz: Podem trocar as alianças.

  Rapidamente, o homem que estava na casa ontem e assistia a cerimônia, tirou uma caixinha do paletó e entregou ao Donavan, que a abriu e tirou minha aliança de lá. 
Virou-se para mim, sem me olhar, e de qualquer jeito, enfiou o anel no meu dedo.
Eu também peguei o anel na caixinha, e segurei a mão dele na minha. Tentando enxergar onde eu havia errado, para estar ali naquele momento. 
  Eu olhei para ele, e ele também me olhou. Seus olhos azuis gritavam de raiva em cima dos meus, e seu corpo também queimava de ódio perto do meu, eu podia sentir. 
Ali não havia magia ou amor, coisas que um dia eu sonhei para o dia do meu casamento. Ali havia, tristeza, raiva, mágoa, saudade, ambição, interesse, medo... tudo o que não se devia ter em um casamento. 
Mas brevemente eu o fiz. Coloque a aliança da mão esquerda dele, bem devagar.

         Juiz: Com os poderes à mim concedido pelo estado da Califórnia, eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noi....
Antes que o juiz terminasse de falar o Donavan deixou sala, pisando forte.
  E em seguida, o Juiz que parecia confuso com tudo aquilo, arrumou seus papéis e saiu, escoltado pelo o homem que também assistia a cerimônia. E eu fiquei sozinha, como já era de se esperar. 
Eu dei um tempo lá, não chorei mais , mas também evitava pensar em qualquer coisa que fosse, porque eu tinha certeza que em qualquer coisa que eu pensasse, eu sempre seria a errada. E eu era. Eu tinha a certeza disso. 
Eu ia ser a esposa dele, mas eu viver cada dia da minha vida pra destruir a vida dele. E por um momento e esqueci todos os bons modos e aquela historia de tentar fazer certo... Eu comecei a gritar, a libertar do pulmão toda a agonia que eu senti e toda a raiva que eu repreendi por meses.
   Eu comecei a correr pelo salão de festas e pegava todos os jarros de flores que via ,os tacando contra a parede, desejando.. ou melhor rogando a pior das pragas para o filho da puta, desgraçado que me fez assim. Que me tirou de dentro da minha casa, pra me tornar uma pessoa má, com pensamentos ruins. E gritei, chutei, quebrei, arranhei as paredes com cacos de vidro ,mas nada , absolutamente nada do que eu fazia, amenizava a dor ou tapava o buraco do meu peito. E quando eu finalmente caí no chão, derrotada, eu me dei conta de que era meu aniversário de 18 anos. 
E eu comecei a rir, a gargalhar na verdade. Um ano atrás, no meu aniversario de 17, eu estava em casa, com o meu pai, apagando a vela de um bolo de padaria que ele tinha comprado, e hoje, eu estava casada, com o seu assassino.
    E ri mais alto, e a gritar , para que minha voz ecoasse pela casa e atingisse os ouvidos do monstro chamando Michael. Para que o remorso o comesse por inteiro, como uma praga come uma planta. Para que a dor que eu sentia, tirasse todo o sono dele, para que minha voz o fizesse lembrar de toda a vida que ele me tirara. 
Mas no final das contas, eu era a maluca ,que quebrava tudo. Ninguém apareceu, nem Pedro ou Mary. Mas essa era a minha vida agora, sem ninguém e casada com um ninguém.
    Eu encostei a cabeça no chão e lá mesmo, eu peguei no sono.
  Quando eu finalmente despertei, parecia que nada tinha mudado, e eu cheguei a duvidar se eu tinha dormido ou piscado os olhos por muito tempo.
   Me levantei devagar, e deixei a sala onde havia me casado a horas atrás. Casada, sim, agora eu era uma pessoa casada! Eu acho que nunca vou conseguir falar isso e não achar estranho.
    Andei pela casa vagarosamente, e tudo o que eu escutava era a minha respiração. Não tinha nada nem ninguém, nem os funcionários. Pedro e Mary não estavam na cozinha e em nenhuma outra parte, e nenhum sinal do meu...Marido! 
Eu não estava em condições de procurar, então eu subi e no quarto, escolhi um vestidinho para dormir que Lauren havia me dado. 
  Acho que já tinha virado hábito meu, sempre que eu ficava muito tempo sozinho, eu me pegava pensando na minha vida. Acho que isso acontece com muita gente... mas ultimamente, minha vida não tem nada de bom para ser pensada. 
  Então tomei um banho rápido, sem lavar os cabelos, que já estavam secos. Me vesti e voltei para o quarto. Sentei na cadeira, em frente ao espelho, e a pessoa ou melhor a senhora casada que refletia nele, se parecia muito comigo. 
Meus olhos azuis, estavam avermelhados e meu cabelo todo desgrenhado. Eu fiquei me olhando e pensando, em como uma vida pode mudar tão radicalmente...E como do dia pra noite, acontecem coisas que mudam sua vida para sempre....e enquanto eu me olhava, eu procurava não chorar, e aos poucos eu ia aprender a controlar minhas emoções. 
   Peguei a escova de cabelo e a passei entre os cabelos lentamente, olhando no espelho o reflexo na minha aliança. Tinha até me esquecido dela. Estendi minha mão adiante do rosto, a olhando. Era como uma aliança comum, dourada sem nada escrito.... E o que ele escreveria? Ele não sabe nada de mim...Como e porquê? Essas eram minhas perguntas para ele. Porque fez isso com meu pai? E como teve coragem de se casar comigo?... mas eu não as perguntaria. Não ia resolver nada, meu pai não ia voltar mais! 

                 Mary: Jenny?

Eu me assustei, mas virei rapidamente:

                Jennifer: Oi, desculpa. Estava distraída!
                Mary: Venha, querida. 

                Jennifer: ir pra onde?

                Mary: Venha, Jenny. Anda logo. 

Ela fazia sinais da porta, e eu logo me levantei sem deixar que ela percebesse minha tristeza. Mas eu não precisava disfarçar, todos sabiam o quão infeliz eu estava. Eu a segui pelo corredor, e ela se dirigia até o lado oposto, no fim, na ultima porta. 

                  Mary: Entre, está na hora. 

Ela olhava pra baixo e sussurrava. 

                Jennifer: Está na hora, pra quê?
                Mary: Entre, Jenny. Só...entre...por favor!

               Jennifer: Mary? Porque você está chorando?Me diga.
                Mary: Não é nada, me desculpe. Entre no quarto, logo.
 Ela saiu depressa, com a cabeça baixa e eu temi o que teria do interior do quarto.
 Mas respirei fundo e abri a porta lentamente. 
  Era um quarto magnificamente lindo. Era do mesmo tamanho que o meu, mas tinha uma vista maravilhosa para o jardim, quase tão bonita quanto a minha. No canto do quarto tinha uma mesa pequena, mas cheia de coisas, como frutas, vinho e champanhe e eu não precisei de muito esforço para adivinhar o que significava aquilo tudo. No mesmo instante, eu caminhei até a porta, mas antes que eu pudesse abri-la, a voz dele ecoou, vinda de uma sala que tinha dentro do quarto.

              Michael: Não saia. 

  Eu me virei, procurando por ele, mas ele logo apareceu, como eu tinha visto da ultima vez, com a roupa do nosso...Casamento!
Ele parou na porta e cruzou os braços, me olhando: 

            Michael: Você não quer...conversar?

            Jennifer: Sem mais perguntas...senhor!
             Michael: Sério? Até ontem você era uma adolescente cheia de perguntas. E hoje, não tem mais nenhuma, o que aconteceu?

  Ele tinha um sorrio sarcástico no rosto. A expressão raivosa que ele ficara da ultima vez que nos vimos, ficou para trás. Calmamente ele caminhou até a mesa e serviu-se do vinho, numa taça. E eu continuei parada perto da porta, de braço cruzados.

             Jennifer: Eu posso me retirar? Estou cansada! 
             Michael: Deve estar cansada de quebrar a minha casa, não é?
            Jennifer: Sim, por hoje, sim! 
            Michael: Por hoje...Entendo! 

           Jennifer: Então, eu posso me retirar, senhor?

            Michael: Porque se retirar, se hoje você vai dormir aqui?

Ele me perguntou, enquanto me olhava e tomava uma golada do vinho. 
NÃO! Eu me recusava a isso. Por respeito ao meu pai, eu não dormiria com aquele crápula. 
   Jennifer: Eu não vou... quero dizer, eu não posso dormir aqui, Sr. Donavan.
  Ele deixou a taça na mesa e se aproximou de mim, com uma expressão mais tensa. Chegou perto o bastante, para tocar em mim, e descruzar os meus braços. Aquele maldito ainda tinha a ousadia de tocar em mim. Eu não fiz nada, fiquei ereta olhando em seus olhos:

         Michael: Miss. Santiago...Porque você é tão teimosa?

        Jennifer: Puxei ao meu pai, senhor.
         Michael: Não duvido, disso.
  Ele sorriu pra mim, achando que eu estava gostando daquilo tudo. Pegou minha mão e me puxou calmamente com ele, até a mesa. 

        Michael: Prove um gole.
        Jennifer: Eu não bebo vinho. 
         Michael: Está desperdiçando uma das maravilhas do mundo Miss. Santiago. 

 Ele dizia num tom sedutor e cada vez que me olhava, eu sentia algo... medo, sei lá...mas sentia. E por inacreditável que fosse, ele estava sendo gentil comigo, e isso me assustava.
         Jennifer: Senhor, eu lhe peço humildemente... 
         Michael: Olhe...

 Ele cortou o que eu dizia, e fez referência ao enorme espelho que estava atrás de mim. Nele, eu me vi, com o simples vestido curto de dormir, cabelos loiros soltos jogados em cima dos ombros e ele bem atrás de mim, bem mais alto, postura perfeita, socialmente vestido, me olhando fixamente pelo espelho: 

        Michael: Eu não errei na escolha da minha esposa. 
 Ele sussurrou e instantaneamente, deixou a taça novamente na mesa. Chegando mais perto de mim, tão perto que eu senti o corpo dele encostar no meu por trás. Me olhando pelo o espelho, ele segurou meus cabelos e os jogou no meu ombro, de lado. Com as mãos leves ele fazia isso lentamente, como se eu fosse um cristal prestes a ser quebrado. 
   Eu não podia considerar a hipótese de me deitar com ele, muito menos de perder minha virgindade com ele. Era grotesco, mas o que o podia fazer, se agora ele era o meu marido?
  Eu olhava para ele pelo espelho enquanto ele mexia nos meus cabelos e ele parecia fascinado, como se nunca tivesse estado com uma garota antes. Mas eu tratei de acabar com aquilo...

           Jennifer: Não, eu não posso ficar...
           Michael: Miss. Santiago, você vê essa garota à sua frente?
           Jennifer: Sim, senhor. Sou eu. 

           Michael: Em breve, ela será minha. 
O tesão me invadiu, o medo era predominante. Será mesmo que ele me forçaria ao sexo? 
    Eu queria ir embora dali, mas meu corpo estava petrificado perto dele, sob as mãos dele. Que deslizaram pelo meu corpo e seguraram minha cintura. Eu apenas o observava através do espelho, olhando aquele monstro me tocar, olhando aquele crápula tirar tudo , absolutamente tudo o que eu tinha ,até minha pureza. Mas ele fazia isso suavemente, como se tivesse seda mas mãos, devagar e gentilmente. Ele apertava minha cintura contra o corpo dele, se encaixando cada vez mais em mim, roçando em mim, e eu não podia lutar, na verdade eu não queria lutar. Seja lá o que ele estivesse fazendo comigo, era...bom. 

   A boca dele encostou suavemente no meu ombro, beijando-o e roçando os lábios nele, sentindo um pouco do meu gosto, e suas mãos procuravam ainda mais meu corpo, descia até minhas coxas, as apertando, encaixando com força meu corpo no dele, tornando a minha raiva em excitação. Mas eu não me movia, só sentia cada pequeno toque. Mas subitamente, ele parou e me encarou, ainda através do espelho: 
               Michael: Não tenho medo, eu sou o seu marido!

  Eu o encarava com os olhos arregalados, visivelmente com medo diante daquilo, diante de uma situação que punha tudo a perder. Onde esta a raiva? O ódio? Porque eu não saia correndo? Eu não sabia dizer. Sem perder tempo, ele me virou para ele, olhando nos meus olhos: 

               Jennifer: Senhor...

