13 junho 2013

Dilema




Eu nunca havia estado em meio a tantas pessoas cruéis. Acreditava que essa vilania toda existisse apenas em filmes da Disney. Mas aos 16 anos, eu me vi obrigada a deixar tudo o que eu havia conquistado em tão pouco tempo pra trás. Uma amiga maravilhosa, um Colégio bem estruturado, uma casa incrível e o mais importante, o homem que eu amava. Sabe algo que é pior do que se apaixonar por uma pessoa que não é para você? Então, eu me vi em um Dilema, e permaneci por muito tempo. Voltei! Só me resta saber se terei forças para reconquistar tudo aquilo que eu resolvi deixar.



                               
                                    CAPITULO 1


Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2009.

Nunca havia passado pela minha cabeça que eu um dia moraria na capital. Muito menos que hoje eu teria todo o dinheiro que eu tenho. Perdi meu pai quando tinha seis anos, e desde então minha mãe batalhou para dar uma vida digna para mim e meu irmão mais novo. Hoje ela está casada com um Empresário bem sucedido que conheceu três anos atrás e por essa razão viemos todos morar aqui.
Cheguei tem dois dias, e tudo é diferente da minha vida. Confesso que não me atrai essa ideia de ter pessoas fazendo tudo pra mim, e de ter um cartão de crédito disponível com um saldo enorme. Eu gosto do Roberto, mas eu não quero aceitar esses mimos que ele me dá, porque eu sempre soube me virar com o pouco que tive, e meu irmão Leandro aceita, porque ainda é novo, e minha mãe que dá as ordens pra ele.
Hoje é meu primeiro dia na Escola Nova. Foi a única coisa que minha mãe me obrigou a aceitar do Roberto. Então, eu acabei cedendo por saber que isso é bom para o meu futuro. Uma escola cheia de riquinhos, o último lugar que eu queria estar na verdade.
Sinto nesse momento todos os olhares direcionados a mim. Isso porque além de estudar aqui, minha mãe pediu que eu viesse com o motorista. E chegar ao colégio de motorista, em uma Mercedes recém-lançada no mercado, digamos que era para poucos, se não fosse dizer só pra mim.
-Então você é a filha adotada do Roberto Mackinder? – estava andando perdida pelo corredor quando o grupo típico das patricinhas bem vestidas me parou e uma loira de olhos claros, vestindo um jeans de marca com uma camiseta colada que realçava suas curvas falou comigo com tom de desdém.
-Não fui adotada por ninguém. – respondi no mesmo tom, já começando a seguir meu caminho, mas uma de suas seguidoras, igualmente vestida, porém com os cabelos negros segurou meu braço.
-Não te dispensei ainda queridinha. – a loira se virou e me encarou de cima a baixo – Não gosto que me deem as costas. Estou falando com você ainda, se não percebeu. Acho que deveria aproveitar a oportunidade única que está tendo e ser um pouco mais simpática comigo.
-É uma piada, não é? Sinceramente. – falei revirando os olhos – Eu não tenho intenção alguma de falar com você, portanto, não perca seu tempo comigo. E só pra você saber, nem a minha mãe manda em mim, não é uma patricinha aguada que irá mandar.
Me virei e saí de lá. Não sei o que deu em mim, mas acabei revidando às provocações daquela garota. Ela era o tipo que andava em bandos onde todos a bajulavam, certamente ela queria algo para me humilhar. E se eu ficasse ali mais um minuto não faltariam motivos pra isso.


Eu era simples. Vestia uma bermuda jeans rasgada com um all star e uma camiseta larga. Nada de marca ou que fosse da moda, eu estava ali apenas para estudar. Consegui finalmente chegar até a diretoria, onde o diretor me recebeu com bastante atenção. Certamente o fato de ser enteada do Roberto me ajudou nessa parte.
-Meu nome é Júlia Perez. É um prazer fazer parte desse Colégio tão famoso pela sua qualidade. – estendi minha mão e ele me olhou simpático, parecia que realmente era de sua personalidade.
-Quando Roberto me procurou não pude negar a ele esse pedido. Suas notas são excelentes Júlia, sei que será a primeira aluna do Primeiro Ano, e, por favor, não me chame de Senhor, soa como se eu fosse velho, me chame de Carlos. – ele me estendeu a cadeira e se sentou de frente a mim, sua mesa era organizada, assim como toda a sala, e para um Diretor, ele era muito jovem, parecia estar na casa dos trinta anos.
-Desculpe Carlos. – sorri tímida – Eu sinceramente não esperava um Diretor tão jovem assim, por isso tamanha formalidade.
-É o que me dizem. – ele abriu um largo sorriso – Meu pai estudou com o Roberto, por isso nos conhecemos, e eu acabei herdando por ser o filho homem e ser mais velho que minha irmã, meu pai quis se aposentar cedo, e me colocou na direção assim que terminei a Faculdade de Administração. Isso faz cinco anos, mas tem dois anos que administro isso tudo aqui sozinho. Ele me ensinou muita coisa.
-Isso é fantástico, certamente ele tem orgulho de você. – nos encaramos – Bem, acho que tenho que ir pra aula, não é? É tão interessante que eu passaria o dia todo conversando com você, eu pretendo estar com meu próprio negócio quando tiver sua idade, vai servir para ser minha inspiração.
-Ainda temos meia hora, no primeiro dia é hora do discurso oficial do Diretor, boas vindas aos novatos, essas burocracias que ainda não consegui alterar. – ele falava entediado – Mas fico lisonjeado com o elogio. Apenas por esses minutos de conversa, sei que irá conseguir, ainda fico impressionado com suas notas, e pela disciplina, tudo em você é encantador.
-Assim eu fico sem graça. Eu preciso me dedicar muito, se quero passar em Medicina. – me levantei – Bom, acho que eu preciso realmente ir, queria pelo menos saber onde é a minha sala de aula, para parecer menos perdida. Pode me ajudar?
-Então estou falando com uma futura médica? – ele se levantou animado – Farei mais que isso, irei lhe acompanhar e depois vamos até o auditório.
Seguimos conversando sobre Universidades do Rio e do Brasil todo, acabei confessando meu desejo de conseguir uma vaga na UERJ, e ele disse que com meu boletim, eu deveria investir em algo maior, como alguma Universidade em Londres ou nos Estados Unidos.
-Ainda não passou pela minha cabeça ir estudar fora do Brasil Carlos. – sorri, espantada com seu interesse – Não conseguiria ficar longe da minha mãe ou do meu irmão, mas nunca se sabe quando vou querer mudar de ideia.
-Claro. – ele parou encostado em uma das portas – Ainda tem três anos para pensar com carinho. Temos muitas propostas de bolsas de estudos para o exterior, e posso tentar alguma em Medicina se mudar de ideia. É o sonho da minha irmã, mas meu pai disse que ela precisa melhorar muito as notas para que ele tente algo.
-Se é o sonho dela, certamente ela vai conseguir. – sorri e nos encaramos – Eu confesso que achei que seria péssima ideia estudar aqui, mas pelo visto não vai ser. Ter o apoio do Diretor é um ótimo começo, agora eu conquisto alguns amigos.
-Bem, falando em irmã, acho que posso lhes apresentar, e certamente será uma candidata à sua amiga, já que estudam na mesma sala. – ele olhou ao fundo do corredor e então abriu um sorriso, logo olhei e me deparei com uma garota igualmente simples como eu. – Essa é a Laura, minha irmã. Laura, essa é Júlia Perez, sua mais nova colega de sala.
-Oi Laura. – a encarei com um sorriso, e ao contrário das outras garotas que havia cruzado no corredor, ela parecia ser bem diferente – Seu irmão estava me falando que sonha em estudar Medicina, acho que vamos nos dar muito bem.
-Oi Júlia. – ela disse seca – Não me leve a mal, mas se quer ser minha amiga, não é falando que vamos ser “concorrentes” que as coisas vão funcionar. Estou indo para o auditório, o Diretor tem um sermão a fazer.
-O que foi isso? – falei depois que ela saiu do corredor – Eu falei alguma coisa demais Carlos?
-Claro que não Júlia. – ele falou sem graça – Laura está passando por uma fase ruim, mas sei que vão se entender quando ela perceber que você não é como o antigo grupo de amigas dela. Ela sofreu uma decepção muito grande, e está com dificuldades de confiar novamente.
-Sinto muito. – sorri sem graça – Então é essa a sala? Vamos acabar nos atrasando.
-Sim, tem razão. – ele se assustou ao olhar no relógio – A sua sala é essa aqui, e bem, estamos em cima da hora.
Andamos rápido até o auditório, e Carlos me mostrou sua irmã sentada sozinha em um canto e do outro lado ele apontou para o grupo cruel do Colégio.