                Michael: Não me chame de senhor. Hoje eu vou fazer de você, a minha senhora! 
  Eu petrifiquei, não tinha mais o que dizer...era confuso, era surreal. Eu estava casada com ele e dormiria com ele...mas porque ...porque ele tinha fazer o que faz? ... Os olhos azuis dele, penetravam nos meus, o rosto quadrado perfeito que ele tinha estava bem perto do meu, me fazendo acreditar que ele era bom, que não tinha interesses maiores, que estava ali por mim, que não queria apensar transar e sim fazer amor. 
  Mas a realidade era cruel, eu não podia, NÃO! Não podia me deitar com o homem que matou meu pai. Mas ele insistia, deslizava a mão pelo meu rosto, pela primeira vez, me olhando com carinho e como se esperasse muito tempo por isso. E quando eu menos esperava ele me abraçou, forte. E eu não recusei, porque foi o único que me abraçou desde muito tempo atrás. Mesmo nunca imaginando que fosse ‘ele’ a pessoa que fizesse isso, eu não lutei contra. E foi como se ele tentasse me proteger de algo, como se quisesse me manter pra sempre ali, com ele. Como se eu fosse uma criança indefesa. 

             Michael: Seja minha, Jennifer!
Eu não respondia nada, não fazia nada. Queria me sentir menos culpada, queria não fazer parte daquilo. E me soltou, e segurou meu rosto com as duas mãos suavemente, olhando a expressão de medo que eu exibia, rapidamente encostou seus lábios quentes e ternos na minha testa, dando um beijo leve e demorado, eu fechei os olhos e tentei não pensar muito, só...sentir. 

    Ele se afastou e olhou nos meus olhos, me mostrando um Michael que eu não tinha visto até hoje, um Michael que voltava sua atenção especialmente para mim. E enquanto olhava suas mãos deslizavam pelo meu corpo, até a ponta do meu vestido, e com as duas mãos, ele começou a levanta-lo lentamente, me olhando, observando qual seria a minha reação diante do que ele fazia, e eu não falava nada, só sentia. 
Ele levantou totalmente meu vestido, e eu levantei os braços para tira-lo. E ele se afastou mais ou menos um passo de mim, para me olhar, e ele parecia gostar do que via. Eu estava de calcinha e sutiã, tremula e indefesa diante dele. Logo dele....
Novamente, ele se aproximou de mim, dessa vez não me encostou, mas chegou perto o bastante para eu sentir usa respiração. 
 Ele começou a abrir os botões da camisa social, me olhando, sem dizer nada, apenas tirando-a e jogando longe. Eu pude ver o corpo atlético perfeito que ele exibia, o sonho de qualquer mulher, mas será que também era o meu sonho?
   Eu não conseguia me mover, tinha medo. Na minha mente eu estava traindo meu pai, estava jogando na janela tudo o que eu falei sobre vingança e ódio. Como eu podia estar ali, e porque eu não lutava, será que eu estava gostando daquilo?
Mas ele não me deixava pensar...ele segurou minhas duas mãos e as encostou no peito dele, me encarando, pedindo com os olhos que eu o tocasse também, mas tudo o que eu fiz foi abaixar a cabeça. E prontamente e a ergueu novamente: 

           Michael: Olhe para mim. 
           Jennifer: Eu não consigo...

           Michael: Me deixe dê a honra de ter você, Sra. Donavan. 

 Eu não falei nada, mas meus olhos encheram d’agua. Era tarde, eu já sentia nojo de mim mesma por estar ali. Por estar semi nua na frente dele. Por querer aquilo também.

         Michael: Me dê uma chance, só uma. 

 Ele segurou meu rosto com uma mão, e entrelaçou os dedos no meu cabelo, puxando meu rosto para perto dele, e com a boca entreaberta, ele me beijou. 
Sim, ele me beijou, e não foi um beijo rápido e gélido. Foi um beijo quente, com vários sentimentos misturados, principalmente tesão. Sim, tesão. Eu não podia negar, mas nem eu mesma sabia que sentia isso por ele. E ele segurou meu rosto com as duas mãos, mergulhando sua boca cada vez mais na minha, descontando toda a raiva, frustração e ódio de meses em um beijo quente e intenso. E eu correspondia aquilo, deixado a situação mais complicada. Mas ele parou o beijo e com a boca ainda encostada na minha , eu podia sentir sua respiração acelerada. 
    E não pude mais recusar, era cruel ficar ali, querer aquilo. Mas eu já estava envolvida, não tinha mais como fugir.      


                     Jennifer: Me beija, Michael! 
  Ele me olhou, acho que não esperava ouvir aquilo, e antes que eu pensasse demais, ele segurou meu cabelo com uma mão e minha cintura com a outra, me puxando num beijo profundo, cheio de desejos proibidos. Sua língua se encaixava perfeitamente com a minha e a nossa química era evidente, a boca dele parecia conhecer a minha, e ele a explorava por completo, tirando todo o meu fôlego. E eu segurava o cabelo, puxando sentindo e demonstrando pra ele que eu também estava tão afim quanto ele.
Ele deslizou os lábios pelo meu rosto, dando leves chupadas, pelo meu rosto, pescoço, ombro, e logo chegou nos meus seios, ainda cobertos pelo sutiã, mas ele não o tirou, mas os beijava suavemente, tomando posse do que pela lei, agora era dele. 

  Eu não podia negar que estava excitada, mas temia porque eu ainda era virgem, não sabia nada na pratica. Ele deveria saber disso, porque cada gesto dele era pequeno e lento, como se não quisesse me assustar com nada. Então, ele subiu novamente e me abraçou, mas dessa vez o destino dele foi o fecho do meu sutiã, que ele logo abriu e o retirou, deixando meus seios à mostra, e minha vergonha mais a mostra ainda. 
Ele percebeu isso, e me puxou pela mão, me guiando até a cama e pediu que eu me deitasse. Que relaxasse, e só deitasse, sem pressa. E eu o fiz, deitei na cama só de calcinha, fechei os olhos, e tentei não pensar em nada. Poucos minutos depois, eu o sinto sentar subir na cama, mais precisamente no meu corpo, mesmo sem abrir os olhos eu sabia que ele estava em cima de mim. E eu tive a certeza quando o senti beijar minha barriga, de leve, roçando a boca nela, passando a ponta da língua nela, dando beijos bem molhando e pequenas mordidas.
   A sensação era uma das melhores que eu já sentira na minha vida, e eu desejei que aquilo não terminasse nunca mais. E ele descia, sempre beijando, até chegar em cima da minha calcinha, onde ele também deu um beijo demorado, fazendo minha excitação chegar a um ponto eu que desejava loucamente aquele homem pra mim.
  Com as mãos leves ele tirou minha calcinha com a maior paciência do mundo, e eu ainda não abria os olhos, com medo de estragar o momento, com medo que o meu nervoso vencesse, mas ele não parava, tirou minha calcinha por completo e subiu em cima de mim, beijando meu corpo novamente, desde a barriga até meus lábios. Mas agora seu beijo era suave, calmo e paciente, e eu o respondia, consciente da besteira mais excitante que eu podia fazer na vida:

          Michael: Abra os olhos. 

 Ele falou em português, com aquele maldito sexy sotaque. E eu obedeci, encontrando aqueles olhos azuis, enxergando o desejo visível neles, sentindo o corpo quente dele em cima do meu. E eu não pude mais com isso, me entreguei a ele, baixei a guarda e deixei que meu marido em possuísse, me deixei levar pela excitação que ele me proporcionava, então num ágil, troquei de posição com ele na cama, ficando assim, eu por cima dele, que já estava nu. 
Eu sentei no seu colo, e o olhei fixamente, querendo guardar pra mim, aquela cena na minha mente, e ele por sua vez, encostou as mãos na minha cintura, subindo levemente pelo meu corpo, até encontrar meus seios, e os apertou, suavemente, apertando o bico deles, fazendo-os enrijecer rapidamente, e eu pude perceber que eu não era nada, que tudo o que eu sentira por ele tinha se esvaído, dando lugar à paixão. 
  Eu me inclinei para frente e o beijei, mas não foi um beijo simples, foi um beijo quente, selvagem, como se eu tivesse descontando a raiva que eu senti em forma de desejo. Eu segurava o rosto dele com força, mordia seus lábios com força e involuntariamente já fazia movimentos em cima do seu colo, atiçando cada vez mais seu pau, que já dava sinais de vida. Ele apertava minha bunda, a encaixando perfeitamente nele, deixando aquela situação cada vez mais excitante, mais quente. E nos continuamos naquele movimento sentindo o calor subir cada vez mais, e quando o tesão tomou conta completamente de nós, eu senti seu pau penetrar suavemente no meu corpo e aos poucos encaixar-se totalmente e me fazendo soltar no peito um grito de prazer que eu jamais poderia soltar, jamais.
    Eu soube ali que estava entregue a ele. 
      Cap.6 Bom dia, Sra. Donavan!
   Quando os raios de sol atingiram meu rosto, eu tentei me lembrar da ultima coisa que eu tinha feito antes de ir dormir. E quando a lembrança da noite passada veio a tona, eu congelei. 
    Eu senti vergonha de mim, vergonha do que eu me tornara,vergonha por humilhar meu pai e minha família, vergonha por me tornar uma biscate barata. Eu abri os olhos lentamente e ao meu redor, tudo o que tinha era lençóis brancos e travesseiros, nenhum sinal do sr. Donavan, por enquanto. 
Eu estava lá, largada, sozinha na cama, no quarto do homem que matou meus pais, casada com ele. Senti nojo de mim. 
                 Michael: Bom dia, querida. 

  A voz dele ecoou do lado de fora da janela. Eu me enrolei no lençol branco e me levantei, caminhando em direção à ele: 

               Jennifer: Bom dia, senhor. – Eu respondi totalmente sem graça, chegando ao lado de fora da janela.
   Ele já tinha tomado banho, esta de social, lendo jornal, debruçado à sacada. Eu me posicionei do seu lado. 

               Jennifer: Porque fez isso comigo?

               Michael: Isso, o quê?
                Jennifer: Sabe que eu posso ser sua esposa. Sabe que eu sou ilegal no país. Como teve a coragem de me tocar? 

               Michael: Que eu me lembre, sra. Donavan, a senhora pareceu concordar com a noite passada, tanto quanto eu. 
                Jennifer: Não seja ridículo. O que pretende agora? Qual é o próximo passo do seu grande plano? Vai me obrigar a dormir todos os dias com você? 

               Michael: Se for pra acordar todos os dias escutando sua lamentação, dispenso. Pegue suas roupas e saia do meu quarto, por favor. 
  O.O eu olhei fixamente para ele, que deixou a sacada, voltando para o quarto. 

                 Jennifer: O quê? Você .... ta me expulsando?

                  Michael: Se é assim que quer chamar, sim, estou. Pegue suas coisas e saia imediatamente!
  Foi aí que a humilhação me pegou de jeito, que o arrependimento tomou conta de quem eu era. Sem reclamar ou falar mais um palavra, eu catei minhas roupas do chão e deixei o quarto. E ao atravessar aquele corredor, eu não chorei, não exibi nenhuma expressão. 

   A noite passada aconteceu, de fato, e eu não poderia mais apaga-la ou fingir que não aconteceu. E a única certeza que eu tinha, era que o jogo já tinha começado, que não tinha mais volta, que agora eu teria que ir até o fim, senão o sentimento de fracasso tomaria conta de mim pelo resto da vida. 
   E agora eu me tornaria uma mulher, cada dia mais forte, e lutaria por mim, até que de fato, a morte me separasse dele. 
Alguns dias se passaram, e nos dormimos em quartos separados, como costumava ser. Era raro nos encontrarmos na casa, porque eu me recusava a jantar com ele, me recusava a cruzar com ele pelos corredores, me privando da presença insignificante dele, ficando no meu quarto noite e dia. Mas não por ser uma rebelde inútil, mas por querer me preparar para o que estava por vir. E assim, com o passar de algumas noites, eu comecei a procura-lo, tentava abrir a porta do seu quarto, mas ele a mantinha trancada. Talvez afim de evitar minha presença, mas eu não desistia. Por dias, ou melhor semanas, eu o procurei, religiosamente todas as noites, afim de atraí-lo, para arrancar dele, coisas que até hoje eu não sabia. 
   E numa dessas noites , aconteceu algo que não estava nos meus planos. Eu abri a porta, vestindo um roupão de seda, e o encontrei, lendo um livro na cama, só de cueca Box:

              Jennifer: Olá senhor. 

  Eu sorri, já entrando no quarto e cruzando os braços perto da cama dele, o encarando:

            Michael: O que faz aqui? 
            Jennifer: Vim convida-lo para dar uma volta comigo. Faz uma noite tão bonita! 

           Michael: Volte para o seu quarto, por favor.
            Jennifer: Não seja turrão, senhor. É só uma volta no jardim.
            Michael: Dispenso. 
  Eu me aproximei na cama, me sentando perto dele.
            Jennifer: Bom, se não quer, tudo bem. O que está lendo? 