-Elas eram as amigas da Laura. – ele sorriu e seguiu para o centro do auditório onde estavam o esperando, senti que era a minha chance de aproximar da Laura, o fato dela não gostar da Loira aguada e companhia já era um ponto positivo.
-Posso me sentar aqui? – falei já ocupando o lugar vago ao lado da Laura – Eu prometo ficar quieta e não te incomodar, mas não quero sentar perto daquele grupo asqueroso.
-Está falando da Nanda e suas seguidoras? – ela me olhou surpresa – Pensei que era esse o tipo de gente que você queria atrair no Colégio, por isso o interesse em conhecer a filha do dono.
-Você esqueceu de mencionar o bombadões babões. – ela riu – Não Laura, o fato de querer me aproximar de você foi simplesmente o seu jeito, você é descolada e simples como eu, quer estudar, e isso é o que me interessa.
-Bom o loiro dos olhos claros que não tira os olhos de você desde que se sentou aqui é o Lucas. – ela me disse com o olhar triste – Ele é irmão da Nanda, e fomos namorados.
-Sério? – olho surpresa – Ele é lindo! E você também Laura, porque acabou?
-Porque a única coisa que ele quis comigo, foi tirar umas fotos minhas e depois virei chacota no meio da turma toda, até hoje ainda sou ridicularizada por alguns – ela tinha o olhar distante e bem triste.
-Gosta dele Laura? – pergunto sincera e ela apenas assente com a cabeça – Não podemos deixa-los fazer o que querem.
-Não podemos contra eles Júlia. – ela me olhou triste – Não sou a única que eles magoaram, e não sou a última. A Nanda manda nesse colégio desde que entrou, com sete anos de idade. Seus pais são ricos, e ela está acostumada a ter tudo a seus pés. Não quero confusão.
-Não iremos causar confusão. – falo decidida – Mas tem que confiar em mim Laura, só quero que eles parem com isso e respeitem nós.
-Pois eu não quero. – ela pegou suas coisas e se levantou irritada, saindo do auditório.
Que garota idiota. Ela ainda vai me dar razão. Paro um pouco e começo a prestar atenção no Carlos. Se ele não fosse o diretor, certamente seria o tipo de cara que eu queria me relacionar. Mas eu não podia nem pensar nessa possibilidade.
O tempo passou rápido, ele falava muito bem, e era muito carismático, engraçado eu diria. Seu discurso foi leve, e nem um pouco cansativo, logo ele pediu que fôssemos para a sala de aula e que pegássemos firme com os estudos. E assim fiz.
Sozinha naquele imenso corredor cheio de patricinhas e cheio de garotas normais feito eu, mas que se escondiam por detrás de livros pude notar que o que essa gangue fazia com quem não as seguia era algo absurdo.
-Eu vou dar um jeito nisso. – falei alto e algumas pessoas me olharam, me deixando sem graça.
Me sentei em um lugar ao fundo da sala que estava vago, e por sorte era perto da Laura. A gangue se sentava toda na frente, naquele grupo isolado e que parecia estar em uma bolha onde só eles pudessem ser felizes. Eu sabia que a felicidade alheia incomodava-os. Era fácil ganhar.
-Me desculpe Laura. – a encarei e falei sincera – Não quero fazer o jogo deles, mas não quero deixar de fazer o que eu faço por causa deles. Vamos esquecer que eles existem.
-Se está com condições reais de fazer isso Júlia, eu aceito – ela sorriu relaxada – É bom ter uma amiga.

10 de abril de 2009.

Foi bom ter a Laura comigo, era bom ter com quem conversar e tirar dúvidas. As aulas tem sido legais, e eu me diverti um pouco, tirando a gangue, nossa sala tinha algumas pessoas agradáveis. Quando chegamos, havia um envelope na carteira de cada aluno, menos no da Laura, ao abrir, me deparei com uma foto dela nua, e ela já saiu correndo pela sala e a gangue se sentia satisfeita, rindo feito bando de loucos.
-Laura. – enfim consegui encontra-la encostada em um banco no pátio – Não fique assim.
-Eles nunca tinham espalhado assim as fotos Ju. – ela me abraçou chorando – Sabem que eu não posso fazer nada porque meu irmão iria descobrir, e o escândalo iria ser maior.
-Nós vamos dar um jeito nisso Laura. – a abracei e sequei suas lágrimas – Conheço pessoas assim, é isso que querem. Você encontrou uma amiga e estava feliz até então, e por isso querem te atacar para colocar pra baixo.
-Eu não consigo reagir Ju. – ela disse se recuperando – É muito pra mim.