            Michael: Um livro, não vê?

           Jennifer: Sim, e qual é o nome? 
  Ele fechou o livro agilmente e me olhou nos olhos, de um jeito agressivo: 
           Michael: O que você quer, de fato?
  Eu o encarei fixamente e subi mais ainda na cama, me ajeitando perto dele, peguei o livro da mão dele e num ato lento, o coloquei em cima do criado mudo, chegando mais perto dele, afim de seduzi-lo, de jogar com as cartas que eu tinha na manga. Então eu subi no colo dele, e me sentei, cara a cara com o inimigo, perto até demais. 
   Eu segurei seu pescoço, trazendo o rosto pra mais perto do meu, e ele não lutou contra nenhuma ação, somente me observava. 

           Jennifer: O que eu quero, é o meu marido!

           Michael: O que você está fazendo, Jennifer?

Foi a primeira vez que ele me chamou pelo meu nome. 

          Jennifer: Eu quero ser finalmente, uma esposa para você. Cansei de lutar por nada, agora eu to aqui, com você.   

         Michael: Não seja ridícula. Volte para o seu quarto. – Ele disse, me empurrando e logo abriu a porta para mim.    


       Jennifer: Mas que porra é essa, então? O que eu to fazendo nessa casa? Me explica porque eu ainda não sei...
-Eu me irritei e comecei a gritar.- Se não era sexo de graça, era o quê então?

       Michael: Volte para o seu quarto.

  Ele dizia, pacientemente, sem me encarar, com a mão na maçaneta da porta. 
        Jennifer: Você é um cretino, sabia?
  Eu me levantei e dei o fora dali, e quando eu já estava na metade do corredor, ele me chama:

        Michael: A propósito, matriculei você na faculdade!

E bateu a porta com força. 
   Eu caminhei para o meu quarto, frustrada. Ele se matara meu pai, me leva para os Estados Unidos, me mantém meses na casa dele, se desposa-me, tira minha pureza e depois não olha na minha cara. O pior de viver naquela situação era não saber como resolver. Nem Mary, nem Pedro sabiam o motivo daquilo tudo, então eu não sabia como agir. E agora ele pagaria meus estudos? Mas que porra é essa? 
O tempo passava e minhas perguntas iam se acumulando cada vez mais. 
  Dessa vez 1 mês se passou, e nada tinha mudado. Eu não o procurei mais, e minha rotina tinha se tornado a mesma: Ajudar Mary com os afazeres, e conversar com Pedro, ter aulas de inglês com o senhor Alberto, e mais aulas com Lauren. 
   Até o dia em que eu finalmente ficaria livre daquele mausoléu, o dia em que eu finalmente colocaria os pés para fora do portão. Após 4 longos meses, eu veria o mundo de novo. 
Pedro falou que eu ia estudar em Princeton, uma conceituada universidade localizada em Nova Jérsei, que fica a 3,944 km da Califórnia, ou seja: uns 3 ou 4 dias de viajem de carro. E eu não acreditei. Simplesmente não acreditei que Michael ia me mandar para longe. Que finalmente eu ia poder sair e ver o mundo. Que ia poder viver longe daquela casa, daquele covil que era a vida dele. 
E não é que realmente era verdade?
O tão esperado dia chegou, e eu estava apenas com algumas malas de roupas. O carro luxuoso que me trouxe ali, era o mesmo que ia me levar para a faculdade. Mary não parava de chorar um minuto, e a tristeza de Pedro era visível:

           Jennifer: Eu agradeço tudo o que vocês fizeram por mim nesses meses. Foram muito condescendentes comigo!

          Pedro: Nos vamos sentir muito a sua falta, criança! 
  Eu sorri e deu um abraço apertado nos dois.
         Jennifer: Eu não digo que um dia eu volto, porque esse não é meu plano. Mas um dia, em outra ocasião, espero revê-los. Obrigada. 

          Mary: Não se esqueça de nós, Jenny. 
  Ela chorava e soluçava, parecia que eu era sua própria filha. Eu respirei fundo para não me deixar levar pelas emoções. Não queria demonstrar nenhum tipo de tristeza por finalmente dar o fora daquela casa. 
Antes de entrar no carro, eu olhei para a fachada da casa, e debruçado em uma das sacadas, ele estava lá, estava longe, mas eu podia vê-lo. Vestido socialmente, com uma expressão rude, como costumava ser. Me observando partir, sem sequer vir dar tchau para a sua querida esposa, cretino!!! 

   Ele acenou para mim. 
Eu lhe dei o dedo e sussurrei: Morre, desgraçado!
   E como esperado, realmente foram dias de viajem, com paradas para abastecimento, comida e necessidades fisiológicas. O pior da viajem era o tédio, porque o motorista não abria a boca para nada, e eu cheguei a cogitar a hipótese de ele ser mudo. 
Ao menos eu tinha a oportunidade de olhar o mundo, e conhecer um país que eu ainda não conhecia.
  Era tudo muito bonito, cada cidade em que passávamos, eu ficava cada vez mais deslumbrada com o lugar, me dando momentos de paz e liberdade, coisa que eu não tinha desde que meu pai se fora. Eu podia sentir a mudança dentro de mim, era como se eu tivesse nascido de novo. Eu tinha consciência que seria sempre a esposa de Michael Donavan, mas só o fato de não ter que viver na mesma casa que ele, e não ter que vê-lo todos os dias, já era um ótima coisa!

  Quando chegamos em Princeton, já era fim de tarde, e a estrutura da universidade era surreal. Nada parecido com a escolinha fundo de quintal em que eu concluíra o ensino médio. 
O lugar era majestoso, com construções magníficas e um espaço amplo, como se fosse um palácio de aprendizes. 

  O motorista foi embora, e eu peguei minhas malas, procurando me informar onde ficava a secretaria do lugar. 
A universidade estava lotada, com jovens de todo o tipo, andando para todos os lados, e eu me senti em um daqueles filmes americanos, onde a novata esquisita entra no meio do semestre, sendo rejeitada por todos. Mas não foi assim, eles não me olhavam estranho ou coisa parecida....eles nem me olhavam, era como se eu fizesse parte deles, sabe... como se fosse normal uma pessoa chegar na universidade cheia de malas.

   Eu pedi informação a um homem que varria o chão, e logo me situei, encontrando finalmente a secretaria:


              Jennifer: Com licença.
              XxXx: Pois não?

  Atrás de uma grande mesa, tinha um homem alto, extremamente branco e careca, mas de expressão suave, que logo me olhou por cima dos óculos. Na sua mesa, tinha uma tarja que o identificava como: Reitor Higges. 

            Jennifer: Meu nome é Jennifer, e eu acho que vou estudar aqui. 

 Ele fez uma cara de deboche, duvidando do que acabara de ouvir.
            Reitor: Você acha? Trouxe sua Carta ?

            Jennifer: Carta? 

            Reitor: Sim, jovem. Um papel branco, que comprova que está matriculada nessa instituição. Você tem certeza que se matriculou aqui? 
             Jennifer: Sim, senhor. Mas eu não recebi nenhuma carta.
   Ele me olhou confuso e parecia aborrecido. Levantou-se, e abriu uma enorme gaveta e um armário. Pegou algumas pastas e logo retornou a sentar-se. 

         Reitor: Vamos testar a veracidade dessa sua... – ele me olhou. – historia. Qual é o seu nome, jovem?

                   Jennifer: Jennifer Sousa Santiago.

  Imediatamente ele abriu as pastas a procura do meu nome, mas logo eu me lembrei de um fato: 

                  Jennifer: Desculpe, senhor. Jennifer Donavan. – eu já ficava nervosa- Meu nome é Jennifer Santiago Donavan.
    Ele me olhou mais irritado ainda:
                  Reitor: A senhorita tem certeza disso? – perguntou irônico.
                  Jennifer: Sim, senhor!

  Ele voltou a olhar as pastas, olhando atentamente cada folha, procurando meu nome, que eu desejava loucamente que realmente estivesse ali, porque só a idéia de voltar para a casa do Donavan me perturbava.


                 Reitor: Jennifer Donavan? – ele perguntou novamente, já corrigindo sua postura e me olhando com cara de fome. – Tenho muito orgulho em recebe-la em nossas instalações, senhora Donavan.

  Aff, era obvio! A esposa de Michael Donavan não precisava fazer provas ou concorrer vagas para entrar na conceituada universidade de Princeton, porque ele era um dos patrocinadores da NBA, a famosa liga de esporte, cujo tem associação a com universidade de Princeton. Isso não era ilegal? Me perguntei...

               Jennifer: Prazer é meu, senhor.

               Reitor: Quero que se sinta em casa, e me relate de tudo que se passa por aqui. –Ele piscou.- E seria uma honra receber seu marido em uma de nossas comemorações e jogos de basquete.
                Jennifer: Claro, senhor. Ele virá. – menti. 

                Reitor: Bom, os dormitórios para alunos fica no ultimo andar, mas eu posso arrumur um quarto especial... 


               Jennifer: NÃO! – eu quase gritei. –Nada de tratamento especial, senhor. Só quero um quarto qualquer. 

               Reitor: Perfeitamente, Sra. Donavan. 

  Ele sorria, radiante com a noticia que teria uma pessoa ‘importante’ estudando ali. Fez algumas formalidades ,como preencher fichas, e me contou que todos os meus documentos escolares estavam em ordem. Que era realmente uma cidadã americana e estudante de uma das melhores universidades do mundo. 
   Pediu que eu escolhesse um curso, coisa que eu não havia pensado ainda. Imaginei Ciências, a profissão do meu pai... mas logo optei por Direito. Queria estar apta a encarar o Donavan no futuro e colocar um processo nas costas dele. 
O reitor me deu as coordenadas de onde ficava meu quarto, quais seriam minhas aulas, e por fim me liberou. 

  Eu estava pensativa. A ficha ainda não tinha caído pra mim. Era tudo surreal. Mas logo eu me dei conta que nada mais na minha vida seria normal. Até que, ao sair da sala do Reitor um baque violento, me atingiu, me jogando violentamente contra parede, e me derrubando brutalmente no chão:
                  XxXx: ME DESCULPE, ESSAS RODAS ESTÃO UMA MERDA.
  Toda desgrenhada no chão, eu tentava me reerguer, e olhar a cara do responsável pelo o acidente. 
                 Jennifer: Não foi nada, mas tenha mais cuida...
  E os olhos azuis dele estavam sorrindo para mim. Enquanto eu me levantava do chão, eu olhava fixamente para aquele sorriso, aquele cabelo loiro e os olhos azuis mais lindos que eu já vira na vida. 
                XxXx: VOCÊ SE MACHUCOU?

  Ele gritava e sorria, e eu me perguntei: Porque ele estava gritando? Mas não importava, ele era lindo. 

                Jennifer: Não... eu to..b-bem. 
                 XxXx: TEM CERTEZA, GATA?

   Eu o olhei por completo, e ele usava roupas largas, uma touca preta na cabeça, que deixava alguns fiapos de cabelo à mostra, e por fim o tal Skate, que quase atravessou meu corpo.

                Jennifer: Porque você está gritando? 
                XxXx: AAA..- ele tirou os fones do ouvido. – Me desculpe, eu sou Thomas, - ele riu maliciosamente. – mas pode me chamar de : ‘meu namorado’. 
   Eu ri. 

                Jennifer: Meu namorado?
                 Thomas: Ta me pedindo em namoro? Bom... eu aceito!

                 Jennifer: Você é engraçado, sabia? – Eu ria espontaneamente. – Eu sou Jennifer. 
                 Thomas: Jenny,Jenny, Jenny..- ele me olhava de cima a baixo. – Bom, você não é bonita o bastante para andar comigo, mas eu vou fazer uma boa ação! Quer ajuda com as malas? 
                            Cap.7 Você nunca mais vai me deixar em paz, não é?
   Eu balancei a cabeça de leve, tentando afastar os pensamentos antigos para evitar que Karen me enchesse de perguntas. 
                Karen: Demorei muito? 

               Jennifer: Eu quase fui ver se ainda estava viva!

               Karen: Ah! Tinha uma mulher enfurnada dentro do banheiro... Mas enfim, vamos?

               Jennifer: Você sabe que temos que esperar o Tommy, - Eu dei uma boa golada na cerveja- Ele não deve demorar. 

              Karen: Aff, mas nós sabemos o caminho, Jenny. Podemos pegar um táxi. 
             Jennifer: Relaxa, Karen. Pára com essa rixa boba com o coitado. 
             Karen: Coitado?? O Thomas? Ele é um imbecil. 

             Jennifer: Você ainda é afim dele, não é?