-Laura, você está bem? – fomos surpreendidos pela chegada do Lucas, aparentemente preocupado com Laura, que fica em choque – Eu havia apagado todas as fotos, já tinha falado com a Nanda, mas pelo visto ela havia uma carta na manga. Eu não sabia. Me desculpe.
-Tudo bem Lucas. – ela disse derrotada – Já fez sua parte, pode voltar pra sua irmã.
-Calma Laura, o Lucas não parece que veio aqui mandado. – falei baixo somente para ela ouvir – Obrigada Lucas, pela preocupação.
Ele sorriu pra mim e se sentou do lado da Laura, como um imã ela deitou a cabeça em seu colo e ele a acariciou nos cabelos. Me levantei e fui me afastando com a imagem dos dois, eu tinha certeza de que o Lucas não era nada como a irmã, e que se fez algo na maldade, ele estava bem arrependido.
-Temos uma festa hoje Júlia. – Laura entrava animada na sala, e mesmo com os cochichos parecia não se importar, Lucas veio logo atrás, e Nanda lançou um olhar desconfiado para o irmão, que fingiu não ver – E nós vamos.
-Festa Laura? – falei desanimada – Eu e você em uma festa?
-É na casa do Lucas, e ele quer que a gente vá. – seus olhos brilhavam – Cansei de bancar a chorona, quero bater de frente com essas meninas.
-O que o Lucas tem? – ri e ela se sentou em minha frente, virando em seguida – Acho que não tenho roupa, mas está na hora de aceitar o cartão de crédito que o Roberto fez pra mim.
-Então vamos às compras hoje Júlia. – ela disse animada e ao virar para a frente ganhou uma piscadinha do Lucas, ela estava feliz, portanto eu também estava.
A tarde foi divertida e animada. Fizemos compras e eu gastei mais do que pretendia. Acabei por me ajeitar em casa. Não era de sair, nem sabia me maquiar. Mas procurei algumas coisas na internet que me ajudaram. Nossa presença não era esperada, e tínhamos que arrasar.
Eu tinha um corpo bonito, não era exagerado, mas era ideal para a minha idade. Havia comprado um vestido verde claro curto, meio rodado na saia e tinha uma alça só. Me olhei no espelho e estava me achando estranha, mas bonita. Queria me acostumar com esse tipo de roupa, era o que eu iria usar daqui pra frente.
Encarei minha maleta de maquiagem e vi um desafio maior. Eu passei a base e uma sombra clara, depois focando no lápis, que por sorte eu sabia usar muito bem, passei um rímel e um batom cor da boca. Eu realmente estava bem diferente do que estava acostumada, fiquei surpresa.
Soltei os cabelos, o que eu raramente fazia e o deixei cair pelo meu ombro, tinha os cabelos negros compridos, com a raiz lisa e as pontas onduladas. Por fim calcei uma sandália preta de salto fino e me encarei.
-Eu não lhe reconheceria se não soubesse que era você. – Laura entrava em meu quarto me pegando desprevenida – Está linda Júlia.
Laura também estava linda. Sua pele clara em contraste com o vestido tubinho preto tomara que caia e os cabelos castanhos em um rabo de cavalo alto. Seus olhos castanhos claros bem marcados e um surpreendente batom vermelho nos lábios. Ela estava linda.
-Eu digo o mesmo. – sorri pra ela – Está linda. Vou pedir ao Roberto para nos levar.
-Não precisa Jú. – ela segurou minha mão e descemos as escadas – O Carlos quis vir, então estamos com ele.
Fui pega desprevenida, de surpresa. Não esperava ver o Carlos, muito menos fora do ambiente escolar. Eu evitava ao máximo a casa da Laura justamente para não cruzar com ele, e agora estávamos indo para a mesma festa. Pode ser que ele esteja acompanhado de uma namorada, eu nunca perguntei afinal. Mas o fato de passarmos a noite juntos, não me deixava nem um pouco calma.
-Algum problema Jú? – Laura me despertava dos pensamentos revoltos que estava tendo e eu apenas neguei com a cabeça, logo saímos de casa e lá estava ele encostado no carro.
Carlos aparentava ser mais jovem ainda com aquele ar leve. Todo aquele fardo que ele carrega por administrar uma instituição daquele tamanho o deixa sério, mesmo que descontraído às vezes. Não tínhamos tido muito contato depois do meu primeiro dia, então hoje seria um segundo primeiro dia para nós. Ele fitava meus olhos de forma que me deixou vermelha, e que me fez apenas entrar no banco de trás do carro depois de um tímido “Oi”.