             Karen: Não enche, ta? Você sabe que não. Mas eu tenho vontade de matar esse idiota quando ele me deixa esperando!

   Eu ri observando o modo como ela ficava irritada. Mas não era só com o Tommy, a Karen era irritada com tudo, absolutamente tudo a tirava do sério. 
Nós nos conhecemos na faculdade, fomos colegas de quarto, e naquela época ela saia com o Tommy, mas ele a dispensou, assim como fez e ainda faz com todas as mulheres. Eu tenho pra mim, que a Karen ainda sente muito essa rejeição, mas desde então somos muito, muito unidos. 

          Thomas: Boa noite, gatas!
   Ele entrou no bar, gritando, e visivelmente bêbado. A Karen rapidamente lançou um olhar reprovativo pra mim, como quem quisesse dizer: ‘Eu te avisei’. O bar não estava muito cheio, mas as pessoas riam, e eu tratei imediatamente de segura-lo e levá-lo até nossa mesa.

           Karen: Cacete, Thomas. Porque você bebeu? Você sabia que a gente ia sair hoje.
            Thomas: CALA A BOCA. –ele gritou, revirando os olhos de tanta cachaça. 

           Karen: Olha só pra você...ta todo sujo, fedendo, cheirando a porre. Obrigada pela consideração, senhor Bom demais pra ir na minha festa.
            Jennifer: Karen, por favor, pega leve com ele. – eu a olhava fixamente. 

            Karen: Pegar leve? Você sabe que eu só suporto esse daí, por sua causa. Não sei como tem coragem de ser amiga dele...

           Thomas: Mas você que já tirou bastante proveito do papai aqui, não é Karenzinha? 

  Ele tropeçava nas palavras e cuspia mais do que falava. Estava acabado, jogado em cima da cadeira, trêbado.

            Karen: Eu vou ignorar você, seu bêbado, imbecil. – Ele se virou para mim, e me olhou. – Jenny, eu não posso mais esperar, tenho que ir. É uma noite muito especial pra mim, é a minha formatura, é a minha festa. Você vai ou não?
    Eu olhei com preocupação para os dois. A Karen era o tipo de mulher que estava constantemente mau humorada, mas ela nunca, jamais me negou nada. O tommy era o meu melhor amigo, foi a primeira pessoa que eu conheci na faculdade e nunca mais me abandonou, a não ser quando aparecia uma garota nova. 
                Karen: E então, você vai comigo, ou fica aqui com ele?

  AH! Eu odiava quando esses dois faziam isso comigo. 
                Jennifer: Ele está bêbado, Karen, não posso deixa-lo aqui sozinho. E ele esta dirigindo, e se acontecer alguma coisa com ele? 

                Karen: Pelo amor de Deus, Jenny...ele dirigiu até aqui e nada aconteceu. Ele pode muito bem achar o caminho de casa. Mas tudo bem, - ela lançou um sorriso falso. – parece que você já fez sua escolha, não é? Eu vou nessa, é a minha formatura, não perder isso pra cuidar de um bêbado sem consideração.
   Prontamente ela se levantou e deixou o bar, com seu lindo vestido de noite. Eu fiquei sentida, não queria fazer isso com minha amiga, mas o Thomas também era meu amigo, e eu não podia deixa-lo. 
Eu olhei para ele, que estava quase dormindo de boca aberta na cadeira, aos trapos, realmente fedendo a cachaça. Eu dei uns tapas no braço dele e tentei levanta-lo para finalmente deixar o bar.
                 Jennifer: Você é um imbecil, Tommy. Porque foi beber? Sabia que era a festa da Karen, que era especial para ela. 
                Thomas: Quem é Karen? 

  Aff, cuidar de bêbado é a pior coisa do mundo, e quando esse bêbado é o Thomas, fica ainda mais difícil. 
Com muito esforço, eu o carreguei até o carro dele, um Chevrolet sport preto, e eu agradeci a Deus por saber dirigir. 
O arremessei no banco de trás, deitado e dei partida do carro, até a casa do infeliz. 
 No trajeto até a casa dele, que não ficava muito longe dali, as cenas vieram na minha mente instantaneamente. Cenas do passado, coisas que eu quase tinha esquecido. 
O dia em que fui para pra faculdade, o sentimento de liberdade após meses de sofrimento que até hoje eu não esquecera. 
   Mas os 6 anos que passei na faculdade foram diferentes, foram únicos. Logo, eu me tornei amiga do Tommy, que sempre fui muito mulherengo, nunca tinha uma só, e de vez em quando, arrumava boas brigas. E foi numas dessas galinhagens dele, que eu me tornei próxima da Karen, que pelo que me lembro foi o romance mais duradouro do Tommy, cerca de 2 meses, se eu bem me lembro. 
   Mas tarde, nos tornamos colegas de quarto, e a amizade cresceu mais ainda, durando até hoje. E assim, até depois da faculdade, apesar de Karen e Tommy não se suportarem. 
Vocês devem estar se perguntando: ‘Mas e seu marido, Jennifer? Onde ele está? O que aconteceu?’. Enfim, anos se passaram, e a ultima lembrança que eu tenho do cretino, é eu dando o dedo na pra ele. Depois desse acontecimento, eu nunca mais o vi. É claro, que em alguns Natais, eu ligava para a mansão, para falar com Mary e Pedro, mas eles diziam que o todo poderoso nunca, jamais perguntou sobre mim. Era como se eu não tivesse existido. E eu cheguei a me perguntar, se ele lembrava que tinha se casado comigo. 

    O fato é que eu não tinha me esquecido disso. E era uma mulher agora. Não mais uma criança, indefesa que não sabia nada da vida. 
Agora eu podia, e iria jogar o jogo do meu jeito!

Eu estacionei o carro na porta da casa dele, e esperei um tempo, sentada, tomando coragem para novamente carregar aquele brutamontes nas costas até a sala. 
Eu olhei para o banco de trás, e ele estava jogado lá, todo aberto, aos trapos. E eu cheguei a duvidar seriamente se aquele resto de homem era mesmo um policial. Porque ele havia terminado a faculdade de direito antes de mim, e logo entrou para a policia, se tornando agente da FBI. 
    Vou explicar melhor: No Brasil existe a Policia Federal, já nos Estados Unidos, existe o FBI que cuida de Fraudes, assaltos à bancos, denúncias de drogas...enfim, por incrível que pareça aquele adolescente que me atropelou de skate tinha se tornado um agente federal. 
    Mas eu não tinha ficado muito atrás não... Um rugido acabou me trazendo de volta à realidade. Era o bebum que já começava a falar coisas. Eu saí do carro e com um tremendo esforço, passei o braço dele pelo meu pescoço, e o carreguei até a sala da casa. 
  A casa era simples, mas tinha tudo e estava sempre muito limpa. Ele morava sozinho desde que terminou a faculdade, à 3 anos atrás. Eu, diferente dele, tinha terminado a faculdade à 1 ano e nesse período, me dediquei a cursos profissionalizantes intensos... mas isso eu explico depois. 
  Bom, eu saí da faculdade e eu e Karen alugamos uma casinha. Eu cogitei a hipóteses de morarmos com o Tommy, mas ela recusou imediatamente.
   Eu o joguei em cima do sofá da sala, mas a vontade de dar uns belos tapas nele me invadia a alma. Mas eu não o fiz, pelo o contrário...Eu tirei seus sapatos e suas meias, coisas que eu já estava acostumada a fazer, devido à varias noites que eu cuidei dele, enquanto ele estava desmaiado de tanta ressaca. 
Eu o deixei lá, e fui até a cozinha, e como já era de se esperar, ele tinha um estoque lotado de sopa de legumes de caixinha. Pois eu sempre cozinhava pra ele, quando ele estava bêbado. Era simples e rápida de fazer, uns 10 minutos. 
Despejei o conteúdo em um prato fundo, e com a colher, a mexia, para diminuir a temperatura, enquanto me dirigia até a sala e encontrando o homem, ainda lá, do mesmo jeito que eu o deixei.
   Eu me sentei na mesinha de centro que ficava bem na frente do sofá, e mexia a sopa no prato, tentando esfria-la um pouco, mas ainda assim, também olhava para o Tommy. Ele era extremamente lindo, um típico americano, como vemos nos filmes, loiro, alto, musculoso, e um sorriso que selaria a paz de paises em guerra. Ele era perfeito, pelo menos, aparentemente. Mulherengo toda vida, nunca se firmou com ninguém, no final das contas eu era a única mulher que sempre esteve com ele, e ele sabia disso, por isso era tão apegado a mim, como um irmão. 

   Eu balancei a cabeça de leve, afastando meus pensamentos, e logo comecei a chama-lo bem alto, para que acordasse, e a cutuca-lo várias vezes:
                Jennifer: Acorda, logo. Anda Tommy, levanta daí. 
Ele resmungava algo. 
                Thomas: Huuuum... Me deixa, Ashley, vai embora...

                Jennifer: Quem é Ashley, Tommy? Acorda, sou eu, Jennifer!

                Thomas: Jenny? É você? Como você entrou aqui
?
               Jennifer: Eu te trouxe aqui, e você está bêbedo.
                Thomas: Você me trouxe aqui? Aqui onde? Onde eu estou?

  Eu comecei a me irritar.

              Jennifer: Cala a boca e levanta de uma vez, eu fiz sopa. 
Com muito esforço ele se sentou, com uma cara de derrotado, mas pelo menos, estava acordado. Eu me sentei do seu lado, e assoprava a colher suavemente, para dar a comida em sua boca. 
Ele comia, lentamente, mas comia. E eu comecei a me perguntar se ele já não estava muito grandinho para aquilo tudo. 
                 Jennifer: Você sabe que perdeu a formatura da Karen, não é?

                 Thomas: Que se dane a Karen!

                Jennifer: Não, Tommy. Você sabe como isso é importante, e eu te pedi tanto pra não fazer nenhuma besteira, você podia cooperar, pelo menos hoje. 

                Thomas: Ela não foi? Então ta ótimo, a formatura era dela e não minha. 

                Jennifer: Não seja estúpido. Nos estávamos lá quando você se formou, custava fazer isso por ela?
                Thomas: Ta, ta! Me desculpa, eu prometo que dou um beijinho de consolação nela.
                Jennifer: Você está sendo idiota!

  Ele me olhou fixamente, aparentemente melhorando da ressaca. 

                Thomas: Me desculpe por fazer você perder a festa. 
               Jennifer: Não precisa pedir. Agora come logo isso aqui! 
  Ele comeu tudo em silencio, como uma criança que se encolhe todo depois de uma bronca. Na verdade, como uma criança de 27 anos, que ainda toma sopa na boca. 
  Depois que comeu, ele parecia bem melhor, mais disposto, mas ainda meio tonto. Ficou lá com a cabeça encostada no sofá, olhando pra cima, sem falar nada. Talvez refletindo sobre o que tinha feito. 
             Jennifer: Eu acho que vou embora agora!

             Thomas: Não! Fica aqui, Jenny!

            Jennifer: Não posso, Tommy. Mais tarde a Karen chega, e eu quero está lá, comprei um presente e quero dar à ela. 

            Thomas: Fica só mais um pouco, por favor. 

            Jennifer: Não. Você já roubou minha atenção por bastante tempo hoje. 

  Eu disse já me ajeitando para me levantar.
              Thomas: Está preparada pra voltar?

              Jennifer: Mas...o quê?

              Thomas: Não adianta disfarçar, você não sabe mentir, muito menos pra mim.
             Jennifer: Mas eu não falei nada.
             Thomas: Exatamente. Você não tocou no assunto desde que soube que vai trabalhar na Califórnia.
            Jennifer: Mas do que você está falando, Tommy? É claro que eu falei, eu fiquei feliz e...

  Ele se virou, de frente pra mim, e me encarou, sério.

             Thomas: A minha pergunta é: Você está pronta para voltar pra casa?
   
Eu engoli seco. Todos esses anos evitando falar sobre isso, e agora ele me vinha com essas perguntas. 

            Jennifer: Porque ta falando isso, Tommy? – eu ri, nervosa. 

            Thomas: Porque eu sei como você fica quando fala nisso. Eu vejo no seu olhar, você muda, Jenny. Fica nervosa, e tenta escapar do assunto. 

           Jennifer: Claro que não. Vocês já sabem de tudo, porque ficar toda hora falando a mesma coisa?