Ele vestia uma calça jeans de lavagem clara com uma camisa polo rosa. Calçava um tênis despojado e os cabelos bagunçados com gel, destacando ainda mais sua jovialidade. Eu estava tão nervosa que comecei a imaginar coisas, como ele me olhando do retrovisor do carro algumas vezes.
-Está calada Júlia. – sua voz grossa e atraente me despertou – Está tudo bem?
-Claro. – falei escondendo o nervosismo – Está tudo ótimo.
Eu não poderia ficar afim do Diretor, mesmo ele sendo o cara que eu sempre quis pra mim. Mas o Carlos era diferente, era descolado, lindo e jovem. Eu tanto fugi e agora estou predestinada a passar a noite com ele do meu lado, já que a Laura certamente estará de chamegos com o anfitrião da festa.
-Chegamos. – Laura nem esperou estacionar direito e já desceu do carro – Encontro vocês lá na porta, Lucas nos espera, não demorem.
-Não tenho te visto no Colégio Júlia. – Carlos falou educadamente enquanto íamos para a porta da casa – Nem vejo você lá em casa com a Laura.
-Estou focada demais nos estudos Carlos, e a Laura passa a maior parte do tempo na minha casa. – falei ainda tensa – Agora acho que ela vai me abandonar, está toda animada depois que reatou com o Lucas.
-Conversamos hoje, ele me procurou e eu o incentivei a procurar por ela. – ele me encarou – Sabe o motivo da briga deles? Sabe alguma coisa que eu não sei?
-Não faço ideia Carlos. – fiquei mais nervosa, mas relaxei ao ver que estávamos próximo a eles – Deve ter sido fofocas, implicâncias da irmã. O bom é que se resolveram.
-Ainda bem. – ele abriu um largo sorriso e me ofereceu o braço – Permita-me lhe conduzir?
-Será um prazer. – entrelacei meu braço no seu e seguimos atrás dos Pombinhos, assim que entramos, o primeiro olhar que se cruzou com o meu foi da Nanda, fuzilando o irmão e logo depois a mim – Acho que tem uma pessoa que não gostou da nossa presença.
-Acho que a Fernanda deveria cuidar mais da vida dela do que da nossa, não acha? – ele deu um sorriso torto e eu estremeci, meu Diretor gosta tanto dessas intrigas colegiais quanto eu.
-É melhor eu não achar nada né Carlos. Vamos ficar na nossa em um canto, porque as pessoas já começaram a cochichar e eu não quero ter problemas. – falei assim que adentramos a casa e entramos em uma sala que estava bem cheia. – Mas eu acho que vai ser impossível as pessoas não cuidarem da nossa vida. Vamos ter problemas Carlos.

-Não teremos problemas se assim você não quiser Júlia. – ele ficou de frente a mim e colocou uma mão em minha cintura – Não dá pra nos evitarmos assim, você é a melhor amiga da minha irmã e a melhor aluna do meu Colégio. Além do mais você é uma garota encantadora, tão menina, mas tão mulher. Temos muito o que aprender um com o outro. Eu quero passar mais tempo com você. Eu quero lhe conhecer.
-Carlos, por favor. – o encarei e respirei fundo – Não dá para agirmos como se fôssemos pessoas normais. Temos várias relações, mas a relação Diretor-Aluna é a que mais pesa em qualquer situação. Eu não quero problemas para o meu futuro, e não quero problemas para você. Uma amizade entre nós pode nos prejudicar.
-Júlia, não seja radical assim. Fora do Colégio podemos ter a relação que quisermos. Vamos relaxar, vou buscar um suco pra você, não demoro. – ele deu um beijo na minha testa e saiu.
A Festa estava bem organizada, estava cheia e como era de se esperar, tinha o grupo da Nanda acompanhando cada movimento meu, e cada movimento da Laura, essa que por sorte não estava se importando com nada, e curtia seu namoro com o Lucas como ninguém. Por sorte ela estava tranquila e feliz.
-Então Júlia, acha que está abafando com esse vestido chique, e ainda por cima desfilando com o Carlos? – fui surpreendida com a Nanda cutucando meu ombro por trás. – Acha mesmo que o fato de você estar bem vestida, aparentemente bonita vai mudar quem você é?
-Qual é o seu problema Fernanda? – a olhei entediada – Não pode viver sua vida e me deixar em paz não? Eu estou aqui porque a Laura e o Lucas pediram, eu não me importo com o que você e o resto falem, nem com o que vocês façam. Só queria que me esquecesse.