           Thomas: Olha bem pra mim, Jenny. – Eu o olhei fixamente.- Eu te conheço a 6 anos. Eu sei até quando você está com vontade de fazer xixi. Então não minta pra mim, porque eu nunca menti pra você. O que você vai fazer agora? 
  Eu tremi na base. É claro que Karen e Tommy sabiam que eu era casada, mas eu não falava disso, e eles também não perguntavam. Bom, de vez em quando Tommy me perguntava o porquê do Michael nunca ter ido me visitar, mas eu sempre disfarçava e me esquivava. 
Era doloroso ter que lembrar do tempo que eu passei na mansão, eu tinha conquistado uma vida nova em Princeton, uma casa pra viver, uma profissão e uma pequena família. Eu não queria voltar para o escuro, voltar para o lugar onde eu nunca devia ter ido. 
  Mas era necessário, era uma oportunidade divina, e apesar de relutar muito eu acabei aceitando. 
Bom, eu vou explicar a vocês: Quando eu terminei a faculdade de direito, eu não sabia ao certo o que fazer com meu diploma. Não sabia onde começar a procurar emprego e nem onde enviar meus currículos. Porém, como Tommy já era agente policial naquela época ele perguntou se eu também não me interessava, e eu acabei me animando com a idéia. 
Passei um ano fazendo diversos cursos e preparatórios para fazer um concurso e entrar na policia, mas o curso mais longo foi o de tiro, que me deu a capacidade de me virar muito bem com uma arma, modéstia parte. Enfim, logo quando eu terminei meus cursos eu fiz a prova para ser detetive criminal, algo extremamente diferente do que o Tommy faz. E após alguns meses de espera eu tive a resposta que fui qualificada para trabalhar no Departamento de Homicídios. Ou seja, o meu trabalho seria investigar crimes que deixaram vítimas e soluciona-los. Um exemplo: Se um crime acontece e uma pessoa morre, eu tenho que descobri quem matou, como e porquê aquela pessoa morreu. Foi uma tremenda festa quando eu descobri que seria detetive,Tommy e Karen quase enfartaram, comemoraram mais do que eu. 
   Mas logo quando chegou a notícia que eu trabalharia na Homicídios da Califórnia, tudo mudou. Significaria que eu teria que voltar para a mansão, voltar para o escuro, voltar ao pesadelo, voltar para.... o meu marido!
Mas isso era irreversível. Ou eu pegava o emprego, ou seria dispensada. Eu pensei muito, refleti em tudo o que se passou e viria a passar na minha vida, e tinha uma certeza: Eu estava pronta para enfrenta-lo. 
        Jennifer: Eu vou voltar pra casa, oras. Retomar minha vida de casada. –Eu ri de lado. 

                Thomas: Porque você nunca fala dele? 

                Jennifer: Dele quem?

                Thomas: Michael Donavan, o magnata. O cara é podre de rico, você sabia disso? E ele simplesmente largou a esposa em Princeton. O que acontece realmente no casamento de vocês?

               Jennifer: Que pergunta mais boba, - eu disfarcei, me levantei e caminhei em direção a janela da casa, que dava para a rua, deserta. 
Antes que eu pudesse perceber, ele já estava lá também, do meu lado. 

              Thomas: Você nunca comentou nada sobre sua vida, Jenny. Não confia na gente? 
              Jennifer: Claro que confio. Você e Karen são minha família e sabem disso.

              Thomas: Então porque esse mistério todo? A única coisa que eu sei sobre você, é que você é naturalmente brasileira e é casada com um dos caras mais ricos do país. 

 Aquelas perguntas já começavam a me incomodar, e eu logo tratei de desviar o caminho da prosa. 

               Jennifer: Como assim a única coisa que você sabe? – Eu ri. – Você convive comigo a anos, eu somos praticamente irmãos, Tommy. E outra, tudo o que você precisa saber sobre mim, você já sabe, não é?
   Eu o olhei fixamente, abrindo um largo sorriso, o qual eu sabia que ele não resistiria. Ele olhava para frente, ainda confuso, mas logo cedeu e também sorriu. 

                Thomas: Parabéns, Jenny. To feliz por você. 
               Jennifer: Obrigada, Tommy. Mas não tenho certeza se você vai se virar bem sem mim. 
  Ele riu, sabendo que eu adorava demonstrar o quão dependente de mim ele era. 
Ele me puxou pra ele, me dando um abraço apertando, fazendo carinho na minha cabeça, e eu sabia que ia sentir falta disso.
                Thomas: Eu nunca vou me virar bem sem você, Jenny. 
   Eu retribui o abraço, o apertando forte em mim. Aproveitando os minutos restantes que eu tinha com o Tommy, sabendo que talvez nunca mais o veria na vida. Mas um dia eu teria que voltar e consertar o passado. E finalmente eu ia voltar para buscar as respostas das minhas velhas perguntas. 
  Mas o calafrio que invadia meu corpo só de pensar em olhar o Michael nos olhos era intenso. Tudo voltaria a tona: O assassinato, a fuga, o casamento, o sexo, tudo! Mas é fato, um dia o seu passado volta para o acerto de contas, e o meu tinha acabado de voltar. 
   Os raios de sol me atingiam violentamente, como se eu tivesse horas exposta ao mesmo. Eu podia sentir minha pele corar e minha boca ressecar gradativamente, enquanto na minha cabeça, eu já tinha a plena certeza de quem era a responsável por abrir as cortinas do quarto:

                   Jennifer: Fecha! – disse, ainda grogue, pondo a mão em frente ao rosto.
                    Karen: Bom dia, Cinderela! Já passou da hora de levantar. 
                   Jennifer: Me deixa dormir mais um pouco, Karen. 

                   Jennifer: Negativo. Eu quero passar muito tempo com a minha melhor amiga, antes dela pegar a estrada. 
Eu abri os olhos, escutando o tom de felicidade que soava das palavras dela, parecendo realmente sincero, o que me fez pensar se o dia anterior teria mesmo acontecido:

                  Jennifer: Você não está brava?
                   Karen: Porque estaria? 
                  Jennifer: Você sabe...O Tommy bebeu e ...

                 Karen: Ambas sabemos que o Tommy é um idiota egoísta. E não, não estou brava!

  Eu sentei na cama, a observando parada de braços cruzados perto da janela. 

                  Jennifer: Me desculpe por ontem. Sei o quanto era importante pra você.
                  Karen: Eu perdôo você, - ela abriu um largo sorriso – se me confirmar se isso aqui é pra mim. 

  Ela começou a pular com um papel branco na mão e eu não entendi nada. Mas ela subitamente deu um pulo na cama se jogando em cima de mim, e me apertando:

                  Karen: Não acredito que comprou uma passagem para o Havaí, Jenny. 
                 Jennifer: Ah, sim! É o seu presente de formatura. O que achou?
                  Karen: É MEU MESMO? EU NÃO ACREDITO!

                Jennifer: Claro que sim, amiga. Você merece.

                  Karen: Porque isso que é ótimo ter esposa de magnata como amiga. – ela riu e eu logo fechei a cara, mas disfarcei. 
Só falar nessa historia de casamento eu pirava. 
                   Jennifer: Que bom que você gostou!
       Karen: Como hoje é seu ultimo dia, vamos sair e curtir sua despedida de Princeton, e a minha admissão a Seventeen.

  Eu a olhei fixamente para ela, e era visível sua felicidade, quase não se continha de tanta alegria.
           Jennifer: Como assim, Karen? Você vai trabalhar na Seventeen?

           Karen: Isso não é louco? O editor da revista estava na minha festa de formatura, acredita nisso? Parece que a sobrinha dele também estava se formando, e papo vai papo vem, a gente meio que ficou e ....

           Jennifer: PERAÍ. Você ficou com o cara? Como assim, Karen?

            Karen: Não pira, deixa eu explicar. Eu não sabia que ele trabalhava na revista quando a gente trocou uns amassos e tal, mas ele comentou depois e me ofereceu um emprego.

            Jennifer: E você teve coragem de aceitar? – eu a olhava incrédula. 

  Ela levantou da cama, já sentindo minha reprovação. 

            Karen: O que você queria que eu fizesse, Jenny? Recusasse?
            Jennifer: Eu acho que...é.. eu não sei...

            Karen: Mas Jenny, eu acabei de me formar, estou desempregada. Em que mundo alguém da Seventeen, a revista mais famosa para adolescente do país, ia me dar um emprego? Nunca! 
           Jennifer: Você dormiu com ele? 

           Karen: Não! Claro que não, Jenny! 

          Jennifer: Toma cuidado, Karen. Isso pode ser perigoso. 
          Karen: Poxa, você não pode ficar feliz por mim, pelo menos só uma vez na vida? Você vai para a Califórnia, o Tommy provavelmente vai esquecer que eu existo... eu vou acabar ficando sozinha aqui. 

          Jennifer: Mas eu to feliz por você, amiga. Só não quero te ver em furada. 
   O dia passou tranqüilamente, Karen era felicidade só. A tarde nós fomos até um barzinho que costumávamos ir, perto de casa mesmo, que tinha um karaokê incrível, mas ficamos só bebendo mesmo. Ela bebia algumas cervejas e eu alguns energéticos, nada com álcool, porque logo mais a noite eu enfrentaria 3 dias de viajem de carro até a Califórnia. E essa também era uma novidade, eu tinha um carro. Era uma velharia, que demorava horas para funcionar, mas quebrou muito o meu galho de alguns anos pra cá.
   E correu tudo perfeitamente bem, minhas malas estavam todas no carro, com meus poucos pertences que eu acumulei nesses anos e alguns documentos. Karen não parava de falar um minuto. Dizia que logo se mudaria para Nova Iorque para trabalhar no escritório da Seventeen de lá, e que sentiria muita falta de mim, também pudera, com o gênio forte que ela tinha, era de se assustar que tinha alguém como amiga. Mas ela também dava graças a Deus que nunca mais veria o Tommy de novo, e naquele momento eu senti pena dele. Ele era um homem por fora, mas por dentro ainda era um menino irresponsável, que não ia saber se virar sozinho em Princeton, e eu falei isso pra ela: 


                Karen: Jenny, pára com isso. O Tommy não é criança, ele tem 27 anos e tem um trabalho. Ele pode muito bem se virar sozinho. 
               Jennifer: Se virar sozinho? O Tommy? Ele não sabe nem ferver água, Karen. 
               Karen: Ele aprende. Ta na hora de você deixar ele seguir em frente, Jenny. Você acabou virando a mãe dele, sabia? Ele apronta de tudo e você sempre passa a mão por cima, sempre põe panos quentes. Ele nunca parou com mulher nenhum na vida, só você pra aturar isso. Ele é um folgado. 

               Jennifer: Por isso mesmo, ele não tem estabilidade, não vai conseguir...

               Karen: Mas ele precisa começar a crescer. Ele é um agente do FBI que tem uma babá de 24 anos, linda, loira e muito bem casada. Isso não tem cabimento, Jenny.
               Jennifer: Eu só me preocupo com ele. – disse entre um gole e outro do energético. 
               Karen: Preocupa? Você faz a comida dele, passa as camisas, lava as cuecas, limpa a casa dele, cura as ressacas... Você é uma empregada pra ele, Jenny. Por isso ele te mantém por perto, porque você trabalha de graça. 

               Jennifer: Não é assim, Karen. Não tem nada a ver...

                Karen: Nada a vêr? Pensa bem, Jenny: Quantas mulheres passaram mais de uma semana na vida dele? 

 Eu tentei evitar, mas acabei pensando por um instante. 
               Karen: Nenhuma. E você está a seis anos com ele. Acredite: agora que você vai para a Califórnia, ele nunca mais vai procurar por você! 

    Logo tratamos de desviar daquele assunto. A idéia de que eu não era importante na vida de Tommy não era confortável, porque eu tinha quase certeza que ele tinha sim, muita consideração por mim. 
    O dia seguiu tranqüilamente, o barzinho começava a encher e Karen a ficar cada vez mais solta. Eu a policiava para que não bebesse alem da conta. 
Quando o sol se escondia e a noite começava a imperar eu comecei a me preparar para pegar estrada, e a tensão já pairavam sobre mim, e os pensamos eram inevitáveis. 
Como seria minha chegada, o que ele sentiria no momento em que me visse, qual seria sua reação ao me ver... essas perguntas me assombravam a dias. 
                Karen: Vou sentir tanta sua falta amiga.
               Jennifer: Mas você está intimada a ir me visitar na Califórnia. – eu sorri a abraçando forte.

               Karen: Promete que vai manter contato?
              Jennifer: Claro que sim amiga. Vou a Nova Iorque sempre que der.
               Karen: Eu vou cobrar viu?? E seu amiguinho, não vai vir te dar um abraço de despedida?

              Jennifer: Pelo visto, ainda está mal por causa da bebida de ontem. Mas agora eu já to indo, tarde demais...
   Ela segurou meu rosto e me deu um beijo demorado no rosto, já não sabendo mais quando iria me ver novamente. Depois de 6 anos eu me despedia da minha irmã, da minha melhor amiga. 
Mas antes que eu começasse a chorar e lamentar a minha partida, eu me virei e caminhei ate o meu carro, adiantando de uma vez o que deveria ser feito. Mas antes que eu pudesse dar a partida, o som estridente de uma buzina chamou minha atenção, e logo eu reconheci o sujeito que estacionou e caminhou em direção ao meu carro. 

              Thomas: Não acredito que ia partir sem me dar um beijo. 
  Ele vinha correndo, parecia disposto, limpo como um Tommy que eu não via a muito tempo. Eu saí do carro, corri até ele, e ele me agarro no colo, me dando um abraço apertado:
                Jennifer: Não acredito que você veio, Tommy.

                Thomas: E porque eu não viria? 

                Jennifer: Ah, sei lá! 

  A felicidade era visível, agora sim estava tudo bem, ou não. Com eles ali, era mais difícil a despedida. Karen olhava Tommy me abraçar e se mantinha ereta, com os braços cruzados.
                Karen: Até que enfim apareceu.
                Thomas: Claro que eu ia vir, eu não ia deixar a Jenny embora assim. 
               Karen: Hum, e dispensou quantas prostitutas para vir aqui ?

               Thomas: Deixa de ser imbecil, Karen, se toca! ,
  Ela fechou a cara, e ele segurou meu rosto, me olhando fixamente:

              Thomas: Não liga para o que ela fala, Jenny. Eu jamais ia deixar você ir assim. 

             Jennifer: To feliz que você veio. Obrigada. 

  Eu sorri alegremente.
             Thomas: Então, vamos?

             Jennifer: Como assim, ‘vamos’?
             Thomas: Ué, eu vou para a Califórnia. Ou você acha que eu ia deixar você sair assim da minha vida? 
Eu comecei a rir encarando aqueles olhos azuis que também me olhavam na maior tranqüilidade possível: 

                 Thomas: Eu vou com você!

                 Jennifer: Pára de graça, Tommy. – Eu segurei o rosto dele e o beijo na bochecha, sorrindo já me despedindo. 

                 Thomas: Você não ta acreditando em mim?

  Ele saiu de perto subitamente, voltando ao seu carro, e eu parei para observa-lo tirar algumas bolsas do porta malas. Ele voltou até mim, e parei na minha frente.

                Thomas: Eu não to mentindo, Jenny. Eu vou com você. 

  Eu trocava olhares com a Karen várias vezes, que desdenhava da cena.

               Karen: Como assim ‘’vai embora’’? E seu trabalho?

               Thomas: Eu pedi transferência. Vou trabalhar no Departamento de Policia da Califórnia. 

   Ele ria como uma criança. 

                Jennifer: Mas e onde você vai viver? 

                Thomas: Eu já acertei tudo, aluguei um lugar pra mim. E seu carro, está vendido. 

                Jennifer: Como assim? Meu carro?

               Thomas: Você não achou que íamos viajar 3 dias dentro dessa lata velha não é?

 Resmungou se referindo ao meu velho companheiro e já pegando as minhas malas do carro. 
Eu olhei para a Karen, e ela já sabia o que eu pensava:

               Karen: Relaxa, mesmo se ele ficasse aqui, eu jamais ia visitá-lo. Agora se manda, e cuidado!

  Ela me deu um abraço forte, assim como ela. Não chorou, mas era visível a sua tristeza. 
E assim, eu entrei no carro do Tommy, deixando pra trás a minha cidade do coração, tal cidade que talvez eu nunca mais voltaria a ver! 



Assim que ele deu partida, deixando Karen sozinha, de braços cruzados na porta do bar, as perguntas vieram claramente a mente:
              Jennifer: Pode me explicar que loucura é essa?

              Thomas: Do que você está falando?

  Ele sorria, feliz, como se tivesse ganhado na loteria. Fazia tempo que eu não o via assim, acho que desde o verão passado quando fomos à fazenda visitar a mãe dele. Ele estava especialmente bonito naquele dia. Vestia uma calça jeans velha, sapatos pretos, e uma jaqueta meio bege, eu gostava. O cabelo, Ah o cabelo! Sempre lindo, brilhoso e tratado. Ele só penteava para trabalhar, então sempre estava bagunçado, e ele não ligava muito, quanto mais desajeitado melhor. Os olhos azuis, eram sempre muito azuis. Na luz do dia, olhar em seus olhos, era como ver a janela de um oceano, lindo. E eu me perguntava se meus olhos também eram assim. 

            Jennifer: Você não ta indo pra Califórnia. Isso não é possível!

            Thomas: Claro que é, Jenny. Eu acertei tudo a alguns meses, queria te fazer essa surpresa. Não vou deixar você ir embora assim. 

            Jennifer: Logo agora que eu ia me ver livre de você! – eu sorri brincando. 
  Ele puxou meu cabelo de leve e logo esticou o braço, aumentando o volume da rádio, que tocava uma musica bem animada. Ali eu percebi que seria uma viagem longa, e com muitas surpresas. 
   Nas primeiras horas, nos cantamos ou melhor gritávamos no carro, cantando nossas musicas favoritas, e rimos, contamos piadas, tudo o que sempre fazíamos quando estávamos sozinhos. Ele me falou que vendeu meu carro naquela mesma manhã, por mil dólares, e aquilo foi uma coisa que realmente me tirou do sério. 

              Jennifer: Como assim, você vendeu meu carro por essa mixaria?
               Thomas: Quem daria mais do que mil naquela lata velha, Jenny? Aquele treco nem funcionava direito. 

               Jennifer: Eu, Tommy. Eu dei 5 mil no meu carro. Era velho, sujo mas era meu. 
              Thomas: Porque você fez isso? Aquele carro não vale nada. Mas graças a mim, você ta livre.
               Jennifer: Cadê o dinheiro? Ele é meu, por direito...
               Thomas: O cara vai depositar na minha conta, gatinha!

              Jennifer: Pára de me chamar assim, e eu vou cobrar viu! Você não tinha esse direito, Tommy. O carro era meu!

               Thomas: Relaxa, Jenny. Você não ia andar com aquele dinossauro na Califórnia, ia?
  Eu pensei e sabia que eu realmente não ia, mas ele não devia fazer aquilo, era crime. 

             Jennifer: Como detetive, meu dever é me impor contra infrações a lei, sabia disso?

  Eu o olhei fixamente, espiando o seu ar de deboche.
               Thomas: Nossa! Que medo, será que eu devo ligar para os meus advogados?  
   Eu dei um soco de leve no braço dele, já rindo também e assim a viajem seguiu por mais algumas 4 horas sem parar. E a noite já imperava acima de nós, e o cansaço imperava na nossa cara. Necessitávamos de uma parada para dormir, um hotel, pousada, qualquer coisa, e assim começamos a procurar por algum lugar!
          Thomas: Você é maluca!

                     Jennifer: Você que é um burro! 
                     Thomas: Não me chama de burro, porque você sabe que eu não gosto!

                    Jennifer: Você é um burro!
                    Thomas: Não sou eu que estou com o mapa de cabeça para baixo. 
  E ele estava certo, o mapa estava ao contrário. E o ódio começava a brotar no meu corpo, estava noite, frio e eu estava com fome. Já passava das 10 da noite e ainda estávamos procurando algum lugar. O mapa não ajudava em nada, e nenhum de nós sabíamos nada sobre aquelas estradas. Olhávamos para a esquerda, só tinha mato, olhávamos para a direita só tinha mato. E aquilo me apavorava a cada segundo:

                   Jennifer: Eu to com fome!
                    Thomas: Eu também estou, então não começa a reclamar no meu ouvido, porque eu não tenho culpa.

                   Jennifer: Você ta querendo dizer que a culpa é minha?

                    Thomas: Não, Jenny. Eu não quis dizer isso. – Ele bufou.

                    Jennifer: É bom mesmo, porque a idéia de vir atrás de mim foi sua.
                     Thomas: O que isso tem a ver? Eu não reclamei disso. Porque vocês, mulheres são tão...

                   Jennifer: Tão, o quê?

                    Thomas: Tão doidas!

                  Jennifer: Ah, pelo amor de Deus, Tommy...

                  Thomas: Eu estou mentindo? A algumas horas atrás estávamos contando piadas e rindo, agora você esta gritando dentro do meu carro que nem uma louca.

                   Jennifer: E porque esse orgulho todo em dizer que eu estou no SEU CARRO? Quer que eu desça do seu precioso veículo? 
                   Thomas: AH! –ele gritou. – Fica quieta, mulher!
                    Jennifer: Fica quieto você, e dirige essa merda! A culpa é sua de eu não ter um carro agora!

                   Thomas: Mas que porra, você vai voltar a falar daquele carro ridículo?
                   Jennifer: Não xinga, você sabe que eu odeio isso! 

                   Thomas: Odeia, é? – ele me olhou de relance, e logo começou a berrar. – PORRA, PORRA, PORRA, PORRA ,PORRA, PORRA, PORRA...

                  Jennifer: CALA ESSA BOCA! Deixa de ser tão infantil, Tommy!
  Thomas: Você é muuuito chata, Jenny! 
 Ele ria descontroladamente, debochando do meu humor. Eu odiava quando ele provocava essas situações:

          Thomas: Não tem jeito, a gente vai ter que parar aqui mesmo!

         Jennifer: Mas esse lugar é nojento! 

          Thomas: Ou a gente dormir aí, ou dorme no carro, sem comida e cobertor! 

 Eu pensei bem, e pensei olhando para o lugar a nossa frente. E era um MOTEL. Sim, um motel! Depois de horas procurando um lugar, esse era o único que achamos, e estava caindo aos pedaços, como uma casa abandonada!
Eu olhei bem para ele, que me olhou, cansado, e bocejando e por consideração, eu tive que concordar:
           Jennifer: Mas você dorme no chão!
Eu estiquei o braço até o banco traseiro e peguei apenas uma mochila minha, logo ele fez o mesmo e descemos do carro, sem falar nada. Entramos no estabelecimento, e esperamos alguém aparecer na recepção.

               Thomas: Eu to morto. 

              Jennifer: É melhor rezar pra que tenha vaga aqui!

  Eu olhava em volta, e o lugar era deplorável. Paredes rachadas, estruturas condenadas e pisos velhos, parecia que estava prestes a desabar.
              XxXx: Posso ajuda-los? 
  De dentro de uma sala minúscula, saiu um senhor, de bengala, com uns 70 anos e óculos fundo de garrafa. 

            Thomas: Sim, senhor. O senhor tem vagas?
             XxXx: Estamos lotado hoje! 
            Thomas: Não diz isso, senhor. Estou dirigindo a 6 horas sem parar. O senhor pode verificar se não tem algum quarto. 

  O homem me olhou, de cima a baixo, ajeitando o óculos no rosto, talvez para enxergar melhor. 

             XxXx: Bom, com uma moça bonita dessa, acho que posso te arrumar alguma coisa!

   Eu sorri, agradecida pelo elogio e alguns minutos depois ele diz que sim, tem vaga, porém somente um quarto. Tradução: Eu teria que dormir no mesmo quarto que Tommy, mas o cansaço que pairava sobre nós, era mais forte do que qualquer rixa que pudesse vir a surgir.
Subimos um velha escadaria e logo encontramos nosso quarto. No interior, o lugar não era dos piores.
    A cama era redonda, com lençóis brancos, e tinha comida e bebida numa pequena mesa no canto. Era um motel simples, mas ajeitado. Eu joguei minha mochila em cima da cama, e com ela eu também fui, me jogando na cama:
T
            homas: Eu vou tomar banho!
   Sem muito assunto, ele também jogou a mochila dele na cama e logo entrou no banheiro. O cansaço da viajem me deixara irritada, ainda mais com o Tommy enchendo meu saco, mas eu agradecia mentalmente por ele estar ali comigo. Eu sabia que era importante e um enorme sacrifício o que ele estava fazendo por mim. Pedir transferência do emprego, se mudar para outro estado, não era uma coisa simples, e eu reconhecia isso. 
Antes que ele pudesse voltar, eu abri o velho armário e peguei alguns lençóis e os estiquei no chão, deixando tudo muito bem ajeitado com travesseiro e cobertor.
   Na minha mochila, peguei minha escova de dentes e uma camisola branca. 
E como eu já devia esperar, ele saiu do banheiro só com a toalha amarrada na cintura, olhando confuso para os lençóis arrumados no chão:

             Thomas: O que é isso? 
            Jennifer: É a sua cama. Você não achou que ia dormir comigo na cama, não é?

  Eu sorri e logo entrei no banheiro, sem dar chances para ele responder. 
    Eu tomei um banho rápido, sem molhar os cabelos e quando eu sai do banheiro, para o meu desgosto, lá estava ele, jogado na cama só de cueca:

                Jennifer: O que você está fazendo aí?