-Só conseguiria se você sumisse pra sempre. – ela sorriu sarcástica – Mas tudo bem Júlia, você quis guerra. Então vai ter. Aproveite enquanto é tempo, porque ele pode ser mais curto do que você imagina.
Ela saiu e me deixou sozinha com cara de assustada. Ela me dava medo, ela era poderosa e podia fazer alguma coisa contra mim. Eu queria ir embora, aquilo não era pra mim, e eu já estava cansada dessa vida. Resolvi sair e ir para a porta, quando cheguei no jardim, aquele ar fresco me deu uma energia, sentei em um banco e resolvi esperar a raiva passar.
-Tem duas horas que estamos te procurando Júlia. – acordei assustada com a Laura gritando, eu havia deitado no banco do jardim e adormecido, acabei perdendo o controle de mim – O que aconteceu?
-Nada. – me levantei mantendo a pose – Eu estava sentindo calor, e acabei vindo pra cá, e dormi. Estou muito cansada.
-Perdeu a festa. – logo Lucas aparecia atrás dela, e em seguida o Carlos com uma cara de preocupado. – Mas ainda temos tempo para curtir, vamos lá pra dentro. Bebe essa água e vamos dançar.
-Eu quero ir pra casa. Me desculpe se atrapalhei a festa de vocês, mas é que estou mais cansada ainda. Só preciso ligar para o Roberto. – sorri pra eles que me olhavam assustados.
-Você não vai embora. – Laura segurou minha mão – Aconteceu alguma coisa para você estar assim, e eu não vou deixar. Vamos lá pra dentro e vamos dançar. E não existe recusa.
Não tive como negar, entramos, e mais uma vez os olhares voltaram para mim. Fernanda estava no meio com sua turma, e como sempre era o centro das atenções. Laura segurou minha mão e me puxou, nos conduzindo para um lugar longe deles.
Acabei me soltando aos poucos. Aquelas palavras da Fernanda estavam na minha cabeça ainda, eu nunca precisei brigar com ninguém por nada, nunca passei por esse tipo de situação. Queria estar na minha casa, com meus livros, e longe de qualquer coisa, pelo pouco que conhecia, sabia que ela estava disposta a acabar com a minha vida, e ela era capaz de qualquer coisa.
-Deixa de ficar pensativa assim. – Laura dizia impaciente – Amanhã vamos conversar direito, sobre o que está se passando. Acho que poderíamos ir pra casa agora. O Lucas vai me levar, e você poderia ir com o Carlos.
Sabia que ela queria privacidade e uns minutos a mais com o Lucas, e estava tarde para ligar para o Roberto, então preferi concordar e ter mais esse momento constrangedor.

-Eu não sei o que está acontecendo com você Júlia. – enfim Carlos disse algo, assim que parou o carro na porta da minha casa – Eu sei que você e a Fernanda conversaram algo, só não sei o que é. E sei também que é por isso que você sumiu daquele jeito. O que ela disse? Somos amigos, não tem porque você esconder.
-Carlos, ela queria saber o que eu estava fazendo ali, falou que eu nunca vou ser uma delas, mesmo que eu use roupas caras, essas coisas fúteis que a Fernanda fala. – resolvi falar de uma vez, já que estava engasgada com aquelas palavras – Mas não estava lá por causa disso. Você me conhece, sabe que eu não me importo.
-Então o que era? – ele perguntou ao sair do carro logo que eu saí – Só quero ajudar.
-Eu agradeço Carlos, de verdade. – me virei pra ele e sorri – Eu só estava cansada. Não sou de frequentar essas festas, usar essas roupas e salto. Estou exausta, parece que fui atropelada por uma carreta.
-Agora sim parece ser a Júlia que eu conheço. – ele sorriu de volta – Não deixe que aquela garota atrapalhe você de ser você.
-Pode deixar. – nos olhamos e ele me deu um abraço tímido, seguido de um beijo na bochecha – Obrigada pela carona Carlos. Boa noite.
-Até mais querida. – ele sorriu e eu fui entrando – Boa noite e durma bem.
Eu entrei e subi correndo para o meu quarto. Não entendia o que estava acontecendo, mas a sensação que eu tinha quando ele estava perto de mim era a mais incrível que eu podia ter. E o maior problema é que ele era o único cara que eu havia conhecido no Rio que não poderia me fazer sentir isso.
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