                Thomas: Tentando dormir!
               Jennifer: Mas eu ajeitei os lençóis...

                Thomas: Eu dirigi por horas e você espera mesmo que eu durma no chão? – disse me interrompendo. 

               Jennifer: Eu não vou dormir na cama com você!
                 Thomas: Então você pode dormir no chão! 
  Ele resmungava deitado de bruços na cama, descoberto deixando a cueca preta a mostra. Em outras circunstâncias, um homem com o porte físico do Tommy chamaria muito a minha atenção. Ele era um dos homem mais lindos que eu já vira, e um dos mais galinhas também. Eu definitivamente não ia dormir no duro, e antes que ele pudesse relutar, eu me deitei na cama, do lado dele, mas sem encostar, não queria manter tanto contato assim. Já bastava estarmos em um motel, deitados na mesma cama. 

 Eu fiquei olhando para o teto, com as mãos sobre a barriga, e era inevitável que os pensamentos nebulosos voltassem. O grito de pavor do meu pai, o tiro... tudo aquilo fazia parte de um segredo que eu guardava a sete chaves do Tommy. Era um passado do qual eu não me orgulhava, um passado que eu escondi por anos, mas que estaria ameaçado com a ida dele para a Califórnia. Mas nem mesmo eu sabia o que estava a me esperar por lá.  

                Thomas: Tem comida em cima da mesa. Você devia comer alguma coisa. 

  Ele disse, virando o rosto para mim, e eu permaneci olhando para o teto, pensativa.

               Jennifer: Não quero, eu to bem! 
               Thomas: Deixa de ser durona, Jenny. 
                Jennifer: Eu não quero, Tommy, eu to...
   Antes que eu pudesse de terminar minha frase, os súbitos gritos vindos do quarto ao lado, roubaram nossa atenção. E não eram gemidos, eram gritos escandalosos, tão altos como se o casal estivesse transando na nossa frente. 

              Jennifer: Eu não vou conseguir dormir com essa gritaria! - me irritei. 
               Thomas: Se quiser, a gente pode fazer também! - ele sorriu, me olhando.
 Eu o encarei incrédula:

                    Jennifer: Fazer o quê, Thomas?

                    Thomas: Ah Jenny, não seja boba! 

  Ele disse, num tom safado acariciando meus cabelos. E eu rapidamente me afastei dele, me levantando e caminhando até a mesa, pegando água: 
                    Jennifer: Que idéia idiota, Tommy. Ta maluco?
                     Thomas: Vai desperdiçar todo esse corpinho, Jenninha?

  Na cama, ele se insinuava para mim, deitado de lado, passando a mão por dentro do cabelo, exibindo o corpo sarado e bronzeado. 

                   Jennifer: É melhor você sossegar, ou vai dormir no chão, ouviu?
   Eu voltei para a cama, me deitando exatamente como antes, desdenhando das provocações dele. 
Ele ria como se tudo aquilo fosse uma grande piada. 

                   Thomas: Você não tem senso de humor, Jenny. Parece que nunca ouviu falar de sexo!

                   Jennifer: Mas o que é isso agora? 
                   Thomas: Sexo. Você sabe o que é sexo, não é?

                   Jennifer: Me erra, Tommy. Eu tenho 24 anos, esqueceu?
                    Thomas: E é casada, mas seu marido sumiu no mundo. O que me leva a pensar que você não faz sexo a muito, muito tempo!

  Ele me olhava fixamente, realmente interessando em saber da minha vida sexual. 

                  Jennifer: Você sabe que essa é uma pergunta pessoal, não sabe?
                   Thomas: Qual é Jenny, eu sou o seu melhor e único amigo. E você sabe de tudo da minha vida, porque faz tanto mistério em relação a sua vida de casada?

                 Jennifer: Porque eu sou casada, e pronto. Nada demais nisso. – Eu o encarei. 

                   Thomas: Como assim nada demais? Seu marido nunca apareceu em Princeton. Você é casada com um milionário e nunca tocou no nome dele, nem ao menos usa uma aliança de casada. 
                  Jennifer: Minha aliança está na mochila. E sim, sou casada com ele, o que tem demais nisso?
                   Thomas: Nossa, Jenny. Eu só queria saber... Você nunca fala disso.
   Ele fechou a cara, e virou para o outro lado.
                   Jennifer: Ta bom, o que você quer saber, realmente?

 Eu me virei de lado, e logo ele sorriu, também virando-se, e ficamos assim, cara a cara.
                    Thomas: Você já transou com ele?
      Jennifer: Mas que pergunta mais boba, Tommy. Ele é meu marido. – e o gosto do ódio pairava na minha boca ao chama-lo de ‘meu marido’! 

             Thomas: Não é uma pergunta boba. Você tinha 18 anos quando te conheci. Era completamente inocente, eu fiquei na dúvida. E desde então, você nunca mais...

            Jennifer: Não. Desde então, eu nunca mais fiz amor.
   Ele riu, como se eu tivesse dito a coisa mais estranha do mundo:

            Thomas: Não estou falando de ‘Amor’, estou falando de sexo. Você nunca mais transou com ninguém?

            Jennifer: Claro que não.
   Ele parecia não acreditar naquilo.
              Thomas: E porque não? 
             Jennifer: Eu sou casada, Tommy. Quer motivo maior que esse?

             Thomas: Depende, você o ama? 

  Eu respirei fundo, pensando em algo que me desviasse daquela pergunta . Os olhos azuis dele me olhavam inocentes, e o cabelo caia sobre a testa, o deixando mais irresistível.
              Jennifer: Eu sou casada, Tommy. E tenho respeito meu marido. 

               Thomas: Porque, Jenny? Ele sempre aparece ao lado de mulheres lindas em revistas de fofocas. Será que ele mantém o mesmo respeito por você? Confesso que se eu não tivesse visto sua identidade, diria que você é uma mentirosa, porque ele nunca ligou para você, muito menos a visitou. 

               Jennifer: Ele é um homem ocupado, Tommy. E eu respeito isso. Sou grata a ele por manter nosso casamento em sigilo, por que só assim eu teria a oportunidade de estudar sem ter paparazzis a minha volta todo o tempo. – Menti. 
  Ele olhou para o teto, pensativo, acredito que tentava assimilar todas aquelas informações. 

               Thomas: Eu não consigo acreditar, me desculpe. Não estou te chamando de mentirosa, longe de mim. Mas que casamento é esse, que o marido deixa a mulher por 6 anos? E o pior de tudo é que ele está com varias mulheres e você aqui, sem sexo a anos, isso é terrível.
   Eu acabei rindo, também olhando para o teto. 
               Jennifer: Casamento não é só sexo, Tommy. 

                Thomas: Ele foi o primeiro? 

  Ele me encarou, sério. Eu apenas virei o meu rosto, observando cada traço do seu rosto. Os olhos, as sobrancelhas marcantes, a boca, tudo tornava mais difícil estar na cama com ele, falando sobre sexo. Eu tentava não me aprofundar nesse assunto, mas ele parecia tão indefeso, curioso em saber um pouco mais sobre minha vida. E eu não via o porquê, não lhe contar pequenas coisas. 
               Jennifer: Sim, o primeiro e o único, em uma única noite. 
  Ele ergueu as sobrancelhas, cada vez mais incrédulo.
              Thomas: Uma única noite? – Ele sussurrou.- Você só transou uma única vez...na vida?

  Eu procurei não olha-lo para responder, olhei novamente para o teto escasso daquele lugar: 
              Jennifer: Sim! 
  Ele olhou para o teto, e permaneceu alguns minutos em silêncio. Eu também não quis falar nada. Talvez ele acharia estranho pelo fato de ele sempre estar com mulheres diferentes. Talvez acharia aquilo uma besteira, sei lá...

                 Thomas: É inacreditável. Eu não conseguiria. Não passo mais de duas semanas sem sexo. 

                 Jennifer: Não é questão de sexo por sexo, Tommy. 

                 Thomas : Sei lá, mas fico contente por você, eu acho! Seu marido tem sorte, você é linda, fiel e companheira, muitos homens procuram isso hoje e dia.
  Eu sorri, camuflando todo o rancor que eu sentia pelo todo poderoso. 

                 Jennifer: Sim, somos muito sortudos. 
  Como ninguém falou mais nada, assim pegamos no sono. E apesar das más instalações eu dormi como se estivesse em casa, deitada na minha cama.

   E assim se passaram dois dias de viajem. Por não encontrarmos lugar para dormir nas noites seguintes, acabamos dormindo no carro mesmo. Compramos biscoitos diversos, e nos viramos. 
Até eu finalmente reconhecer a cidade que um dia eu deixara, a cidade cuja um dia eu disse Adeus, e por desventura do destino, agora eu falava: Olá!
   Quando chegamos na Califórnia, era noite, por volta das 11 horas da noite e estávamos cansados da viajem, desejando loucamente por uma cama macia e confortável. Mas meu objetivo tinha mudado, agora eu era uma nova Jennifer. Eu não seria mais a mesma, e Tommy presenciaria toda essa mudança. Jennifer Santiago, tinha morrido e dado lugar a Jennifer Donavan. A esposa do empresário rico, e eu me comportaria como tal.
                     Jennifer: Eu preciso parar em uma loja qualquer.
                     Thomas: Como assim, Jenny? Está tarde, não tem nada aberto. 

                    Jennifer: Estamos na Califórnia, deve ter alguma coisa. Precisamos comprar roupas.
                      Thomas: Roupas? Como assim? 

                     Jennifer: Você vai entender. Continue dirigindo! 
    Ele continuou dirigindo pelas ruas da Califórnia que não parava nunca. Era tarde sim, mas também era sábado e as ruas estavam lotadas. As lojas se preparavam para fechar, e as pracinhas estavam cheias. 
Depois de darmos muitas e muitas voltas, acabamos achando uma loja sofisticada bem no centro da cidade. 
No interior, apenas uma mulher de meia idade veio nos atender, e logo ela mudou sua expressão facial ao olhar para Tommy. 
           XxXx: Posso ajuda-los? 

          Jennifer: Sim, procuramos trajes de festa.
           XxXx: Festa de gala?
           Jennifer: Não, um traje mais sofisticado, para um importante jantar, por favor!

  Ficamos alguns minutos dentro da loja e tínhamos tudo em mãos. Um lindo vestido azul com detalhes em preto no decote para mim, e um terno preto para Tommy, que caía perfeitamente bem nele.
            Thomas: Como você pretende pagar isso, Sra. Donavan?
            Jennifer: Apenas observe. –Eu sussurrei e tirei um cartão de créditos da bolsa, pegando uma fortuna naquelas roupas. 

Deixamos o lugar logo em seguida e saímos dali.
            Thomas: Com que dinheiro você pagou? 
           Jennifer: Esqueceu que eu sou uma mulher milionária, gatinho? – eu ri triunfante. 
   Eu pedi que ele dirigisse até a primeira pousada que encontrasse. Tudo o que deveríamos fazer agora, era tomar um bom banho e nos arrumar. E não demorou muito até que encontrássemos uma casa simples, tão simples que era um abuso chamar de pousada. 
Uma simpática senhora nos atendeu super bem, e cobrou uma mixaria para que pudéssemos tomar um banho, mas logo o fizemos. 
Tommy foi primeiro, tomou um banho rápido e quando saiu do banheiro parecia outro homem. Cabelos penteados, barba feita, com um cheiro impactante e olhos mais azuis do que nunca.
           Thomas: O que achou? – disse, dando uma volta.
            Jennifer: Perfeito.
           Thomas: Não gostei desses sapatos. 

           Jennifer: Mas é um sapato social, custou uma fortuna, devia me agradecer.
            Thomas: Porque estou vestido assim? – disse, não gostando nada de estar vestido assim.

           Jennifer: Espere e verá. Agora é minha vez de tomar banho!

  Eu sorri e logo me dirigi até o banheiro, onde tomei um banho rápido, sem lavar os cabelos, logo após vesti o lindo vestido e a sandália branca de salto alto que também havia comprado. Na minha mochila eu tinha praticamente tudo o que uma mulher precisa, maquiagem, secador, esmaltes, entre muitas outras coisas. Eu demorei muito para finalmente ficar pronta, mas quando deixei a casa, renovada, olhei para Tommy que me esperava encostado no carro, visivelmente impaciente. 
   Assim que ele me viu, a expressão facial mudou completamente, ele se pôs ereto, ajeitando a gravada, para estar tão elegante como eu. O olhar dele acompanhou cada pequeno movimento que eu fiz até finalmente chegar bem próximo ao seu corpo, até parar diante dele:
            Thomas: Jenny, você está...Deslumbrante. 
            Jennifer: Obrigada. – Eu sorri. 
           Thomas: Porque estamos assim? – ele olhou para nossas roupas. 

           Jennifer: Porque hoje é uma noite especial, Tommy. Devemos estar vestidos a caráter.  

           Thomas: Se é assim, -ele sorriu.- Madame?

 Logo, ele abriu a porta do carro, para que eu entrasse, eu sorri e acenei com a cabeça, preparando-me mentalmente para o passo seguinte. O meu passado tinha virado presente. E eu estava pronta para finalmente dar de cara com ele. 

    Continuamos a viajem em silencio, no trajeto, pedimos informações a pessoas na rua, pois com o tempo eu tinha me esquecido onde ficava a mansão, mas uma casa daquele tamanho não era difícil de ser achada, em poucos mais de meia hora depois, estávamos diante do portão da mansão. 
  E o medo e a tesão me resumiam. Eu estava entregue ao momento, eu teria que fazer valer a pena tudo o que eu aprendi ali, naquele exato momento, era agora ou nunca, definitivamente. 
Logo o porteiro, deu passagem para entrarmos e eu estranhei de imediato. Me perguntei o porquê dele não pedir para que nós nos identificarmos. E logo a explicação se tornou evidente, e uma coisa que eu realmente não esperava, acontecia na mansão. 

              Thomas: Vamos entrar lá? 
             Jennifer: Com certeza. 

  Uma festa. Sim, acontecia uma festa na mansão Donavan. O lugar estava cheio de gente elegante, espalhada pelo jardim e também no interior da casa, mesmo de longe eu podia ver. 
Tommy desceu do carro e logo veio abrir a porta para mim, me dando apoio para que eu descesse do mesmo, como um verdadeiro cavaleiro medieval. 
 Eu desci do carro, olhando fixamente para a casa, matutando um plano B de imediato e concluí que aquela situação era melhor do que eu tinha imaginado antes, era perfeito:
                  Jennifer: Bom, chegamos. 
 Eu me virei para Tommy, que olhava deslumbrado para a estrutura externa da casa. 
                 Thomas: Esse cara é podre de rico, não é?
                Jennifer: Provavelmente, - eu segui seus olhos, olhando a mansão, mas logo tornei a olha-lo.- Tommy, eu tenho algumas coisas para te falar. 

                 Thomas: O que é? 

                 Jennifer: Eu não sabia que teria um festa da casa hoje, então tudo que você pode fazer é entrar e se sentir em casa. Beba, conheça gente, faça o que quiser, mas eu te peço algumas coisas...Em hipótese alguma fique bêbado, e não, de jeito nenhum procure por mim, uma vez que estamos dentro da casa, você me entendeu?

               Thomas: Beber, ver mulheres gostosas e ricas, comer de graça, e não procurar por você, moleza gatinha. 

 Ele sorriu, animadíssimo com a boca livre, e eu por minha vez, estava pronta para a guerra que seria começada em poucos minutos. 

    Atravessamos o jardim, cujo um dia, eu caminhei com Pedro, quando minha vida estava completamente conturbada. E por um momento desejei vê-lo, sim, sentia falta de Pedro e também de Mary, mas agora não era o momento, eu estava ali para ele, Michael Donavan e para busca a minha vingança. 

   Assim que chegamos no portão de entrada da casa, ele me olhou fixamente e soltou meu braço se perdendo de imediato no meio da multidão, e eu pude perceber que o lugar estava mais cheio do que eu pensara. Mas a casa ainda continuava a mesma, o lustre no teto, as paredes desenhadas, o chão incrivelmente limpo, e as escadas impecavelmente perfeitas, como eu bem me lembrava. 

   O lugar estava claro, e as pessoas estavam muito bem arrumadas, homem de terno e mulheres de vestidos caríssimos, e logo eu constatei que aquela era um ocasião especial, pois utilizava de garçons para servir bebidas e comidas.
    Mas eu não me contive e comecei a caminhar entre as pessoas, discreta, sem fazer muito alarde, esperando o momento certo de fazer o meu grande show. 
  Cap.8 É bom tê-la de volta. 
    Eu já tinha dado umas 3 voltas por aquele hall e não o encontrava. O relógio na parede marcava uma e quarenta da madrugada, e a festa parecia ficar cada vez mais cheia, diminuindo cada vez mais as minhas chances de encontra-lo. 
   Mas antes que eu desanimasse, eu resolvi dar uma volta pela casa e relembrar alguns momentos que passei ali, porque tempo para me encontrar com ele, eu teria de sobra. 

  Andando pelas instalações da casa, procurando me distanciar cada vez mais da multidão eu via que realmente nada tinha mudado, a biblioteca, o salão de jogos, a academia, absolutamente tudo como eu me recordava. Como se tivesse se passado apenas um dia desde a ultima vez que eu estivera ali. 
   E de frente para a porta do escritório do homem, eu me recordava das noites que ele passava ali dentro, das horas que ele passava trancafiado naquela sala, cuja sala em que ele provavelmente tenha bolado todo o plano de matar o meu pai, e aquilo me deixava enfurecida, então num ato bruto eu escancarei a porta daquela sala, e para minha surpresa, dando de cara com ele, sim, ele está lá. O todo poderoso, o maior dos maiores, o pior dos piores...o meu marido! 
   Encostado na escrivaninha, com um porta retratos na mão, ele me lançou um olhar surpreso, talvez não esperava a minha chegada tão afobada daquele jeito. Mas imediatamente, eu fiz questão de apagar do rosto a expressão e surpresa e impor uma postura ereta e impecavelmente dura. Ele por sua vez, deixou o porta retratos na mesa, e cruzou os braços, ainda sentado na escrivaninha, me olhando fixamente como se eu fosse a maior das surpresas da noite, e sem sombras de dúvidas, eu era. 
      Michael: Posso ajudá-la em algo? 
                 Jennifer: Sim. 

                 Michael: Bom, o banheiro fica do outro lado da casa. 

  Hã? Que banheiro? Será possível que eu tinha mudado tanto assim? Ele não havia me reconhecido. Não reconheceu a mulher dele, mulher cujo pai foi assassinado brutalmente por ele.
                 Jennifer: Não estou procurando o banheiro, senhor! 

  Eu me aproximei gradativamente dele, o olhando cada vez mais fixamente, e ele também me olhava da mesma forma, mas sem mover um músculo sequer. E eu pude vê-lo, olhar bem na cara daquele puto. 
E após 6 anos ele não tinha mudado tanto fisicamente. Seu rosto estava mais marcante, o corpo mais rígido, o olhar mais ameaçador. Mas eu também não era a mesma, eu era outra, muito mais perigosa, isso eu podia garantir.
                Michael: O que você procura então?
 Eu parei a poucos passos diante dele, ao escutar aquela voz rouca que era algo dos meus piores pesadelos, e em português, eu disse o encarando:

                Jennifer: Não lembra de mim, senhor? 
  Ele ergueu a sobrancelha e engoliu seco, eu podia perceber que a atmosfera que o envolvia tinha mudado completamente. Ele reconhecera, agora sim sabia quem eu era e quem eu havia me tornado. 
    Ele se levantou, mantendo a postura ereta diante de mim, me encarando, mas dessa vez com um ar curioso, estranhando minha volta inesperada depois de tanto tempo. 

               Michael: É bom tê-la de volta, Miss. Santiago, ou melhor... Querida!
Desgraçado, eu ia mandar aquele Miss Santiago pro quinto dos infernos junto com ele. Mas dessa vez eu não era o tipo que explodia fácil, eu mantinha meu controle todo o momento. 

            Michael: Não posso negar que estou surpreso em vê-la.
           Jennifer: Imaginei que ficaria. 
  Ele me olhou de cima abaixo, e apesar de tentar esconder o que realmente sentia eu podia sentir em cada pequeno gesto que ele estava completamente surpreso, o que era uma coisa boa, sinal de que eu estava no poder. 
Eu passei por ele, caminhando até a enorme cadeira giratória atrás da mesa, e me sentei nela, me virando para ele, que permanecia virado para o outro lado:
              Jennifer: Vejo que tem passado muito bem...É uma bela festa. 
 Lentamente, ele se virou para mim, com expressão neutra, tentando reaver o domínio da situação.
             Michael: É sim, e deveria ser. Não é sempre que completo 30 anos. 

             Jennifer: Então esse é o motivo da comemoração? – eu sorri, surpresa.

             Michael: Exato. Espanta-me o fato de você estar aqui, logo hoje. Uma bela coincidência.
            Jennifer: Destino, meu caro!
  Ele andou poucos passos até a cadeira posta do outro lado da mesa diante de mim, sentou-se, ainda conturbado, mas encarando a situação da forma mais elegante possível. 

            Michael: Admiro sua transformação. Vejo que evoluiu muito desde a ultima vez que nos encontramos.
           Jennifer: Sim, foram ótimos anos longe de sua companhia, mas estou de volta, para ocupar um cargo que por direito, é meu.
  Ele ergueu a sobrancelha, parecendo mais interessado no rumo da conversa.

              Michael: E que cargo seria esse? O de minha esposa?

 Eu gargalhei.  

             Jennifer: Não seja não pretensioso, Michael. Um cargo importante de trabalho, essa é a real razão da minha volta à Califórnia.
               Michael: Obviamente! E gostaria de parabenizá-la pela brilhante carreira que optou, foi muito do meu agrado que tenha escolhido fazer direito em Princeton. 

              Jennifer: Suponho que sim, agora estou capacitada o suficiente para condena-lo por seus atos...Criminosos, acho que posso dizer assim. 

 Eu não gaguejava e não titubeava ao dizer cada palavra. Estava confiante, sabia que tudo havia mudado, agora era a minha vez de rir por último!
  Ele sorriu, não parecendo se importar com a observação que eu acabara de fazer. Levantou-se e caminhou até o bar, posto do lado oposto da sala, servindo-se de um drink, e lá permaneceu, encostado no pequeno balcão. 
             Michael: Em todo caso, estou feliz que tenha retornado à sua casa.

            Jennifer: Sério? Ao meu ver, você esteve muito bem acompanhado de belas mulheres ao longo desses anos. 


Enquanto falava, puxei para perto de mim, o porta retratos que ele estava olhando. Era uma foto antiga de um casal, com um bebê no colo da mulher, talvez fosse os pais dele, supus. Logo, pus a foto novamente na mesa. 

             Michael: Não tenha ciúmes, minha cara. Eram mulheres que me acompanhavam em eventos, somente isso! 

            Jennifer: Ciúmes? Creio que não, Michael.
  Eu me levantei lentamente da cadeira, e me dirigi elegante até ele, que olhava meu corpo como um animal faminto, com o mesmo olhar de anos atrás, enquanto desejava possuir meu corpo ainda puro. Eu parei do seu lado, também me encostando no balcão e me servi do copo de drink dele, bebendo e o olhando, sentindo o olhar dele me devorar de ódio talvez. Eu bebi toda a bebida e me aproximei mais um passo, estando a poucos centímetros de distancia do corpo dele:

          Jennifer: É bom estar frente a frente com você.
          Michael: Digo o mesmo!
  Eu sorri, triunfante pelo fato de o meu plano ter sido concluído com êxito total. E para fechar a noite, lentamente eu encostei uma mão minha do peito dele, sobre o terno, e subi gradativamente, podendo sentir as formas rígidas do seu corpo. E ele não lutava contra, apenas me encarava, foi aí que eu não tive medo de ousar mais ainda, com as duas mãos e bem mais próxima a ele, eu passava a mão pelo seu peitoral, o olhando fixamente, observando a sua tensão de perto, e eu subi as mãos devagar, desfrutando daquele toque, sentindo meu corpo estremecer ao sentir aquele homem perto de mim. 

  Eu subi as mãos pelo seu pescoço, dedilhando todos os seus traços até finalmente chegar em seu rosto, onde por fim eu cheguei bem perto da sua boca e sussurrei:

           Jennifer: Feliz Aniversário, Querido! 
  E assim eu encostei minha boca na dele, num ato suave, onde eu pude lhe dar um pouco do veneno que eu tinha lhe preparado durante 6 anos. Foi um beijo curto, e ele não se moveu, apenas entreabriu os lábios, desfrutando positivamente do meu beijo, sentido os lábios que um dia ele possuiu loucamente. 

  Eu o olhei suavemente, e assim deixei a sala. Caminhando até o meu antigo quarto, os flashes eram inevitáveis, mas dessa vez eu estava por cima, eu controlava, eu ditava as regras. E o beijo foi apenas o começo de tudo, o primeiro ato. 
   Eu ia ter minha vida de volta, e eu não descansaria até vê-lo morto, assim como meu pai.